Colunas

Dez anos dos confins de uma glória

Tupi no primeiro jogo da final contra o Santa Cruz em Juiz de Fora (Foto: Felipe Couri)

Em uma segunda-feira de julho de 2011 o Tupi iniciou uma jornada que desaguaria, quatro meses depois e há exatos dez anos, nos confins da glória: o título de campeão brasileiro de futebol. Naquele dia, em Itumbiara, Goiás, o Galo começou perdendo. No segundo tempo fez três gols e venceu. O melhor jogador em campo foi o meio-campista Augusto, autor de um golaço. Mas, ao final da partida, se alguém o procurasse para falar do assunto teria dúvidas se tinha achado a pessoa certa: banho tomado, encostado no ônibus do clube, esperando os companheiros para o regresso ao hotel, no escuro, estava solitário e melancólico. Totalmente diferente do que se poderia esperar de quem havia sido o principal responsável por uma vitória bastante importante. Pensou-se em algum problema pessoal ou uma notícia ruim recebida inesperadamente, mas não. O próprio Augusto esclareceu: “Estou bem. É que uma estreia é algo tão tenso, tão esperado, que quando acaba sente-se mais alívio que alegria”.

Mas, não era só isso, o peso da estreia. Em meados de novembro, Augusto estava de novo triste e solitário – só que dessa vez no suporte das arquibancadas de concreto que ainda existiam no Estádio Salles de Oliveira, em Santa Terezinha. Era um sábado e ele havia sido avisado pelo técnico que não jogaria a primeira partida da final, contra o Santa Cruz, no dia seguinte. Não achou justo. Augusto era um dos principais jogadores do elenco, atuando ora como meio-campista, ora como lateral-esquerdo. Na primeira partida da semifinal (contra o Oeste, em Itápolis) tinha feito outro belo gol e estava certo que nada o tiraria do time.

Tudo, no entanto, acabou bem. Ele foi escalado novamente, na lateral-esquerda, na grande decisão, em Recife. E o Tupi foi campeão, com a vitória por 2 a 0, em um Estádio, o Arruda, que tinha (tem) um aspecto de arena romana, com aqueles rebocos externos se soltando e aquele “puxadinho” nas arquibancadas duras e secas.

Foi um grande campeonato, com jogos tão importantes quanto o disputado em Pernambuco, como a virada épica contra o Volta Redonda (4 a 2, com três gols marcados em apenas dez minutos) e as batalhas contra o Anapolina (4 a 1 e 2 a 2, com cinco gols de Ademilson). No entanto, as atitudes e as agruras de Augusto em dois momentos do torneio revelaram a essência do que é o Tupi: sempre controlar a euforia e sempre duvidar do dia seguinte. 

Esses dez anos pós-título de campeão brasileiro foram os melhores da história do Tupi. Certo que em 2012, ano do centenário, o Galo caiu para a série D, mas voltou rapidinho. E desde então os carijós nunca fomos tão felizes. Campanhas espetaculares na Série C, decisões memoráveis (contra Paysandu e Fortaleza), excelentes participações no Mineiro (com títulos de Campeão do Interior, 2012 e 2018 – este último após uma goleada de 7 a 1, no Democrata-GV) e o máximo possível: o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro, após duas vitórias contra o ASA de Alagoas.

Sim, embora 90% dos juiz-foranos não saibam, o Tupi esteve recentemente na Série B, divisão frequentada com assiduidade por Vasco e Botafogo, e agora Cruzeiro. Mas foi como apenas um sonho de mil e poucas pessoas – com o restante da população nos acordando a todo o momento. As glórias esportivas dos times daqui são efêmeras porque Juiz de Fora nunca foi uma cidade bairrista. A grande maioria acredita que o Rio Paraibuna não é mais importante que o córrego Maracanã – o riacho que, dizem, circunda o estádio do Rio de Janeiro, e para onde convergem os corações e mentes dos juiz-foranos.

Para não dizer que não falei de flores, as estórias daquela campanha vitoriosa, publicadas no site do Tupi FC há exatos dez anos:

1 – A quase aposentadoria do ídolo

O ídolo Adê (Foto: Felipe Couri)

Capitão do time campeão da Taça Minas, em 2008, Ademilson já era o atual ídolo maior da torcida Carijó, antes da Série D começar. Estava no Uberlândia e foi contactado, sobre a possibilidade de voltar ao Galo. Aceitou prontamente, conversou com os dirigentes do clube do Triângulo Mineiro, conseguiu a liberação e rumou para Juiz de Fora. Chegou a Santa Terezinha às 14h05 e exatos 12 minutos depois já estava treinando.

Porém, antes de se consagrar definitivamente, marcando oito gols no campeonato – seis deles na Anapolina – Ademilson viveu vários pequenos dramas.

Às vésperas da estreia, contra o Itumbiara (GO), em julho, ele sentiu a coxa e passou a ser dúvida, não só para o jogo mas até mesmo para boa parte do campeonato. Porém, ele não admitia essa possibilidade e seguiu, junto com a delegação, de ônibus, para o interior goiano – dizendo a todos que “jogaria, que nada o tiraria da estreia”.

No entanto, o problema era realmente sério e as dores persistiam. No final da tarde do dia do jogo (marcado para as 20h30), ainda no hotel, Ademilson foi ao quarto do treinador Ricardo Drubscky, relatou seu quadro clínico e disse que, apesar disso, estava à disposição. O técnico tentou demove-lo da ideia de jogar, que não valeria a pena o risco etc. Ademilson aparentemente aceitou os argumentos, mas pediu uma última chance: um teste no vestiário. Não foi aprovado e ficou fora da estréia e do jogo seguinte, contra o Tocantinópolis, em Juiz de Fora.

O craque estreou no terceiro jogo do torneio, contra o Gama, em Gama (DF) e atuou normalmente em todas as outras partidas da primeira fase.

No último destes confrontos, contudo, contra o Itumbiara, em casa, o atacante sofreu uma pancada no joelho direito, e os exames mostram que houve um estiramento colateral medial e uma distensão no ligamento poplíteo. A “sentença” do médico do clube, Roberto Maranhas, foi terrível: “Ademilson para por quatro semanas” – e isso na quinta-feira da semana do primeiro mata-mata, contra o Volta Redonda (RJ).

Ademilson recebeu a previsão com relativa tranqüilidade, respeitou a posição do Departamento Médico do Clube mas declarou ao site do Galo: “O local atingido no jogo contra o Itumbiara está dolorido, e edemas apareceram no exame, mas nem de longe penso em ficar tanto tempo fora”. Em off, resmungou: “Pô, o Maranhas está querendo me aposentar”.

Ademilson não se aposentou, marcou três gols na vitória sobre a Anapolina (4 x 1), outros dois no empate (2 a 2) contra o mesmo time goiano e mais um no Oeste – e, aos 37 anos, tem contrato com o Galo para a disputa do campeonato Mineiro de 2012, que começa em janeiro.

 2 – O filósofo

Luciano Ratinho deu liberdade aos mais jovens (Foto: Felipe Couri)

Não há no elenco Carijó campeão brasileiro nenhum jogador realmente folclórico. O que mais chega perto disso é o atacante Cassiano (capaz de frases como “o mais importante é manter as pernas no chão” ou “o motorista do avião é muito bom”), mas o grande filósofo é sem dúvida o meia Luciano Ratinho. Ele tratava os mais jovens (todos, com exceção de Ademilson e Allan) como “juvenis” e, quando esses “juvenis” lhe “enchiam o saco”, saia com essa: “É, tenho que voltar a dar balas e brinquedos para os meninos. Dei liberdade e o resultado não foi bom”

3 – O cinéfilo

Creso Heleno era o enfermeiro da equipe (Foto: Leonardo Costa)

O enfermeiro Creso Heleno é um excelente profissional e um ótimo companheiro de viagem, mas há uma unanimidade em Santa Terezinha: se ele abrisse uma locadora de filmes já teria ido à falência. Responsável pela escolha dos filmes exibidos durante as viagens de ônibus, a tarefa se revelou um desastre absoluto, já que as obras exibidas eram de qualidade para lá de duvidosa. Uma única exceção foi “O Homem que Desafiou o Diabo”, visto com bastante interesse. O filme realmente é bom, mas desconfia-se que o sucesso deveu-se basicamente às boas “atuações” de Flávia Alessandra e Fernanda Paes Lemos.

4 – Os apelidos

Boró comemorou o título (Foto: Felipe Couri)

O elenco campeão brasileiro da Série D tem Marquinhos, Nando, Neguete e Vitinho, mas tem também Adê, Baiano, Branquelo, Buiú, Caiero, Cara de Cachorro, Cara de Pato, Gago, Neguinho, Rato, Silvão e Taxista. Sem contar, fora das quatro linhas, Bomba, Boró e Pitti – Creso é nome mesmo.

5 – Não basta ser pai …

Assis: pai é pai (Foto: Leonardo Costa)

Aeroporto de Brasília, por volta das 21h, retorno de Gama (após o empate com o time local, 1 a 1) e ao celular o volante Assis fala num tom de voz perceptível a todos que estão ao redor: “Atirei o pau no gato… mas o gato não morreu… dona Chica admirou do berro que o gato deu”. Ao lado, o também volante Denilson (companheiro de quarto de Assis nas concentrações) explica a cena insólita: “Ele está cantando para o filho dormir. Toda noite é isso”.

6 – Quase dupla expulsão

Wesley Ladeira quase conseguiu a proeza de ser expulso duas vezes no mesmo jogo (Foto; Felipe Couri)

Aos 30 minutos do segundo tempo do jogo Tupi x Gama, em Juiz de Fora, partida difícil e empatada, o zagueiro Wesley Ladeira é expulso de campo, por uma entrada por trás no atacante adversário. O jogo continua, nervoso, e aos 47 minutos, Chrys faz o gol salvador e corre para comemorar. O primeiro abraço que ele recebe, quase dentro do campo, é de ….Wesley Ladeira, que ainda estava por ali, de uniforme. O árbitro acha aquilo bastante esquisito e puxa as suas anotações para se certificar de que o jogador “intruso” era mesmo o que ele expulsou. Experiente, o funcionário do Clube Júlio Vieira percebe a intenção do árbitro, agarra Wesley Ladeira e praticamente o carrega a força e o esconde no vestiário. O árbitro, então, desistiu de procurar o infrator.

7 – É doce morrer no ônibus

Walker Moreira não sabia nadar (Foto: Leonardo Costa)

A viagem da delegação Carijó para Tocantinópolis (TO) incluiu escalas no Rio de Janeiro (RJ) e em Imperatriz (MA), antes de um trecho de balsa sobre o Rio Tocantins. Quando isto aconteceu, os jogadores e a comissão técnica desceram do ônibus e foram admirar o Rio – segundo disseram alguns infestado de piranhas – e a paisagem. Só o preparador de goleiros, Walker Moreira ficou no veículo. “Tenho medo e não sei nadar. Se a balsa afundar prefiro morrer dentro do ônibus”, justificou.

8 – Drubscky, o sincero

Ricardo Drubscky manteve a palavra (Foto: Felipe Couri)

Durante todo o campeonato, o Tupi só teve problemas sérios com arbitragem no jogo em que perdeu para o Tocantinópolis (0 x 3, em Tocantins). Mas foram tantos que o treinador Ricardo Drubscky, um gentleman, perdeu a paciência com o auxiliar e, no final do jogo, chegou para ele e disse: “Você não tem família, é venal”. O árbitro colocou as ofensas na súmula. No retorno para Juiz de Fora, o departamento de imprensa do clube, inadvertidamente mas preocupado com uma punição severa ao treinador, sugeriu que ele negasse o teor do xingamento ou que trocasse “venal” por algo como “sem vergonha”. A contragosto Drubscky concordou mas ao primeiro “aperto” de um repórter, entregou: “Quer saber mesmo, falei mesmo que ele era venal”.

9 – Aprendiz de dançarino

Marquinhos dançava “daquele jeito” (Foto: Leonardo Costa)

Jogo decisivo da primeira fase, contra o Itumbiara e Luciano Ratinho faz o gol da vitória e da classificação. Nas comemorações, o lateral-direito Marquinhos se posta ao seu lado e começam os dois uma dança bastante esquisita (com a mão no nariz, estilo “Claudinho & Bochecha”). Ninguém entendeu nada. A situação ficou pior ainda em Itápolis (SP). Marquinhos faz o terceiro gol e, ao lado de Luciano, começa uma dança bastante esquisita (estilo meio funk meio rock) e ninguém entendeu nada. A explicação só veio dentro do ônibus, no retorno a Juiz de Fora, quando Luciano Ratinho, falando ao telefone com o filho Guilherme, diz: “O Marquinhos fez um gol e dançou daquele jeito”. Estava explicado: o lateral aprendeu a dançar daquele jeito com um menino de seis anos.

10 – Os desconfiados

O goleiro Douglas Borges desconfiado (Foto: Felipe Couri)

Sob inspiração do técnico Ricardo Drubscky, o Departamento de Imprensa do Clube produziu um vídeo motivacional para ser exibido aos jogadores na véspera de Tupi x Volta Redonda (jogo de volta). O filme continha basicamente depoimentos de parentes dos atletas: as esposas de Luciano Ratinho, Augusto e Sílvio gravaram no hotel; a de Marcel, grávida, em casa; as namoradas de Michel e Vitinho em seus locais de trabalho, e a mãe de Adalberto recebeu a equipe também na sua casa; a esposa de Allan foi a Santa Terezinha, assim como os pais de Wesley Ladeira, que se deslocaram de Piraúba (MG); As esposas de Henrique e Felipe Cordeiro gravaram por telefone, respectivamente, da Bahia e da Paraíba; as de Jefferson e Chrys direto do Rio de Janeiro, assim como os pais de Rodrigo; o pai de Douglas Borges falou direto de Franca (SP), a mãe de Denilson, de Viçosa (MG), a de Cassiano, de Cataguases (MG), a de Marquinhos, de Curitiba (PR); e a mãe e a irmã de Assis mandaram um vídeo, via internet, de Assis (SP).

Só que, para montar todo esse painel, era preciso conseguir os telefones dos parentes, e esses dados foram pedidos aos jogadores com a desculpa bastante esfarrapada de que “era necessário montar um arquivo”. Os atletas ficaram, compreensivamente, um pouco chateados com essa intromissão em assuntos particulares, mas cederam. E pensaram algumas coisas indevidas, como bem definiu o goleiro Douglas Borges: “Pô, eles não confiam na gente” (o Galo tinha perdido o primeiro jogo, em Volta Redonda), “já estão preparando a rescisão do contrato”.

11 – Homem não chora

Chora, Adê (Foto: Leonardo Costa)

O vídeo ganhou um tom bastante emocional e foi exibido pouco antes da subida para o Estádio Radialista Mário Helênio. O que mais se viu foi marmanjos escondendo o rosto na camisa e com os olhos cheios d’água. Ninguém admitiu, é claro, afinal “homem não chora”.

12 – Dennis, o matador do time de Juniores

Dennis, o caçula do elenco (Foto: Leonardo Costa)

Dennis, o caçula do elenco, jogou algumas partidas como titular e marcou um gol muito importante (o do desempate, contra a Anapolina – 3 a 1 Galo). Porém, no decorrer do campeonato foi “emprestado” ao time de Juniores do Tupi que disputava o Hexagonal Final do Campeonato Mineiro da categoria. Nas viagens, nas concentrações, as perguntas dos demais jogadores, antes mesmo de resultados da Série D, eram as mesmas: Quanto ficou o Galinho? O Dennis fez gol? A resposta a primeira questão era variável, mas a segunda pergunta tinha quase sempre a mesma resposta: sim. Dennis balançou as redes adversárias em quatro das cinco partidas que jogou pelo time de Juniores.

13 – O rato e o gato

Luciano: rato ou gato? (Foto: Felipe Couri)

Intervalo do jogo-treino contra o Cruzeiro, na Toca da Raposa, em Belo Horizonte, e Luciano Ratinho faz questão de cumprimentar o ex-goleiro Raul Plasmann, que foi seu técnico no Juventude (RS), no início da década passada. Terminados os abraços, reiniciada a partida, Raul pergunta à assessoria de imprensa do Tupi:

– Quantos anos o Luciano tem?

– Por coincidência, está fazendo 32 hoje – foi a resposta

Raul pensou um pouco e decretou:

– É, faz tanto tempo que fui técnico do Juventude que acho que o Luciano não é Rato e sim “gato” (gíria no futebol que denomina aquele jogador que esconde a idade).

14 – Árbitro conhecido, craque nem tanto

A catimba de Allan e o puxão de orelha de Abade (Foto: Leonardo Costa)

Primeira partida contra a Anapolina, fase de mata-mata, árbitro de primeira linha, de Série A: Cleber Wellington Abade. Tupi na frente do placar, e o atacante Allan catimbando, cavando faltas, fazendo cera, reclamando da arbitragem, irritando os adversários. Abade, da FIFA, perde a paciência com o Carijó e o adverte severamente: “Eu te conheço! Eu te conheço! Está tumultuando o jogo, eu te conheço, está querendo aparecer. Eu te conheço. Está fazendo isso porque está jogando em casa. Eu te conheço”. Allan não se fez de rogado: “Conhece de onde? Eu nunca joguei a Série A”. Abade riu.

15 – Quem pede, recebe

Henrique comemora gol e se livre da ameaça (Foto: Felipe Couri)

Na primeira partida contra a Anapolina, fase de mata-mata, Ademilson estava iluminado. Já tinha feito três gols e aos 41 minutos do segundo tempo recebeu uma bola em profundidade. “Minha vontade era partir para cima dos zagueiros e tentar o quarto gol”, confessou o craque mais tarde, “mas o Henrique passou correndo e gritando ‘me dá a bola, aqui, me dá logo, para mim’. Para ficar livre da gritaria passei a bola para ele, mas avisei: se perder o gol eu te mato”. Henrique marcou o quarto gol e ficou livre dos cascudos de Ademilson.

16 – Dupla identidade

Vitinho ou Victor Hugo? (Foto: Felipe Couri)

O meio-campista Vitinho foi, durante o campeonato, um homem de “dupla personalidade”. Era chamado em Juiz de Fora de simplesmente Vitinho e na imprensa nacional e entre os adversários de Victor Hugo. O fato causou uma grande confusão em Anápolis e quase deu briga entre dois repórteres de um veículo de comunicação local. Um insistia que – já havia se informado – “Vitinho não jogaria na segunda partida da fase de mata-mata contra a Anapolina e sim um tal de Victor Hugo”; o outro rebateu dizendo que havia consultado o site do Tupi e que “Vitinho jogaria sim, e que Victor Hugo era o goleiro reserva Carijó – e que a confusão foi ‘plantada’ pela assessoria do Galo para desnortear a tática goiana”.

17 – Todos iguais

Não é o Ademilson. É o Silvio (Foto: Leonardo Costa)

A chegada da delegação Carijó ao Estádio Jonas Duarte, em Anápolis (GO), para a partida decisiva contra a Anapolina foi precedida de uma certa tensão, pois alguns torcedores rivais cercaram o ônibus do clube para, aparentemente, cercear o atacante Ademilson (autor de três gols na partida de ida) na esperança de desestabilizar o craque Carijó. Esses torcedores mostraram, no entanto, que tinham apenas uma vaga idéia do aspecto físico do alvo. O zagueiro Adalberto desceu do ônibus e foi xingado, até que alguém disse: “não, esse não é o Ademilson”; em seguida, o também zagueiro Sílvio desceu do ônibus e foi xingado, até que alguém disse: “não, esse não é o Ademilson”. Desistiram. “Pô, nesse time do Tupi todo mundo é negro, careca e se parece com o Ademilson”, constatou um torcedor.

18 – Quem avisa, amigo é

Allan, mata o jogo! (Foto: Felipe Couri)

Segundo tempo do jogo em Anápolis (GO), partida de acesso à Série C, e o Tupi perdendo a partida e gols. Um, dois, três, quatro, cinco gols perdidos de forma inacreditável. Allan sofre uma falta, não marcada, e vai reclamar com o árbitro. Heber Roberto Lopes aproveita para dar um conselho ao atacante Carijó: “Mata o jogo, vocês ficam perdendo gols, não matam o jogo e depois vão reclamar da arbitragem”.

19 – O troco

Silvio: “Fala muito” (Foto: Leonardo Costa)

Final de jogo em Anápolis (Tupi 2 x 2 Anapolina, e classificação à Série C garantida), o zagueiro Sílvio, antes de partir para a comemoração, foi até ao banco de reservas do time rival, apontou para o técnico Nivaldo Lancuna e disse: “Você fala demais”, complementando com o gesto característico do movimento dos dedos à altura da orelha. Era o troco ao falastrão Lancuna, que disse que o “Villa Nova era muito melhor que o Tupi e que a Anapolina já estava, antes de jogar, na Série C”. O técnico ficou atônito com a atitude do zagueiro Carijó, mas alguns reservas da equipe goiana não gostaram e partiram para cima de Silvio. Sorte é que a turma do “deixa disso” chegou antes e empurrou o jogador do Galo para longe da confusão – e para a comemoração.

20 – Parabéns “terceirizado”

Ricardo Drubscky com Geraldo Magela (Foto: Leonardo Costa)

Final de jogo em Anápolis (Tupi 2 x 2 Anapolina, e classificação à Série C garantida), o técnico Ricardo Drubscky “vagueia” pelo gramado, antes da comemoração. Vê o goleiro da Anapolina, camisa um, e demonstrando espírito esportivo cumprimenta o adversário:

– Parabéns, garoto, bela atuação

– O que é isso, professor, eu nem joguei – responde o atleta.

Só então Drubscky percebe a sua gafe: ele cumprimentou o goleiro reserva, Jorge. O titular Edinho – que realmente teve uma bela atuação – jogou com a camisa 12.

21 – O líquido preferido

Pitti: duas cervejas para cada (Foto: Felipe Couri)

Acesso garantido à Série C, a delegação voltou ao hotel fazenda, nos arredores de Goiânia, para as devidas comemorações. Famintos, os jogadores foram para o restaurante. A gerência do hotel gentilmente providenciou duas garrafas de champagne para brindar o momento. O técnico Ricardo Drubscky ficou animado e foi ao quarto buscar a máquina fotográfica para registrar o fato.

Só que os jogadores estavam interessados em outro líquido e escalaram o meio-campista Luciano Ratinho para consegui-lo.

Luciano chegou humildemente à mesa onde estavam Drubscky, o gerente de futebol Pitti e o preparador físico Luiz Augusto Alvim:

– “Seu” Pitti, sabe como é, estamos felizes, amanhã não tem treino e não vai fazer mal nenhum… os “juvenis” estão querendo… O senhor pode liberar uma cervejinha?

Pitti olhou para Drubscky e depois para Luiz Augusto, que assentiram com a cabeça, mas resolveu fazer jogo duro:

– Não sei, não. Quantas?

– Isso aí, o senhor é quem sabe (respondeu Luciano)

– Uma para cada um (disse Pitti)

Luciano ficou visivelmente decepcionado com a quantidade, mas – fazer o que? – aceitou prontamente.

Pitti sorriu com a própria maldade e dobrou a oferta: “está bem, duas garrafas para cada um”.

A champagne ficou fechada e esquecida na mesa, e posteriormente foi devolvida à direção do hotel, com pedido de desculpas

22 – Os pescadores

O os “urbanos” Michel e Vitinho (Foto: Felipe Couri)

Nesta noite da troca da champagne pela cerveja, alguns jogadores resolveram pescar, já que o hotel fazenda nos arredores de Goiânia tinha um lago e o serviço de pesque-pague. De um lado ficaram os “urbanos” Michel e Vitinho, do outro os “caipiras” Luciano Ratinho e Marquinhos – no meio ficou, atrapalhando tudo com sua falação desenfreada o baiano Henrique. Luciano realmente provou que conhecia do assunto e tirou da água um Pirarucu de uns 12 quilos. Só que o meio-campista Marcel, outro “urbano”, se atrapalhou todo com o puçá e deixou que o peixe escapasse. Quase apanhou e foi motivo de chacotas intermináveis.

23 – O homem de preto no sol

Araraquara (SP) é conhecida como “a morada do sol” – e realmente faz muito calor. Só que o zagueiro Sílvio chegou à cidade gripado, febril e consequentemente sentindo frio. Produziu uma cena insólita: andando para lá e para cá com o uniforme de viagem preto – inclusive casaco – do Tupi. Foi dúvida até minutos antes da partida contra o Oeste (Ida, das semifinais), mas entrou em campo, mesmo debilitado. Ao ser substituído, desmaiou, à beira do campo. A ambulância foi chamada para levá-lo ao hospital. Ao partir, a porta do veiculo se abriu e por pouco Sílvio não foi, forçosamente, “devolvido” ao gramado.

24 – A mentira tem pernas curtas

Até o Marcel fez gol (Foto: Felipe Couri)

Nesse jogo contra o Oeste, Marcel acertou um petardo de fora da área e abriu o placar. O técnico Ricardo Drubscky ficou impressionado com a beleza do gol e brincou com o atleta no vestiário:

– Marcel, acho que vamos ser campeões, pois até você está fazendo gols.

– Que isso, professor? Estou acostumado a fazer gols – disse o jogador

Drubscky chegou a acreditar e pensou alto: “É, sou novo por aqui, e o Marcel deve ter feito gols no campeonato mineiro, na Taça Minas e até nas categorias de base”

Ao chegar a Juiz de Fora, na primeira entrevista, Drubscky recebeu a informação de um jornalista local: foi o primeiro gol de Marcel com a camisa Carijó.

25 – Tem juiz que é cego

Augusto conseguiu tomar o amarelo (Foto: Leonardo Costa)

Nessa mesma partida, contra o Oeste, placar definido (3 a 0, Galo), Ricardo Drubscky orientou Marcel e Augusto, pendurados com dois cartões amarelos, a forçarem o terceiro. Augusto “conseguiu” rapidamente a advertência, demorando uns “trinta minutos” para cobrar um lateral. Com Marcel não teve jeito e ele saiu de campo sem receber o cartão amarelo.

Drubscky reclamou:

– Pô, Marcel, eu não mandei você levar o cartão?

– Eu tentei professor, fiz cera, dei um empurrão no cara, levei um sopapo dele, mas o juiz não viu.

26 – A cidade dos shoppings

No retorno da delegação de Itápolis, São Paulo, de ônibus (depois da vitória sobre o Oeste, por 3 a 0, nas semifinais), os jogadores da região (Augusto e Luciano Ratinho) ficaram com a incumbência de orientar o motorista sobre qual o melhor caminho a seguir. E o fizeram de forma que o trajeto incluísse passagem por Ribeirão Preto (cidade natal de ambos) – ao invés de Araraquara, caminho de ida. Ao se aproximar de Ribeirão Preto, Luciano, muito orgulhoso, começou a propagar as vantagens da sua terra: “É uma cidade muito grande, com um milhão de habitantes e três shoppings”.

27 – Trancados no Arruda

Em meio aos quase 55 mil torcedores do Santa Cruz, na grande final da Série C, havia os 30 torcedores do Tupi e mais seis Carijós (imprensa, diretores e conselheiros do clube). Estes últimos foram colocados em uma cabine, no meio dos torcedores rivais e sem nenhuma proteção frontal (um vidro que fosse). A maioria dos torcedores do Santa que foi se acomodando por ali olhava aquilo com desconfiança e cara de poucos amigos. Tudo, no entanto, corria bem até que Allan fez o primeiro gol, e, obviamente, os gritos vindos da cabine chamaram a atenção no silêncio que se fez no Estádio. Um pernambucano ficou nervoso e mandou que todo mundo se calasse – obviamente, não foi atendido. O clima ficou tenso, principalmente porque dois minutos depois Henrique fez mais um gol. Novos gritos. Uma moça e um rapaz ficaram nervosos. Ela começou a bater no parapeito da cabine com as bexigas coloridas distribuídas antes do jogo e ele ameaçou pular para dentro da cabine. Um segurança chegou e acalmou os ânimos. Depois, por precaução, o zeloso segurança trancou a cabine por fora, deixando seis Carijós no escuro e sem poder descer para a festa.

28 – Sem máscara

Henrique atendendo a imprensa e os fãs (Foto: Felipe Couri)

De volta a Juiz de Fora, na terça-feira (22 de novembro), dia das comemorações pelo título da Série D, Santa Terezinha, todo mundo tirando fotos e o meio-campista Henrique corre para mais uma pose e mais uma sessão de fotografias, mas chega atrasado. Fica bastante chateado.

– Pô, perdi essa. Não quero perder nada

– Onde você estava, Baiano? (pergunta Ademilson, percebendo a aflição do colega).

– Estava atendendo o repórter?

– Já que quer aparecer em todas as fotos, deixa para atender o repórter depois (aconselhou Ademilson)

– Tenho que atender, senão ele vai dizer que sou mascarado. Não quero que ninguém pense que sou um campeão mascarado.

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