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Prefeituras da região preparam anúncio conjunto de cancelamento do carnaval

O prefeito de Rio Novo, Ormeu Rabello, anunciou nessa semana o cancelamento da folia na cidade (Foto: Prefeitura de Rio Novo)

O medo de uma nova variante da Covid-19, a falta tempo para aplicar dose de reforço no público mais jovem e a ausência de recursos financeiros para bancar a folia são os principais argumentos para as prefeituras da região cancelarem o carnaval de 2022. O anúncio da medida será feito nos próximos dias de forma conjunta na tentativa de evitar migração de foliões.

Mesmo com o avanço da vacinação e a redução do número de casos nos últimos meses, ao menos 18 municípios do entorno de Juiz de Fora esperam anunciar até a primeira quinzena de dezembro o cancelamento dos festejos carnavalescos. Também devem ser suspensos os eventos públicos envolvendo as festas do final do ano.

(Arte gráfica: Leticya Bernadete)

Em Juiz de Fora, foi instalado um grupo de trabalho para avaliar a possibilidade de se realizar o carnaval. Oficialmente, a decisão ainda depende de algumas variáveis, como o quadro sanitário local, mas a prefeita Margarida Salomão (PT) já não trabalha mais com a hipótese de realização da folia com recursos públicos.

O problema maior no município envolve as escolas de samba. Com mais dois anos fechadas, “sem abrir o portão para almoço ou jantar confraternização”, conforme um presidente de agremiação, não há tempo hábil para fazer o carnaval. Quanto aos blocos, a aposta é de que sejam liberados sem financiamentos e respeitando as normas sanitárias.

Em Rio Novo, o prefeito Ormeu Rabello Filho (Cidadania) se reuniu na última semana com as escolas de samba e o mais tradicional bloco carnavalesco da cidade para comunicar o cancelamento. Ele anunciou oficialmente sua decisão na segunda-feira (29). “Infelizmente, mediante a situação que o mundo passa hoje com a pandemia, junto com os presidentes das escolas de samba e blocos, chegamos à conclusão que seria incabível fazer o carnaval. Precisamos preservar vidas”, afirmou o prefeito.

Também com decisão tomada pelo cancelamento da folia, a Prefeitura de Mar de Espanha aguarda uma reunião com outros municípios da microrregião para o anúncio conjunto. Nesse grupo estão São João Nepomuceno, Bicas, Pequeri, Maripá de Minas e Senador Cortes.

Em Santos Dumont, foram cancelados os festejos de final de ano e o carnaval. De acordo com Renan Souza, chefe do departamento municipal de Cultura, trata-se de uma decisão tomada recentemente. Outros aspectos estão sendo avaliados, mas ele considerado improvável uma mudança de posicionamento.

Quem já anunciou oficialmente o cancelamento da folia foi o prefeito Beto Lopes (PP) de Matias Barbosa. Como deve acontecer nos demais municípios da região, ele informou que não vai disponibilizar recursos públicos para nenhum evento ligado ao carnaval.

Dos municípios procurados por O Pharol, apenas Além Paraíba, Rio Pomba e Guarani sinalizaram com a possibilidade de realização dos festejos. Os dois primeiros não descartaram a manutenção do carnaval, mas informaram que vão aguardar mais um pouco para definição. Guarani não respondeu ao pedido de informação do jornal.

O secretário de Governo de uma das cidades favoráveis ao cancelamento do carnaval revelou que há um receio de os foliões se concentrarem nos poucos municípios que vão realizar a festa.  Por isso, a estratégia de anúncio em conjunto. Segundo ele, basta apenas uma cidade não ter carnaval para levar excesso de pessoas para outra.

É preciso minimizar o risco

Mesmo com as atuais projeções feitas por diversos institutos sendo favoráveis ao Brasil, Rodrigo Daniel de Souza, infectologista e chefe do setor de Vigilância em Saúde e Segurança do Paciente do HU-UFJF, prega cautela. “É muito difícil prever a dinâmica do vírus.”

Ele aponta duas características favoráveis ao controle da pandemia no país: o percentual alto de vacinados e o número expressivo de casos, especialmente pela dificuldade no acesso ao diagnóstico dos mais leves. “Mas, infelizmente, a pandemia não segue uma projeção linear. A cinética da pandemia depende de muitos fatores. Qualquer flexibilização no uso de máscaras, da adesão da população às medidas, do ritmo de vacinação ou aparecimento de variantes preocupantes podem mudar tudo”.

Nesse contexto, o infectologista faz uma projeção de “um mínimo de segurança para acontecer o carnaval”. Realista, ele considera que, independentemente da vontade do ente público, a folia vai acontecer. “Dessa forma, acho melhor discutirmos maneiras de minimizar os riscos, com organização e restrições. Iniciar os estímulos à vacinação dos jovens que são maioria nos eventos e, em geral, os que menos buscam as segundas doses.”

Quanto ao receio de algumas prefeituras quanto à ausência de tempo para a terceira dose, a chamada dose de reforço, Rodrigo Daniel explica que não se trata de uma justificativa técnica adequada. “O esquema vacinal é de duas doses. Estudos mostraram que a proteção cai após seis meses, especialmente nos maiores de 60 anos.”