Belo Horizonte foi palco nos últimos dias de uma intensa articulação para colocar o PT na candidatura do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ao Governo de Minas. Primeiro com a presença do ex-ministro José Dirceu e depois com a presidente nacional do partido, deputada federal Gleisi Hoffmann, as conversas podem render um estratégico palanque para o ex-presidente Lula na disputa pelo Palácio do Planalto.
Sem conseguir viabilizar um nome competitivo para voltar ao Palácio Tiradentes, o PT, que governou o estado com Fernando Pimentel (2015-2018), vem ensaiando uma aproximação com Kalil desde as eleições municipais de 2020. As investidas petistas, no entanto, acabavam sempre parando no estilo imprevisível do prefeito da capital. Adepto às frases de efeito, muitas vezes inoportunas, ele sempre refutou alianças políticas.
O bom desempenho do governador Romeu Zema (Novo) nas pesquisas e a dificuldade para levar seu nome para além da região metropolitana de Belo Horizonte fizeram Kalil reconsiderar a aliança com o PT. Como não bastasse, Lula lidera todos os levantamentos realizados no estado em relação à disputa pela Presidência da República. A aproximação passou a ser vista como um bom negócio para Kalil e Lula.
Foi nesse contexto que, no último dia 3, o ex-secretário de Governo da Prefeitura de Belo Horizonte, Adalclever Lopes (PSD), foi enviado a São Paulo para uma conversa com Lula. Dois dias depois, José Dirceu desembarcou na capital mineira com credenciais para alinhavar os termos da aliança. Suas articulações foram sacramentadas nesta semana pela própria Gleisi Hoffmann.
E coube à presidente nacional do PT o recado incisivo para Kalil. Falando para deputados das bancadas estadual e federal do partido e também para lideranças municipais petistas, com a prefeita Margarida Salomão, Gleisi Hoffmann ressaltou a importância do estado para Lula. “Precisamos levar a imagem do PT para a sociedade, e Minas Gerais é um dos estados mais importantes para o processo eleitoral.”
O receio da cúpula petista, mesmo com a mudança de postura recente, segue sendo a imprevisibilidade de Kalil. Para amenizar esse sentimento de desconfiança, Adalclever e José Dirceu negociam uma visita de Lula ao prefeito de Belo Horizonte para breve. Futuramente, mas ainda na chamada pré-campanha, os dois devem participar de eventos no interior do estado, inclusive em Juiz de fora.
José Dirceu se encontrou com deputados do MDB
Os termos da aliança entre o prefeito Alexandre Kalil (PSD) e o PT de Minas foram levados aos deputados federais e estaduais do MDB mineiro pelo ex-ministro José Dirceu e pelo ex-deputado e ex-secretário da Prefeitura de Belo Horizonte, Adalclever Lopes. O propósito da conversa, segundo um dos parlamentares, foi dar garantias para parte das bancadas emedebistas migrar para o PSD.
Com o deputado federal e presidente do MDB de Minas, Newton Cardoso Júnior, divido entre apoiar a reeleição do governador Romeu Zema ou apostar numa candidatura própria com o senador Carlos Viana (PSD), que deve se filiar ao partido, restará aos dissidentes abandonar o barco, a exemplo do próprio Adalclever. A mudança agrada o PT, que vê a rede de apoio a Lula no estado crescer. E, numa eventual eleição, o petista terá base para governar.
O milagre que José Dirceu não conseguiu em Minas durante sua estada foi a definição da composição da chapa a ser encabeçada por Kalil. Afeito ao eleitorado de Lula e bem menos ao PT de Fernando Pimentel, o prefeito de Belo Horizonte não quer um petista como vice. Essa vaga hoje é cortejada pelo PSB, que prepara a filiação do presidente da Assembleia de Minas, Agostinho Patrus (PV).
Restaria ao PT, de bom grado, a indicação do nome para a disputa ao Senado. O problema, nesse caso, seria o próprio PSD, que tem o senador Antônio Anastasia e seu suplente, Alexandre Silveira, como postulantes. Essa situação pode se agravar caso Anastasia seja eleito para o Tribunal de Contas da União (TCU) – a eleição está marcada para a próxima semana -, o que colocaria Silveira como senador no ano eleitoral.
A chapa encabeçada por Kalil, que dará palanque para Lula em Minas, será definida no seu tempo, explica um aliado do prefeito da capital. Dada a importância do estado na disputa presidencial, como bem ressaltou Gleisi Hoffmann, alguns contornos serão dados pelo próprio ex-presidente em articulação direta com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Isso pode envolver até a própria composição da chapa de Lula.