“A esquerda se divide por ideias e a direita se une por interesses”. A frase do ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, ao menos em sua primeira parte, talvez seja a síntese perfeita da maior dor de cabeça no campo político da prefeita Margarida Salomão (PT) na reta final do seu primeiro ano de mandato.
A menos de um ano para as eleições de 2022, Margarida até tenta administrar a disputa por sua sucessão na Câmara dos Deputados, mas a temperatura interna no diretório local do PT só faz subir. O presidente da Câmara Municipal, Juraci Scheffer (PT), a cada dia parece dobrar a aposta pela vaga de candidato a deputado federal.
Depois de ter chamado uma audiência pública para discutir temas sensíveis da Secretaria de Saúde, o vereador retomou a carga no início dessa semana. A bola da vez foi a ausência de duas secretárias a uma audiência sobre merenda escolar. Scheffer voltou a subir o tom nas cobranças. Para ele, o não comparecimento foi desfeita pessoal.
Isso porque, no início do mês, em conversa reservada com Margarida, o vereador ouviu que sua candidatura teria precedência. Para sinalizar o apreço, ele foi autorizado a procurar os secretários e revelar seu projeto de candidatura. Scheffer deixou o prédio da Prefeitura pré-candidato a deputado federal. Seu sonho.
No caminho de volta ao Palácio Barbosa Lima, no entanto, foi informado por aliados que a secretária de Saúde, Ana Pimentel, estava se reunindo com outros secretários municipais de saúde em Belo Horizonte. Na pauta, além dos desdobramentos da pandemia da Covid-19, as eleições de 2022.
Ana Pimentel, mesmo tendo arrefecido sua presença nas redes sociais, continua sendo a principal aposta do grupo mais próximo a Margarida. Sua candidatura sinalizaria com um necessário processo de renovação das lideranças locais, além de evitar que o PT em Juiz de Fora apresente como candidatos dois homens brancos: Betão (que concorrerá à reeleição na Assembleia) e Scheffer.
Aliás, Betão e Scheffer, que juntos têm maioria na executiva municipal petista, acompanharam, na última semana, esse colegiado aprovar a convocação do diretório para definição da “tática para a eleição 2022”. Por tática entenda-se definir como candidatos únicos do PT Juiz de Fora os nomes de Betão para deputado estadual e Scheffer para deputado federal.
Se a tal tática será aprovada ou não pelo diretório, bem como se dará a atuação de Margarida nesse processo, são questões para o mês de novembro. O que a história recente do PT em Juiz de Fora ensina é que o raciocínio de candidaturas únicas não está de todo errado.
Em 2002, no embalo da onda vermelha, os companheiros juiz-foranos lançaram candidaturas únicas, como querem fazer no próximo ano. O saldo foi positivo: Gabriel dos Santos Rocha (Biel) e Paulo Delgado foram eleitos, respectivamente, como deputado estadual e federal.
Cenário totalmente inverso ocorreu em 2006, quando saíram quatro candidatos do partido por Juiz de Fora. Paulo Delgado e Kaká Guilhermino disputaram uma cadeira na Câmara dos Deputados, enquanto Biel e Flávio Cheker brigavam pela Assembleia de Minas. Nenhum deles foi eleito.
O mesmo aconteceu em 2010. Biel e Flávio Cheker insistiram, em vão, com a cadeira e deputado estadual. Já na disputa para deputado federal, Paulo Delgado seguiu no páreo, mas ganhou a companhia de Margarida. O primeiro, com sua menor votação no município para o parlamento, e a segunda, com a sua maior votação, acabaram ficando de fora.
Como havia ficado com a primeira suplência, Margarida assumiria o mandato dois anos depois, com a eleição do então deputado Gilmar Machado como prefeito de Uberlândia.
Já em 2014, Margarida conseguiu sair como candidata única do PT em Juiz de Fora e emplacou a reeleição. Por outro lado, na disputa pela Assembleia, o partido lançou Betão e o ex-vereador Wanderson Castelar. Nenhum dos dois conseguiu se eleger.
Apenas na última eleição para deputado, em 2018, dois petistas conseguiram se eleger por Juiz de Fora. Como candidatos únicos do partido no município, Margarida emplacou mais uma reeleição, e Betão fez sua estreia na Assembleia.