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O país que acredita em fadas e no surfe

Aos 13 anos, Rayssa Leal fez história nos Jogos Olímpicos ao conquistar medalha de prata no skate (Foto: Gaspar Nóbrega/COB)

As Olimpíadas de Tóquio seguem seu rumo, previsível – a cada quatro anos o roteiro básico é o mesmo: heróis improváveis (como o ciclista equatoriano, o nadador tunisiano e a levantadora de peso filipina); atitudes revolucionárias (da ginasta norte-americana Simone Biles); dramas pessoais (do refugiado James Nyang); discussões políticas (afinal, o time masculino de vôlei do Brasil é bolsonarista? Se é, merece perder, têm que perder!); desleixo de supercampeãs (no caso, a japonesa com ascendência haitiana Naomi Osaka); simpatia pela seleção feminina de futebol e desdém pela masculina; choro, às vezes exagerado (como o da judoca Maria Portela); histórias de superação (da ginasta Rebeca Andrade) e, invariavelmente, o individual se sobrepondo ao coletivo.

Por aqui, na semana, além do brilhantismo de Rebeca, não se falou em outra coisa senão nas vitórias do skate e no triunfo de um e fiasco de outro no surfe.

(As companheiras Marlene, mulher, e Gláucia, irmã, implicam porque este que escreve não considera skate e surfe esportes. “É esporte sim. É como discutir se funk é arte”, diz a segunda. Cedo, em parte. Podem ser esporte, mas não tem glamour nem histórico de competição olímpica. Tanto que só entraram no rol numa tentativa desesperada, e desnecessária, do COI de rejuvenescer os jogos. Mas minha implicância tem a ver com reminiscências ligadas às duas práticas esportivas.

No tempo do Jornal dos Sports, por dever de ofício, tentei acompanhar skate. Ia para os locais observar. Meninos muitos e poucas meninas ficavam lá, sentados em suas pequenas pranchas, conversando. Vez ou outra um deles se levantava, falava algo para o colega ao lado e ia para a rampa, fazer manobras. Descia e subia a construção côncava e voltava para o grupo, para continuar a conversa.

Em tempos imemoráveis, quando tinha acesso fácil à praia, ia, final de tarde, maré alta, ver os praticantes de surfe –  jovens, meninos todos, nenhuma menina – fazer o “desafio das ondas”. Poucos conseguiam sucesso, quase todos saiam do mar esfolados, semiafogados e alguns com dentes quebrados. Coisa para quem tem coragem!)

Mas, os skatistas Kelvin Hoefler e Rayssa Leal voltaram para casa com medalhas de prata. Ela, apelidada de fadinha, é uma menina de 13 anos e perdeu o ouro para uma outra criança, também de 13 anos. Mereceu e todos torcemos muito, embora tenha sido bastante estranho estar acordado em plena madrugada de segunda-feira, querendo que outras crianças caíssem do skate para que a “nossa fada” ficasse em primeiro lugar.

No surfe, o país que passou a acreditar em fadas (até o próximo Halloween, pelo menos) se dividiu entre o espetacular triunfo de Ítalo Ferreira e o redundante fracasso de Gabriel Medina. Pode ter pouco de realidade e muito de percepção, mas são dois tipos de Brasil. O que venceu começou na tampa de isopor do pai e hoje inspira dezenas de adolescentes nordestinos, que toda manhã vão para o mar na pequena cidade de Baía Formosa, divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba.

O que perdeu inspira também o destempero verbal da esposa-patricinha-modelo-bem-nascida  Yasmin Brunet, que, sem noção, usou as redes sociais (onde mais?) para escrever o maior número de bobagens da história das Olimpíadas. Estava nervosa porque o COB não usou dinheiro público para levá-la a Tóquio.

A propósito, eis aí um esporte nacional, no qual o Brasil é imbatível: o uso de verba pública para fins particulares. E não é de agora: Fábio Faria, ministro das Comunicações do governo do genocida-golpista-prevaricador-boçal, aprendiz de Goebbels e genro de Silvio Santos, por exemplo, quando deputado, ganhou várias medalhas de ouro nesse quesito. A mais reluzente delas quando pagava com o dinheiro do contribuinte as passagens da apresentadora-modelo-namorada Adriane Galisteu para que ela o visitasse em Natal – cidade, coincidentemente, a apenas 96 quilômetros da praia onde Ítalo Ferreira aprendeu a surfar.


No sábado, pela Segunda Divisão do Campeonato Mineiro, o Tupi jogou como time de quarta divisão e perdeu para o União (0 a 2), em Santa Luzia.

Pelo mesmo torneio, o Tupynambás se beneficiou de um erro administrativo do Serranense e somou três pontos sem jogar.