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E se não tiver eleição em 2022?

Se bem que ele sai da Presidência em outubro de 2022. Quem vem depois? (Foto: Oleg Magni)

O que estará em jogo nas eleições de 2022? O futuro do país.

Nem propaganda política ruim começa desse jeito, não conquista ninguém, mesmo sendo verdade. O negócio é falar de ideologia de gênero, que nem é verdade, mas o povo acredita. Entre previsões, distopias e utopias, voltemos para as perspectivas de futuro pro país.

O general Walter Braga Netto declarou, obedecendo seu capitão nessa hierarquia sólida e consistente do governo Bolsonaro, que não tem eleição em 2022 se não for em voto impresso. Deve imaginar que o voto já vem impresso e basta ao eleitor colocar na urna, como em tempos de um Brasil pra onde parece que ele quer voltar. Pode procurar isso em livros de História ou ler na história do livro O tempo e o vento, de Erico Verissimo (deguste sem moderação).

O que o Braga Netto tava fazendo, acima de tudo, era exercer seu cargo: ministro da Defesa. Tava defendendo o seu cargo, porque se tiver eleição com urna, honesta, idônea, ele corre o sério risco de perder o assento e o trocado que deve ganhar pra ajudar a família (e só ela).

Fraude, corrupção, erro e eleição de um equívoco pode ocorrer em qualquer situação, clicando Confirma, marcando X ou só dobrando o que já vem pronto. Qual a melhor forma de evitar tudo isso? Educação? Melhor ainda: educação política? Claro que não: cancelar as eleições. É igual entregar a prova em branco: não tem erro (professor é um bicho babaca: dá zero).

Sem eleição, como fica o Brasil num cenário de absoluta honestidade sucessória?

Bolsonaro e Mourão foram eleitos pra quatro anos. Se ainda estiverem no cargo quando 2022 sem eleição terminar, eles têm que sair. Sem eleição, sem presidente, certo? Errado: o presidente da Câmara dos Deputados assume, tá no artigo 80 da Constituição Federal. Pronto.

Só que o Arthur Lira (jagunço que ajuda a passar a boiada do governo) e todos os deputados foram eleitos pra quatro anos e, sem eleição em 2022, também vão voltar pra casa. Casa própria, sem auxílio moradia, assim como muitos senadores.

Só que o Senado elege seus representantes (seus = do povo, tá na lei) pra oito anos e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi eleito por Minas Gerais e assumiu em 2019. Ou seja: a falta de visão de futuro do rapaz é enorme. Ele declarou no Twitter (que é fechado, não se esforce em seguir, pode ler a matéria da Agência Senado: “Seja qual for o modelo, a realização de eleições periódicas, inclusive em 2022, não está em discussão. Isso é inegociável. Elas irão acontecer, pois são a expressão mais pura da soberania do povo. Sem elas não há democracia e o país não admite retrocessos.” Será que ele abre mão da chance de ficar quatro anos com a faixa verdeamarela atravessada?

Ponto pro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal, próximo na linha de sucessão. Se bem que ele sai da Presidência em outubro de 2022. Quem vem depois? Rosa Weber, provavelmente. É de praxe por lá, onde acontecem eleições internas, que o ministro mais antigo na Casa e que ainda não foi presidente seja votado pelos pares, e ele vota em quem viria logo depois. Assim, normalmente o vice assume.

Rodrigo Pacheco avisou aqui que não declina. Vamos fazer contas enquanto ele preside o Brasil até 2026. Pela lógica das votações do STF, se mantida, depois de Rosa Weber, que se aposenta em outubro de 2023, quem assume é o Luís Roberto Barroso e, em 2025, quem estará na Presidência do Supremo será o Luiz Edson Fachin. Dia 1° de janeiro de 2027 ele recebe a faixa e acumula as três presidências: do Supremo, da Comissão Nacional de Justiça e da República Federativa do Brasil.

Uma presidência tripla que não vai durar dois anos, mas tem até outubro antes de passar a tríplice coroa pro Alexandre de Moraes, porque as regras precisam ser respeitadas. Fachin poderá, como seus sucessores, escolher e nomear novos ministros pro Supremo quando for necessário e teríamos sempre dois anos de algum vice ciente de que assumiria a Presidência por dois anos em seguida.

Como se chama esse regime? Judiciarismo? Supremacia? De todo modo, os defensores da não-eleição teriam que dar posse a um ministro da Dilma, que cederia em menos de quatro anos pra um ministro do Temer, que também não ficaria quatro anos até termos um ministro do Bolsonaro. E nessa sequência da falta de participação popular se resgataria a integridade moral do Brasil.

Uma integridade abalada com a contestação das eleições de 2014, um impedimento à governabilidade de Dilma Rousseff e um golpe de Estado que deu a caneta prum vice de pouca competência e que se torna uma sumidade perto do sucessor. Um golpe elaborado pelas castas mais altas, pelas casas do Legislativo e endossado pelo Judiciário, porque nada fez e depois foi tratado como cachorro vira-latas até por um filho-número do presidente eleito pela urna eletrônica.

Se tudo correr conforme este script e não houver mais golpe (ou golp-twist), Edson Fachin será presidente em 2027, para tentar resgatar tanta coisa, mas tanta coisa, que talvez precise de mais do que meses. Ou de outro vice. Saudade do Itamar (que tá aqui n’O Pharol).

(A ausência de povo não será sentida porque não faz parte dos planos do governo desde 2016.)