Holofote

A homenagem dos vereadores de Juiz de Fora ao ex-prefeito Alberto Bejani

Bejani foi eleito por duas vezes prefeito de Juiz de Fora (Foto: Prefeitura de Juiz de Fora)

Desde a tarde do dia 16 de junho de 2008, uma segunda-feira, o ex-prefeito Alberto Bejani não tinha seu nome repetido tantas vezes no Palácio Barbosa Lima, sede da Câmara Municipal de Juiz de Fora, como no último dia 27 de setembro, também uma segunda-feira. Entre um episódio e outro se passaram 13 anos.

José do Egito, após ser vendido como escravo pelos seus irmãos aos 17 anos, esperou também os mesmos 13 anos, vivendo como escravo, mordomo e presidiário, para se tornar governador do Egito aos 30 anos. Conseguiu o mandato ao interpretar o sonho do faraó, com as sete vacas magras devorando as sete vacas gordas.

A despeito de sua inelegibilidade e não tendo mais 30 anos, Bejani, a contar pelas manifestações de 12 dos 19 vereadores, realizaria seu grande sonho de ser governador, não do Egito, mas de Minas.  Os nobres edis se revezaram (veja o vídeo ao término da matéria) em elogios por 14 minutos, com expressões como “eterno prefeito” e “orgulho de ter sido em Bejani meu primeiro voto”.

As manifestações de 2021 em nada lembram aquelas de 2008, quando Bruno Siqueira, então relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), responsável por investigar corrupção e fraudes em contratos firmados pela Prefeitura, apresentou seu relatório. No documento, disponível no site da Câmara, Bejani aparece com outras alcunhas.

De acordo com Bruno, há um “modus operandi do prefeito Alberto Bejani em lidar com a corrupção e o crime”. Em outra parte, bem mais incisiva, “o prefeito Carlos Alberto Bejani valeu-se de seu mandato para enriquecer-se indevidamente”. E ao falar do patrimônio acumulado pelo mandatário, cita ser patente a “incompatibilidade com sua renda de agente público”.

Antes do término da leitura do relatório da CPI, Bejani, que cumpria prisão preventiva na Penitenciária Nelson Hungria, havia encaminhado carta renúncia à Câmara Municipal. O parecer da CPI levado ao Ministério Público apresentava acusações contra Bejani, dois de seus secretários e dois empresários. Os processos seguem ainda hoje.

Em seu sonho, o faraó via emergir do Rio Nilo sete vacas gordas e em seguida outras sete vacas magras, que devoravam as primeiras. José interpretou como sendo uma previsão de que viriam sobre o Egito sete anos de abundância, seguidos por mais sete de seca e fome.

Em 2022, completam-se 14 anos da prisão e renúncia de Bejani, primeiro e único caso envolvendo um prefeito de Juiz de Fora. Fecha-se assim um ciclo de abundância e de seca e fome, não necessariamente nessa ordem. Não se sabe ainda como se iniciará o próximo ciclo, mas o bejanismo ressurge. E a história costuma se repetir, “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.”