Holofote

Os votos da Margarida

Margarida comemora vitória para Prefeitura de Juiz de Fora, abrindo caminho para disputa por seu patrimônio eleitoral (Foto: Leonardo Costa)

Nas eleições de 2018, Margarida Salomão (PT) ficou com a oitava vaga das 12 conquistadas pela coligação “Juntos com o povo” (PT, PR, PSB, DC e PCdoB).  A então deputada, que buscava a reeleição, obteve 87.891 votos, sendo 47.172 apenas em Juiz de Fora. Com sua eleição para prefeita em 2020, rapidamente seu patrimônio eleitoral parlamentar se tornou motivo de litígio dentro e fora do PT.

Com o “efeito Dubai” impedindo qualquer tipo de reação da candidatura de Wilson da Rezato (PSB) no segundo turno, a vitória iminente de Margarida levou um batalhão de deputados e futuros candidatos a se mexerem. Os primeiros alvos foram prefeitos e lideranças municipais da base da petista na Zona da Mata.

Nesse caso, as investidas mais profícuas foram dos deputados federais Patrus Ananias (PT) e Reginaldo Lopes (PT). O ex-deputado Luiz Fernando Faria (PP), que vai tentar voltar à Câmara dos Deputados, também obteve algum êxito.

A Democracia Socialista (DS), tendência interna do PT da qual Margarida faz parte, também se movimentou para tentar manter o legado eleitoral. Pela proximidade com as bases do mandato, a atual secretária de Governo, Cidinha Louzada, chegou a ter o nome cogitado, mas houve resistência.

A aposta então se voltou para Ana Pimentel, professora do curso de medicina da Universidade Federal de São João Del Rei. Ligada ao Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, ela foi convidada e aceitou o desafio de assumir a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora em meio à maior crise sanitária do país.

 Além da visibilidade da pasta, a interlocução com as demais secretarias municipais de saúde se tornou outro trunfo. Nesse sentido, se justifica até a certa proximidade com os ex-secretários de Saúde de Minas, Marcus Pestana (PSDB) e Antônio Jorge (Cidadania).

O que ninguém, dentro e fora do PT, esperava, no entanto, era a disposição e a movimentação de Juraci Scheffer (PT). Reeleito vereador, ele acabou se valendo da divisão interna da Câmara Municipal, herdada da última legislatura, para conquistar a Presidência da Casa.

Daí até entrar na disputa pelos votos de Margarida, de quem foi assessor parlamentar, foi questão de tempo. Interlocutores da Prefeitura chegaram a oferecer algum apoio numa eventual disputa pela Assembleia, mas a turma do deputado estadual Betão (PT) já havia antecipado o antídoto.

Sem sinais de desistência de nenhum dos lados, Ana Pimentel e Juraci, cada um ao seu modo, iniciaram 2021 com suas estratégias à mão. Ana Pimentel tomou para si a campanha de vacinação contra a covid-19, com anúncios, postagens e aparições diárias em suas redes sociais.

Juraci aproveitou uma recomendação do Ministério Público para readequação do número de servidores em cargos comissionados e propôs uma reforma administrativa na Casa. Paralelamente, iniciou uma interlocução com as câmaras municipais da região. Também tem tentado reestreitar laços dos tempos de assessor parlamentar.

Mas bastou o calendário eleitoral marcar um ano para as eleições de 2022 para a temperatura subir. Com parte da base governista arredia e já com a noção exata do peso da Câmara na política municipal, Juraci começou a emitir sinais para o Executivo de que quer uma definição de apoio.

No início do mês, fora do período de reuniões, convocou audiência pública para tratar de questões para lá de sensíveis da Secretaria de Saúde. Na pauta, a desmobilização de leitos e a interminável fila para cirurgias eletivas. Ana Pimentel compareceu e respondeu aos questionamentos. Mas não postou nada nas redes sociais.

O recado ecoou na Prefeitura. Em conversa com dirigentes petistas na mesma semana, Margarida sinalizou entender a precedência de Juraci. Ao mesmo tempo, conforme levantamento feito por O Pharol, a atividade de Ana Pimentel nas redes sociais começou a perder fôlego.

Mas a peleja ainda está longe de um desfecho. O grupo interno de Margarida no PT, muitos da DS, não vê com bons olhos a gestão da primeira mulher à frente do Executivo apresentar como candidatos nas eleições parlamentares dois homens brancos: Juraci e Betão.

Entre os receios, talvez o mais justificável seja o risco de se abrir uma janela para outros partidos de esquerda, notadamente o PSOL, ocuparem o espaço. Com uma vereadora eleita – Tallia Sobral -, o PSOL esteve na disputa majoritária de 2020 com a professora Lorene Figueiredo. Ela, aliás, foi convidada por Margarida para assumir a Secretaria de Educação, mas declinou do convite.