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Vacinou? Curou!

Nem o Raul, que toca em todas, é besta pra tirar onda de herói, mesmo vacinado e caubói fora da lei. Só que o resto (gado, gadinho ou gadão) tá por aí planejando festa porque tem vacina no braço. Já leu, viu ou ouviu que “protocolo é vacina no braço!” ou desdobramentos? É a mesma lógica de marcar o gado: ferro quente na bunda e pode entrar no pasto.

E o povo vai lá e faz festa! Por que não manda o dinheiro da festa pra quem precisa? Tem gente passando fome. Fome! Claro que quem faz festa não sabe o que é isso, ou não faria. Tem fila pra pegar osso no mercado e é pra dar pros filhos, não pros cachorros. Tem pacote de resto, de fragmento, de sobra de arroz vendendo no supermercado. Sabe o que é isso? Galera negando. Negaram que o pulha que tá cagando na presidência pudesse ‘cabar na presidência, negaram que a pandemia pudesse ser pandemia e negaram que a ciência estava certa e continua estando.

Ah, mas tá diminuindo, já rola uma festinha…

Tá diminuindo igual inflação no Brasil já diminuiu e agora tá quase voltando aos tempo dos fiscais do Sarney. Tá diminuindo igual temperatura no inverno e depois vem aquecimento global. Tá diminuindo igual a dificuldade pra ter informação, porque tecnologia educa. Ah, educa… A galera da festinha “tá tranquilo” deve se informar pelo digital, trocar mensagens pelo digital e marcar a festinha pelo digital. E assim muita informação corre o mundo, das científicas às data e hora da festinha íntima, só entre amigos, com garçom, segurança na porta e todo o protocolo e o isolamento social respeitados, claaaaro. Bjo, só por emoji.

(Imagina se a Anne Frank, cansada de ficar em casa, sai pra dar uma voltinha no final da manhã…)

Tem terreno que nem é pasto, mas a força desse povo é transformadora (elegeram presidente incapaz, não menospreze). Uma academia de ginástica, por exemplo: pode funcionar? Pode. Como antes? Claro que não. O mundo é cão, Sebastião, e agora vem com protocolo (de verdade) que precisa ser respeitado. Vai lá o dono, gasta uma grana pra deixar tudo compatível (ou perto) do que mandam a vigilância sanitária e a consciência cidadã, pra chegar um negacionista malhando sem máscara. Vai cuidar de que tipo de saúde na academia? Vaidade é uma merda…

Juiz de Fora tá vacinando pra caramba,  já chegou nos adolescentes tardios, mas o governo federal nunca se preocupou em educar a população pra lidar com a crise.

Botequim. Essencial? Sim! Claro! (Quero!) Mais que academia de ginástica e ainda lida com álcool, recomendação da OMS. Sentar numa mesa longe de outras, na calçada, é até mais seguro do que uma academia de ginástica. Precisa tirar a máscara pra comer ou beber, não tem jeito, mas, com tudo bem cuidado pelo estabelecimento, dá pra ir com aquela pessoa com a qual você já compartilha outros espaços. Só que a galera… Pronto, já deu pra entender. Dois é casal, três é ménage, quatro é galera. E ainda tem o agravante: quanto mais álcool, menos cuidado. No placar, a academia de ginástica até ganha.

Andar na rua é outro tipo de suicídio social. Poxa, espaço aberto, máscara pra quê!? Sabe quando cê tá andando na rua numa boa e a pessoa na sua frente solta aquela baforada de cigarro e ferra com sua inspiração? (Se respondeu não, provavelmente é fumante e segue como parte da história.) Tem gente que espirra, tosse, cospe no chão (e nem é jogador de futebol) e bobo é quem pensa que tudo some ou segue em linha reta, igual raio laser. O troço fica no ar. Pouco, mas fica. E pouco já é o suficiente, ainda mais com o formigueiro de gente amontoada nas calçadas estreitas, nas lojas que deixam entrar à vontade e nas rodas de conversa no Calçadão.

Vacina não é cura. É prevenção e depende de ação coletiva. Se fosse cura, não tinha vacina pra gripe todo ano. Tem gente que continua morrendo de gripe e de mais um tanto de outras coisas que já matavam antes. O sistema de saúde precisa se reestabelecer pra dar conta e quanto menos vacinado protocolado exibindo carteirada no lugar de máscara, mais rápido isso acontece. Juiz de Fora tá vacinando pra caramba,  já chegou nos adolescentes tardios, mas o governo federal nunca se preocupou em educar a população pra lidar com a crise.

Crise política, crise sanitária, crise econômica, crise moral, crise de identidade, porque tá foda ser brasileiro e não desistir nunca. Protocolo mesmo é voto na urna, na eletrônica. Se o Bolsonaro quer investir em papel, que seja pra livro e caderno, pra ensinar a marcar X no lugar certo (não no Eduardo Azeredo, o do mensalão) e pra discutir política com transparência, sem laranjas ou dólares em troca do resultado. Por enquanto, a única indústria de papel que segue de vento em popa é a de higiênico, que a turma da festinha “tá tranquilo” ajuda a expandir.