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Nas Olimpíadas, o pior cego é o que vê só o pódio

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, é preso pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento num esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional para a escolha dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Parece que foi ontem e, salvo lapsos de memória, as Olimpíadas, assim como as Copas do Mundo de futebol, servem também para demarcar as reminiscências, como se fossem calendários quadrienais da vida. Mais do que o clássico “o que você fazia em ano tal…” os eventos ajudam a recompor um mosaico e a delimitar a percepção individual da História.

De Munique, 1972, o que ficou foi a imagem do terrorista palestino no telhado da Vila Olímpica, minutos antes do sequestro de 11 atletas israelenses. A operação de resgate foi um desastre e morreram os 11 atletas, cinco palestinos e um policial alemão. Entre uma Olimpíada e outra, Golda Meir, a então poderosa premiê de Israel, jurou vingança e prometeu “caçar” todos os responsáveis envolvidos com a ideia do sequestro. Assim foi feito e a história está muito bem contada no filme “Munique”, do cineasta, de ascendência judaica, Steven Spielberg.

Em Montreal, 1976, o mundo conheceu a perfeição em forma de uma menina romena, Nadia Comaneci, inéditas notas 10 em três provas de ginástica. Um feito tão extraordinário que ofuscou o espetacular boicote aos Jogos de 42 nações africanas, que protestavam contra a presença da Nova Zelândia – nação amiga da África do Sul e do apartheid. Para a posteridade ficou a hipocrisia dos canadenses: o mascote dos Jogos era o castor Amik (uma homenagem aos povos indígenas do país), mas recentemente se descobriu como os canadenses tratavam os nativos, com a macabra descoberta de centenas de túmulos de crianças indígenas.

A era dos grandes boicotes continuou em 1980 e 1984. Primeiro, os países liderados pelos Estados Unidos se recusaram a ir a Moscou, por conta da invasão do Afeganistão um ano antes (e essa mistura de política e esporte custou a reeleição do democrata Jimmy Carter, que perdeu para o cowboy republicano Ronald Reagan – e isso mudou o mundo). Na cerimônia de encerramento, a ursinha Misha chorou as ausências, provando que os comunistas tinham coração embora “Moscou não acreditasse em lágrimas” (frase icônica divulgada pelo filme de Vladimir Menshov, ganhador do Oscar de 1981). Quatro anos depois, o bloco liderado pela então União Soviética devolveu a desfeita e não compareceu em Los Angeles.   

Em Seul, 1988, o canadense Ben Johnson se dopou para vencer Carl Lewis nos 100 metros, jogando por terra o ideal do Barão de Coubertin, de que o “importante é competir”.

Freddy Mercury morreu em novembro de 1991, mas sete meses depois, por uma dessas maravilhas da tecnologia, “apareceu” na abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona, cantando ao lado de Monserrat Caballé uma música composta por ele na década de 70.

O fato mais marcante de 1996 aconteceu anos antes, na escolha da sede. A Olimpíada era, por direito e consenso, de Atenas, por conta do centenário dos Jogos, mas a então ministra da cultura grega Melina Mercouri chorou a preferência por Atlanta. “A História perdeu para a coca-cola”, constatou a atriz de “Nunca aos Domingos”.

Em Sydney, 2000, o cavalo Baloubet du Rouet, montado por Rodrigo Pessoa, refugou, recusou-se a saltar os obstáculos, deixando todos perplexos: “Como pode um animal que custa milhões de dólares, tratado melhor que 80% da população brasileira se recusar a competir?” Perplexidade também com as derrotas dos atletas de vôlei de praia: “Como pode os meninos e as meninas que vivem nas praias coloridas de um país tropical, só por conta do esporte, perder para californianos e australianas?”

Em 2004, finalmente Atenas, com atraso de oito anos, o maratonista Vanderlei Cordeiro liderava a prova e caminhava para a glória quando um ex-padre irlandês atravessou a pista e o agarrou. Um grego, cidadão comum parecido com Zorba, não pensou duas vezes, também invadiu a pista e salvou o brasileiro daquele que foi o primeiro ataque com motivações religiosas que se teve notícia nos Jogos.

Em 2008, Pequim confirmou para o mundo que a China era uma contradição do sistema: política comunista e economia capitalista. Em 2012, o legado de Londres ficou evidente até no mascote, confeccionado a partir das últimas gotas de aço usadas na construção do Estádio Olímpico.

Diferente do Rio. Apenas cinco anos depois não há nenhum legado. Nada do que foi prometido para o pós-jogos foi cumprido. Nem a população ganhou os benefícios anunciados, nem os atletas do futuro tem algo que minimamente possa ser chamado de estrutura. As instalações olímpicas estão deterioradas, perdidas. Uma metáfora perfeita do que se tornou o país no último quinquênio.


Na semana, pelo Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, o Tupi conseguiu quatro pontos: vitória sobre o Aymorés (3 a 0, em casa, com três gols do iluminado Thiago) e empate com o Democrata  (1 a 1, em Sete Lagoas) – e poderia ser melhor se Esquerdinha não tivesse perdido o pênalti no segundo jogo.

O Tupynambás também venceu (2 a 1 no Guarani) e empatou (0 a 0 com o Democrata-Governador Valadares) – ambas em Juiz de Fora.