Conjuntura

Uma casa para Clara

(Foto: Casa de Clara)

“Eu estava me sentindo um girassol murcho, quase morto. Mas recebi umas gotinhas de amor, carinho, gentileza, solidariedade… e isso me renovou”. Não foi por acaso que a aposentada Vera Ribeiro escolheu uma imagem tão nítida de renascimento para descrever a importância da Casa de Clara em sua vida.

Como Verinha – assim gosta de ser chamada – mais de 60 famílias são cadastradas na instituição, que promove ações de apoio sobretudo a mulheres em situação de vulnerabilidade social no Graminha. O projeto reúne arte, educação, economia solidária, e iniciativas de assistência mais imediata, como doação de roupas, alimentos e encaminhamento para profissionais da medicina, psicologia, advocacia e assistência social, entre outras áreas. 

Para ampliar suas atividades e fortalecer a rede de apoio que proporciona, a instituição lançou a campanha “Uma casa para Clara”, que visa a arrecadar fundos para adquirir uma casa no Graminha.

“Com a nova sede, poderemos ampliar a dimensão prática da nossa atuação. Hoje realizamos oficinas de artesanato, música, escrita e outras. Com mais espaço poderemos,  do ponto de vista até de segurança alimentar, atender às exigências mínimas para poder preparar um alimento que pode ser comercializado: bolos de pote, biscoitos, brigadeiros e outras coisas. Isso dá uma perspectiva de mulheres poderem ter a própria renda, porque sabemos que a dependência financeira muitas vezes dificulta a interrupção da violência doméstica, que é a realidade de parte das mulheres que passam pela Casa de Clara”, explica Assunção Calderano, presidente da associação.

‘Todo mundo é igual e importante’

Na primeira vez que a aposentada foi a um evento da instituição em 2019, um almoço, estava em depressão profunda e mal se levantava da cama. Ela já havia sofrido um acidente vascular cerebral (AVC), duas isquemias e sofria com sequelas de uma meningite, tudo isso afetando também sua mobilidade.

“Mas naquele dia, eu decidi ir e foi a melhor coisa que eu fiz. Depois passei a ir sempre, hoje chego lá e me sinto em casa. Os projetos, os voluntários, as mulheres que frequentam lá… me deram a energia de que eu precisava. Lá todo mundo é igual e importante, não importa a cor, a religião, se tem dinheiro ou não. Acho que lá se chama Casa de Clara porque é uma luz na vida da gente, clareia mesmo”, diz Verinha, com muita timidez e muita poesia, apesar de ter cursado até a segunda série do ensino fundamental, como frisa algumas vezes por medo (infundado, como podem perceber) de “não estar falando bem”. 

Também aposentada, Simone Aparecida da Rocha destaca a universalidade do acolhimento da Casa de Clara, que frequenta desde 2019, participando de diferentes projetos da associação e envolvendo também os netos nas atividades.

“Se uma mulher está sendo agredida em casa, fisicamente ou não, eles indicam psicólogo, encaminham, indicam advogado, é muito bacana. E as atividades fazem a gente se comunicar, se encontrar, e a casa acompanha tudo, tem toda a preocupação. Perguntam se as crianças têm material de escola, ajudam com cestas básicas, arrumaram uma professora de inglês pro meu neto, escutam nossos problemas e ajudam a encontrar solução.”

Para Assunção Calderano, esse reconhecimento da escuta ativa em tudo que é realizado na associação é uma importante validação do trabalho realizado. Ela explica que a Casa de Clara tem uma dimensão prática, com oficinas, doações, encaminhamentos, etc, e também uma dimensão subjetiva atrelada a todas estas outras – e tão importante quanto.

“A gente trabalha o encorajamento das mulheres de poder falar de si e de suas vidas de maneira mais óbvia, como nas rodas de conversa, ou em outras situações. Por exemplo, numa prática cotidiana: reunir quem está na casa pra fazer um bolo ou uma sopa. Se queremos comer algo, vamos para a cozinha, certo? E vamos juntas, cozinhando, conversando e percebendo as demandas. Cria-se um círculo de cumplicidade que permite que elas externalizem e tomem consciência de um problema ao falar dele de maneira natural. E também ajuda no pertencimento, ao perceberem que não estão sozinhas no que vivem, sentem e enfrentam. E não precisam estar”, explica a presidente da casa.

“É um trabalho de educação transformacional. É um trabalho de autovalorização e autoconhecimento, pois muitas vezes a violência física e simbólica não é admitida ou reconhecida. É também um trabalho preventivo. Nossa proposta é criar oportunidade de encontros, com cada mulher, delas consigo e entre as mulheres.”

Da praça à nova sede

A Casa de Clara vem de um sonho antigo de realizar um projeto social, compartilhado por  Assunção e seu marido Lecir Barbacovi. Não surpreendentemente, ambos são da área de educação, ela aposentada da Faculdade de Educação da UFJF e ele coordenador da Faculdade de Pedagogia no Granbery. O desejo saiu do papel em 2018, quando foi compartilhado com o círculo de amizades e colegas de trabalho do casal. 

“A gente não queria chegar numa comunidade dizer ‘estamos aqui’ sem saber com quem a gente podia contar. É claro que isso muda muito com o passar do tempo. Para se ter uma ideia, hoje a diretoria tem pessoas da comunidade. E tudo começou com uma roda de conversa numa praça do Graminha, com três ou quatro mulheres”, relembra Sun, como é carinhosamente chamada.

“Continuamos neste propósito: conversando, identificando demandas e agindo a partir delas. E seguindo sempre com a ideia de procurar outros profissionais quando nossa condição de ajuda imediata é extrapolada. Com a nova sede, poderemos, por exemplo, oferecer acolhimento propriamente dito, emergencial, a mulheres e filhos em situação de violência doméstica”, pontua Assunção.

O imóvel da campanha é próximo ao espaço em que a Casa de Clara funciona atualmente no Graminha. Quem se interessar em contribuir com doações pode acessar o link, que reúne a vaquinha on-line, um leilão de peças doadas e todas as redes sociais e canais de comunicação da Casa de Clara. Os donativos também podem ser feitos por pix ou transferência (veja dados abaixo)

Casa de Clara: Associação de Pesquisa e Ação Social
  • Pix: 35.782.642/0001-74 (CNPJ)
  • Banco do Brasil:  001
  • Agência: 3139-9
  • Conta corrente: 53009-3