É da professora e pesquisadora Elita Martins, docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o melhor diagnóstico da vida das professoras e dos professores nos últimos dois anos. “O trabalho em sala de aula se fundiu com o trabalho da casa, quando passamos a trabalhar remotamente. Brinco que as alunas passaram a conhecer meus filhos porque, às vezes, no meio da minha aula chega um com o computador e fala: ‘Travou minha aula’. Aí você dá uma parada e vai correndo lá tentar ver se consegue destravar”.
De fato, a escola, de repente, entrou nas casas, tanto de professores quanto de estudantes. Salas de aula abriram-se na escrivaninha, no quarto, no escritório, no sofá, na mesa da cozinha. Sim, professora Elita, sua casa passou a ser vista por todo mundo. As casas de milhares de docentes abriram-se às necessidades de um tempo difícil. Quem tem educadores por perto sabe que não tem sido fácil. De repente, o magistério se transformou num projeto envolvendo toda a família.
Por isso, hoje, quando se comemora o Dia do Professor, O Pharol convidou familiares para revelar por meio de suas memórias afetivas como é conviver com quem tem o ofício de ensinar como profissão de fé. O resultado é um afago para a alma, com relatos de dedicação, entrega e muito aprendizado. A docência, como se verá, é mais forte que o vento. Mais ainda que o presidente. E melhor: extremamente contagiante.
Professa Marcília e professor Mateus
Meu pai e minha mãe são professores. Às vezes, isso é uma coisa muito boa. Quando vou fazer as lições de casa, eles me ajudam. Se aparece algo mais difícil, eles estão por perto e acabam facilitando as coisas. Mas, quando eles começam a cobrar demais, a pegar pesado, igual professor mesmo, aí não é bom. Mas adoro meus pais e adoro a profissão deles. Minha mãe trabalha com educação infantil, que eu acho mais legal, e meu pai é professor de história, que é mais sério.
Anita Fernandes Vilela de Almeida, 14 anos, estudante.
Professora Silvia
Venho de uma longa linhagem de professoras, mulheres que dedicam longos períodos dos seus dias e muitos anos das suas vidas a ensinar. Bisavós e avós que pegaram nas mãozinhas de crianças para que escrevessem seus nomes pela primeira vez, tias encantadas por números e palavras, primas de graus variados e que espalham pelo mundo conhecimentos igualmente diversos.
Mas vem da minha mãe meu encantamento pela docência, sem sombra de dúvida e igualmente sem romantização: o amor pelo que se faz não aplaca a sobrecarga, a desvalorização e os inúmeros desafios de ser professora. Também isso aprendi com ela, enquanto fazia dever de casa ou desenhava com meu irmão nas assembleias do Sindicato dos Professores.
De tanto me encantar, acabei tornando-me também professora. Desde quando brincava nas matrizes de mimeógrafo e de fingir datilografar “provas” à maquina de escrever, numa nítida imitação de Dona Silvia. Que alfabetizou adultos no extinto Mobral e ensinou a incontáveis gerações sobre os mares de morros do Planalto Atlântico e tantos conflitos políticos espalhados pelo mundo em suas aulas de Geografia. E que num mundo em pandemia se viu às voltas (às vezes, com raiva) das tecnologias de ensino a distância, driblando-as pela razão que, ao fim e ao cabo, sempre foi a que mais a motivou, no giz, nas telas, no fim de um dia cheio, onde fosse: o futuro de estudantes.
Júlia Pessoa é jornalista e professora.
Professoras Rita e Ana
Ao resgatar as memórias das educadoras no âmbito familiar, penso na minha mãe e na minha tia Rita. São lembranças de quando eu era criança e participava do cotidiano delas. Às vezes visitava o ambiente de trabalho delas. Era uma aventura muito divertida. O espaço escolar coletivo e diferente me proporcionava muitos encantamentos. Muitas vezes, esperava minha mãe sair do trabalho na biblioteca (amava o dicionário ilustrado do Sítio do Picapau Amarelo e ficar brincando de ligar para pessoas imaginárias no orelhão da escola). Como era a escola onde também estudava, ver tudo em outra perspectiva era diferente. Mas ficava muito quietinha aguardando ela, apenas observando tudo. Achava muito sério o ambiente da escola sem os estudantes.
Sobre minha tia, me recordo de ir com meu primo na escola onde ela trabalhava, que era em uma zona rural. A distância era grande. Andávamos na estrada de terra, pegávamos carona e, por fim, chegávamos até a escola. São lembranças que me fazem admirá-las enquanto educadoras e pessoas que amo.
Ter vivido tudo isso me faz pensar hoje na relação de ser mãe e educadora, no trabalho, no ser mulher, na importância dos professores para um ensino lúdico, divertido e possível, de mudanças e encantamentos. A educação se constrói na luta e dedicação das professoras enquanto mulheres fortes e, muitas vezes, chefes de família, de professores como atuantes na ideia de um mundo de possibilidades e resistências contra o poder conservador do estado e hierarquias sociais.
Júlia Maria é professora.
Professora Maria Lúcia
Mais do que uma mãe presente, eu tive uma professora em casa. Mais do que uma professora, eu tive uma pedagoga. Talvez por isso algumas passagens na infância não saíram mais da minha cabeça. Lembro uma vez que rabisquei a parede do quarto dela, e meu pai veio zangar comigo. Ela não só me defendeu como separou um pedaço da parede do quarto para fazer meus desenhos e minhas colagens e ainda brigou com o meu pai que ele não poderia podar a minha criatividade. Hoje trabalho muito com a minha criatividade. Minha mãe trabalhava com educação inclusiva em escola pública e, mesmo me dando a possibilidade de estudar em uma escola particular, com o próprio esforço, às vezes me levava para passar o dia na escola onde trabalhava para vivenciar a realidade do meu país, que ia além do meu ambiente escolar no centro da cidade. Mãe, pedagoga e Professora, assim mesmo, com um P maiúsculo. A minha mãe sempre me ensinou sobre Paulo Freire.
Leonardo Costa é jornalista.
Professor Rafael
Sou filho de professora. Passei minha infância dividindo a mesa com pilhas de provas e trabalhos a corrigir. Escorrem por entre os dedos os anos e cá estou eu novamente: sentado à mesa ditando as notas, agora para meu esposo, preencher os diários, me divertindo na descoberta dos nomes de gente mais raros. Rafael é professor de química (“nossa! ele deve ser inteligente mesmo!” – ouço esta frase sempre que forneço esta informação) e encara com amor o desafio de participar da formação humana dos adolescentes do Ensino Médio. Professor é do tipo de trabalho que não dá pra fechar a porta do escritório na sexta à noite, se esquecer de tudo e só voltar na segunda de ressaca. Professor vive seu ofício o tempo inteiro, pois opera a incrível missão de transformar o mundo através da educação. E isso ficou mais vivo do que nunca no caos pandêmico. Manhãs e manhãs a fio, vejo Rafael sentado na copa da casa, usando uma lousinha que emprestei, para dar aulas online que não eram obrigatórias. Vejo Rafael respondendo os alunos que mandam mensagem tarde da noite e me dizendo com serenidade: “É a chance que eu tenho de fazê-los se interessarem!”. Vejo Rafael queixoso das condições de trabalho deste fazer tão essencial quanto desprestigiado. Vejo Rafael e o admiro, e me orgulho. Me orgulho de estar ao lado de quem entendeu que “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”.
Caetano Brasil é músico.
Professora Sandra
Na minha casa tinha estêncil. Tinha a letra da minha mãe escrevendo prova no estêncil. Tinha papel laminado e papel crepom que às vezes sobravam da montagem do mural da sala de aula dela na escola — nossa primeira árvore de Natal de que me lembro, montada num galho podado do enorme pinheiro de verdade do quintal, tinha anjinhos de veste sanfonada dobrada em laminado azul.
Na pré-escola, eu era sempre uma das últimas alunas a ser buscada na hora da saída. E não porque ela se atrasasse, mas porque ficava esperando até o último pai atrasado de seu último aluno. Ela já era a Tia Sandra antes de ser minha mãe e, embora o título não seja mais esse (Paulo Freire tem um papel fundamental nisso), ainda é aquela famosa pelo medo dos alunos no início do ano contraposto à maior quantidade de presentes levados para casa por uma professora quando o 15 de outubro chega.
Mesmo na pandemia, quando a vi questionar sua capacidade pedagógica e seu valor apenas porque não dominava as novas tecnologias, houve aluno que pedisse a ela para chegar até a varanda de casa para que, lá embaixo, ele passasse de carro e lhe desse adeus. Dia desses estava me contando que nunca trabalhou com alfabetização e que não saberia fazê-lo. Como não, mãe? Você não alfabetizou a mim?
Táscia Souza é jornalista.
Professora Ana Lúcia e professor Gerson Romero
Meu pai e minha mãe são professores. Tenho muitas memórias em relação a isso. Cresci dentro das escolas, na biblioteca, esperando por eles. Sempre vivi num ambiente muito educacional. Tenho uma memória muito incrível da minha infância. Lembro de minha mãe montado provas. Na época, as provas eram montadas à mão. Você colava e depois levava para o colégio para datilografar. Lembro-me de chegar na sala de casa e ver meu pai e minha mãe preparando provas. Minha mãe era professora de português e tinha várias tirinhas da Mafalda espalhadas pela sala porque ela estava escolhendo uma para colocar na prova. Ficava ali recortando e colando. Essa é uma memória muito viva ainda. Acredito que isso que me aproximou muito da literatura. A vivência com meus pais professores.
Laura Conceição é rapper.
Professora Deborah e professor João Batista
É muito gratificante morar com pessoas que podem, a todo momento, enriquecer o meu conhecimento. Já me peguei diversas vezes perguntando aos meus pais coisas relacionadas às suas disciplinas. Minha mãe, uma artista nata, e meu pai, um filósofo incansável, são exemplos de vida pra mim. Nosso cotidiano é marcado pelo conhecimento, pelas trocas e pelos debates constantes sobre o mundo. No geral, me orgulho dos meus pais e da família que construímos a cada dia.
Sarah Lima Machado, 17 anos, é estudante.
Tia Mônica
Eu via na fala dos outros o amor que minha tia sempre teve pela profissão. Desde que tenho memória, a tia Mônica ia trabalhar no Saci, e a gente sempre ouvia dela, nos encontros de família, as histórias das salas de aula, os momentos divertidos e os mais desafiadores também. Nunca tive dúvida de que ela amava o que fazia. E, certamente, este amor plantou sementes nas vidas de milhares de famílias, que foram orientadas com o olhar atento, cuidadoso e moderno que ela via a educação. – Você é sobrinha da tia Mônica? As pessoas perguntavam. E eu sempre respondia orgulhosa que sim, pois sabia que vinha coisa boa!!! – Nossa, eu amo a tia Mônica!
A tia Mônica tem doce, com certeza. E também tem diversão. Nunca rolou um encontro de família que não tivesse uma de suas tiradas espirituosas ou uma dose da sua corriqueira irreverência que não arrancasse boas gargalhadas da família toda.
Gabriela Gervason é jornalista.
Professora Edinorah
Me lembro no fim da infância e início da adolescência de adorar ir com minha mãe para escola em que ela dava aulas de português. Lá, me encantavam os olhares de respeito e admiração dos alunos e colegas para ela. Já teve até ex-aluna que virou afilhada. E, ainda hoje, mais de 20 anos depois da aposentadoria, por onde vamos encontramos alguém que já foi aluno dela. E, o melhor, são sempre os mesmos olhares de admiração. Como é bom saber que ela faz parte da vida de tanta gente e ainda é vista e lembrada com admiração e gratidão, não só por mim, mas por muitos ex-alunos espalhados por aí… E, hoje, tenho orgulho de dizer que também sou professora e espero conseguir ter dos meus alunos o mesmo que minha mãe passou a vida toda.
Juliana Duarte é jornalista e professora.
Professora Vanilda
Minha mãe é professora desde que me entendo por gente. Quando eu era mais novinha, lembro de ajudá-la a copiar as atividades dos alunos usando o mimeógrafo. O cheiro de álcool era quase nada perto das letras meio roxas que saiam no papel. Nossa casa era bem ao lado da escola e não raramente a casa e o trabalho se confundiam. Quando mais tarde ela assumiu a direção do grupo escolar, eu passava as férias também na escola, ajudando em pequenas tarefas e atendendo o telefone. Nossa vida era a escola e a comunidade ao redor dela. Cresci com a tia Vanilda, minha mãe, mas também com a tia Mirinha e a tia Marília, minhas vizinhas e professoras. Todas elas vibraram quando eu fui aprovada na faculdade e acompanharam cada passo meu, mesmo longe de casa. Já mais velha, voltei pra casa e vi minha mãe se desdobrando em uma nova tia Vanilda para atender à nova modalidade escolar. O início do ensino remoto foi difícil, mas com muita criatividade e esforço, minha mãe conseguiu se adaptar. De perto, pude ensiná-la a gravar vídeos e mandar mensagens com gifs e figurinhas no Whatsapp para manter o contato com as crianças. E depois ela aprendeu também a fazer reuniões de vídeo com as colegas. Aos poucos ela passou a não precisar de ajuda mais. Se vira sozinha e continua fazendo seu trabalho, com toda a dedicação e carinho do mundo, como tem feito há mais de 20 anos de profissão.
Bianca Colvara é jornalista.
Professora Adriana
Sobre a cama, muitas folhas de papel. Era pequeno quando peguei uma das folhas e comecei a leitura, ainda dificultada pela alfabetização em curso. “Caía a tarde feito um viaduto,/ E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos”… Era uma prova, explicava-me minha tia Adriana, que escolhera a composição de Aldir Blanc e João Bosco para avaliar o aprendizado de seus alunos. A ocasião foi o bastante para que ela tentasse me explicar a canção, a ditadura e as questões sobre a língua portuguesa. Também serviu para que me apresentasse Elis Regina cantando aqueles versos.
O convívio com minha tia-professora me colocou em contato com a cultura e me abriu as portas para o sensível do mundo. Professora dedicada, minha tia também foi uma aluna igualmente comprometida, sempre às voltas com as leituras e com os bombons (ainda guardo o sabor) que vendia nos corredores da faculdade. Era preciso resiliência já naquele momento. Dela herdei não apenas os bons e volumosos xerox de teoria da literatura, mas um desmedido respeito e uma encantada admiração pelo ofício. Além, é claro, da certeza de que só a educação transforma. Hoje retorno às salas de aula para me tornar o mesmo que ela. A isso damos o nome de inspiração!
Mauro Morais é jornalista.
Professora Vera
O primeiro trabalho da mamãe foi aos 19 anos como professora de francês, no antigo Colégio Mater Dei, em Juiz de Fora. Hoje, ela tem 73 anos, continua a lecionar e diz que quer morrer dando aulas. O que mais me recordo de bom é dela dizendo o quanto ama estar em sala de aula e que, se o tempo voltasse, ela faria tudo de novo. Ela fala isso desde que me entendo por gente.
Nosso lar sempre foi cercado por livros e muito conhecimento sobre História e Geografia. Crescemos ouvindo mamãe falar francês dentro de casa. O meu gosto pela leitura vem dela, e eu transferi isso para minha filha de 13 anos, que é uma leitora voraz.
O mais engraçado é que a mamãe falava para minha irmã estudar e ser professora, e ela dizia “jamais”. Hoje, a Karina não só é professora, como carrega a mesma paixão pela docência. As duas são meu grande exemplo de amor e realização profissional.
Érika Winter é jornalista e advogada.
Professora Margareth
Minha mãe é professora de psicologia. Desde quando eu era muito pequena, ela trabalhava no período noturno e, por isso, muitas vezes, não podia me dar um beijo de boa noite. Lembro-me direitinho de quando minha mãe fez para mim um edredom. Como ela é muito boa desenhista, desenhou no edredom todinho e escreveu uma música que cantava para mim antes de dormir. E, quando ela não estava lá, pelo menos eu tinha o edredom. E tinha os alunos da minha mãe. Como ela tinha muitos alunos, quando a gente estava no centro da cidade, a cada cinco minutos ela parava com alguém para conversar. Lembro-me de perguntar para ela: “Mãe, por que você não se candidata a prefeita? Você conhece Juiz de Fora inteira.” Ela tinha mais de 200 alunos por ano. Mas ela não conhecia só o seus alunos, conhecia também os pais dos seus alunos. Ela trabalhava ainda na Secretaria Municipal de Educação. Era muita gente. Então, eu imaginava que essa qualidade de professora poderia fazê-la até prefeita. Outra vez, estava fazendo aulas de teatro na mesma escola em que minha mãe lecionava psicologia. Às vezes, quando eu saia da aula, ficava esperando minha mãe para a gente poder ir para casa juntas. Lembro-me que sempre havia uns alunos alunos dela que ficavam conversando comigo. Eu tinha oito ou nove anos e era divertido. Só que achava serem alunos de outros períodos, que estavam no horário de intervalo, mas um dia minha mãe apareceu e, na verdade, aqueles alunos estavam ali fora conversando comigo para “matar” aula da minha mãe.
Ter uma mãe professora certamente influenciou minha infância. Ainda hoje tem grande impacto até porque tenho muitos amigos que foram alunos da minha mãe e começamos a amizade porque foram alunos da minha mãe. É bom saber que minha mãe é muito amada e muito admirada por outras pessoas. Isso, sem dúvida, se deve ao fato de ela ser uma ótima mãe e uma excelente professora.
Luísa Moreira é jornalista.
Professora Valéria
Aprendi a ser professor com professores. Da licenciatura, claro, mas antes disso, da família. Esse negócio de chamar professora de tia sempre foi rotina em casa, porque eram mesmo muitas as tias professoras. E chamar de mãe, um privilégio. Dizem as irmãs dela que minha mãe tinha pilhas de livros na mesa de cabeceira já na infância. Em casa, sempre foi didática, tranquila (mesmo em momentos de tensão) e o primeiro palavrão que ouvimos dela, meu irmão e eu, já estávamos na faculdade (até hoje repetimos quando queremos irritá-la, porque não veio outro). Sempre fui dormir com ela corrigindo trabalho, preparando aula e a televisão ligada em filmes. Quando via os filmes com ela ia embora antes e ela ficava lendo alguma coisa a mais. E até me deu aula duas vezes oficialmente (professor tem talento, vocação e também precisa receber pelo que faz, como todo profissional): na faculdade puxei uma disciplina dela, mas no colégio, quando uma outra professora atrasou, ela achou um absurdo e entrou na sala da minha turma e em três minutos já estava com a turma na mão (em mais dois a outra chegou, mas não marcou presença). Agora, mais de vinte anos depois de aposentada, se perceber um atraso de outro professor, é capaz de entrar numa sala de aula e improvisar como se aquele espaço fosse sua casa. É assim sempre, no talento e na elegância.
Gustavo Burla é professor.
Professora Meg
Falar da Meg como professora é falar sobre dom, vocação, amor e paixão. Quem conhece a professora Meg sabe exatamente que são essas qualidades que ela transmite com maestria ao entrar em sala de aula. Tive o prazer de ter sido aluna da Meg, recentemente batizada de “profMeg” e anos depois colega de profissão. Acredito que há pessoas que se tornam professores, outros nascem professores. Meg nasceu professora.
Bruna Mendes é professora.
Professora Fernanda
A profissão da minha mãe está presente na minha vida desde antes de ser a profissão dela. Isso porque quando cursava pedagogia ela sempre me levava para as aulas e eu ficava lá, sentada ao lado dela, observando as coisas. Quando o tempo se passou, eu continuei indo, mas dessa vez indo para a sala de aula dela. Me recordo da sensação de ser gente grande ajudando ela a entregar os trabalhinhos para os seus alunos. Lembro que o meu sonho era que minha mãe fosse minha professora, sempre achei que seria muito mais legal.
Maria Clara é analista de sistemas.
Professora Bia e professor Bitarello
Tive duas experiências diversas e complementares com mãe, pai e madrasta como professores. Minha mãe foi professora universitária e estava sempre “trabalhando”, embora muitas das vezes em casa, pois a carga horária de sala de aula da universidade não é como a das escolas, onde meu pai dava aulas, tanto na rede privada, em cursinho, como em escolas públicas estaduais e municipais. Meu pai dava milhões de horas aula por semana, no centro, na quebrada, na zona rural. Tinha dezenas de alunos simultaneamente e não ficava muito em casa. Ainda tinha o trabalho no sindicato e na política. Já minha mãe estava sempre envolvida com as inúmeras pesquisas acadêmicas que conduziu ao longo de décadas de serviço público na UFJF e no exterior, mas passava muito mais tempo em casa e sempre teve um horário mais flexível e mutante. Minha madastra também foi professora do infantil até se aposentar do magistério, militante do sindicato e da política, e hoje trabalha no legislativo da cidade. Agora minha irmã também é professora universitária e eu já trabalhei também no ensino, embora não possa chamá-lo de meu ofício principal. Digamos que minha família é de educadores. Cresci no meio dos professores amigos de meus pais, dos colegas da universidade e do sindicato. Sempre fui identificada pelos professores que me deram aula como “a filha do Bitarello ou a filha da Bia”.
Vi os alunos deles com os olhares de criança, todos mais velhos que eu. Depois passaram a ser meus contemporâneos. Até que hoje poderiam ser meus filhos. Minha mãe, sobretudo, sempre teve seus orientandos frequentando nossa casa. Cresci vendo essas discussões e orientações dentro de casa. E com meu pai lembro sempre de ex-alunos seus que o reconheciam na rua. Gente já crescida, gente agradecida.
Tenho um orgulho imenso da integridade de meus pais – todos eles, pois tenho quatro no total. Não poderia ter recebido uma formação humana, política e cultural melhor do que a que tive no contexto da minha vida.
Maria Bitarello é jornalista.