O Collor também subiu, lá pelos idos de 1986 ou 87, pra mostrar que era cabra macho e não tinha medo de levar tiro. Mas vamos falar de outro guardião da moral que foi deputado e premiado com a presidência por um conglomerado que envolve mídia e forças ocultas.
O Jair Bolsonaro também subiu no telhado algumas vezes. Deve ter subido pra soltar pipa, matar aula ou fiscalizar pintura de meio-fio antes de virar terrorista no exército. Por uma causa nobre, claro: o próprio salário. É como diz o ditado: laranja pouca, meu Kopenhagen primeiro.
Não dá pra falar de um sem falar dos outros combatentes dessa trincheira de merda. O pai soube educar os filhos pra guerra. Ensinou a dar cola quando ele fazia discurso na Câmara (porque nem o nome do Ustra, de quem ele deve ter pôster no closet do Alvorada, ele sabia falar sem que algum Zero-Algo soprasse). Ensinou a usar as redes sociais para fazer poesia quando não está espalhando mentiras. Ensinou a… Peraí, no contexto ali o verbo é treinar. Treinou os filhos pra serem sua organização criminosa.
No Código Penal (acho, meu juridiquês é pouco fluente), a Lei 12.850 considera, no §1° do Art. 1°, como organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.(Vontade de escrever “a piada é essa”.) Resta saber se essa lei ainda vale hoje, ainda mais no Brasil, um país legalmente flex.
Por falar em hoje, a necrópole do Bolsonaro tem a 40ª maior população do país. A 39ª é a de Juiz de Fora, mas vai passar. Ele é que não deve mais passar por aqui: ganhou um tíquete-hospital que usa frequentemente, graças ao Adélio (que dizem ser agente de um conluio maior, tem uns vídeos aí, é só procurar no YouTube certo).
Agente é igual vírus: não é ele que mata, mas gera as consequências para que a pessoa contaminada morra. Se a pessoa sobe no telhado por causa do vírus, precisa de um presidente pra empurrar. Tantos empurrões que chegaram à CPI.
Só que o Brasil não é para amadores. E não pode ser levado a sério, como disse Charles de Gaule. Quando a coisa começa a dar certo e deixa de ser o eterno país do futuro, puxam o tapete do futuro. Quando ele tá longe, constroem uma ponte superfaturada. Quando ele ameaça chegar, prendem a esperança e metem a faca no medo.
Foi providencial tirar o Bolsonaro das discussões públicas, o cara não sabe falar! Quando o povo zoa a Dilma por algumas frases, na maior parte das vezes falta entender o contexto. O Bolsonaro é difícil zoar, porque ele não tem contexto. Um exemplo: caguei! Pronto, tá tudo ali, toda a expressividade do presidente cabe numa palavra. Poder de síntese invejável.
Tá sintetizando a população brasileira negociando vacina (sem corrupção, claro), tá sintetizando a classe trabalhadora porque o desemprego tá recorde, tá sintetizando a educação com a proliferação do Ead (Eu aprendo depois), tá sintetizando o orgulho de ser brasileiro por tantos e tantos motivos.
Quem representou esse orgulho em outro tempo foi Ayrton Senna. Virou mito porque morreu no auge e em pleno exercício da função. Bolsonaro já esteve no auge e o paraquedas não abriu, se espatifou contra um prédio, perdeu a chance. E quanto ao pleno exercício da função… cagou. Desde sempre, o que o tornaria caso de polícia desde o exército, mas no Brasil isso se confunde. Polícia e exército também, mas o foco é polícia e política.
O desentendimento, livro de Filosofia Política do Jacques Rancière, tem o título perfeito. Política acontece na rua, na pólis, nos discursos e vai bem além de processos eleitorais (ali é publicidade, vender produto). Um estado de polícia se dá quando forças tentam se impor aos diálogos. Nem precisam ser forças de polícia literalmente, mas no Brasil o caso é claro.
Alguém já sabe quem mandou matar Marielle e Anderson? Tocou o telefone num condomínio na Barra da Tijuca onde tem casa com telhado de vidro.
Voltando à vaca fria (gado é que se mede em arrobas, senhor presidente; aprendeu?), o Bolsonaro fez cagada a vida inteira, ou não fez nada (esse é o deputado). Tem essa história no podcast Retrato Narrado, que conta até por onde veio a relação do Bolsonaro com sua cara-metade, o astrólogo Olavo de Carvalho, que está internado em São Paulo tratando (pelo SUS!) uma infecção urinária (realmente se completam).
Se o Olavo subiu no telhado para (direis) ouvir estrelas, não sabemos, mas o Bolsonaro subiu. Seja qual for o telhado ou como ele tenha chegado lá, o mais importante é que ele caia.