Neste final de semana começa o terceiro maior evento esportivo do mundo. Perde só pras Olimpíadas e pra Copa do Mundo. Quando a final é boa (disputa pelo título até a última corrida), tem mais audiência que o Super Bowl, chorada agora como a segunda maior audiência da televisão mundial. (Safety Car!)
De agora em diante, pelo menos por 22 domingos do ano, assuntos recorrentes como guerras, eleições, assassinatos, preconceitos e outras políticas ficam em segundo plano perto do bom e velho espírito esportivo. Essa é a força da Fórmula 1, que também acontece em três sábados do ano, em Imola, na Áustria e no Brasil, nas corridas Sprint, que duram meia hora. Pra quem acompanha os treinos, o paraíso dura ainda mais tempo.
Domingo a corrida é no Bahrein, uma linda civilização democrática que, se tivesse voto, seria como na Grécia antiga. Por enquanto, passam por um breve período de monarquia constitucional com quase meio século do mesmo primeiro ministro no poder. É ele que organiza o governo do país, sem incluir mulheres, pra não incomodar os xiitas locais.
Antigamente, ali vivia a civilização Dilmum, nascida da acolhida de Noé pelos deuses depois do dilúvio. Era uma terra de majestosa vegetação, donde a ideia de Jardim do Éden. Quando tiraram Dilmum dali, tudo virou deserto. Agora melhorou, tem prédios lindos e um circuito de Fórmula 1 que pode ter vários desenhos e tem luzes.
A Anistia Internacional questionou os Estados Unidos e a Inglaterra por se omitirem em questões humanitárias no país, mas isso é passado, porque Williams, McLaren, Aston Martin e Haas estarão na pista domingo, assim como pilotos ingleses, porque estadunidenses, convenhamos, estão em falta. Talvez com a equipe de Michael Andretti, em 2024, isso mude (não que faça falta).
A ONG Freedom House classifica o Bahrein como país não livre. Mal sabem eles que existe o DRS, aquela asa traseira que pode ser aberta em algumas retas, deixando o caminho livre pra ultrapassagens. Só não é o ponto mais interessante da Fórmula 1 atual porque existe o regulamento.
O que mais tem dado emoção desde que a televisão comprou a F1 é o que acontece nos bastidores. Como ocorre desde a série Lost, as conversas entre os episódios são mais elaboradas e cheias de conjecturas do que os minutos de narrativa. Uma corrida dura bem mais do que um episódio de série, por isso tem mais emoção na pista pra ser debatida fora.
Em 2021, num cenário de disputa acirrada entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, o protagonismo foi da equipe jurídica do Fluminense, aquela que conseguiu catapultar o time da terceira pra primeira divisão. O melhor resultado? O meme que circulou por todas as conversas sobre F1 nas redes sociais: “Safety Car liberado por causa das suas lágrimas” sempre que algum torcedor do Hamilton dizia ser injusta a vitória do Verstappen.
Se ao vencedor, as batatas, ao perdedor a melhor bolada da categoria. Se os pilotos são os olimpianos, as equipes são as donas da senha do cofre. Mesmo com as comemorações do Christian Horner, quem ganhou mesmo foi o Toto Wolf, a quem Horner se refere, na série Drive to Survive, como o cara que não precisou fazer nada, pegou uma equipe pronta. É, quem deu cara pra Mercedes foram Lauda e Schumacher. Agora as regras pros carros mudaram, vamos ver que cara fica.
Ainda sobre os pilotos, o tetracampeão Sebastian Vettel não vai pra pista. Tá com Covid. Se ele estivesse no Brasil isso não teria acontecido, porque aqui o Ministério da Saúde já quer batizar a pandemia de endemia. Lá pros lados dele, na Alemanha, o vírus deve estar mais descontrolado, coitado. Justo ele, que tem se tornado uma voz interessante entre os pilotos, talvez até a melhor, já que o Kimi Räikkönen aposentou.
Pra quem acha que domingo, quando as luzes vermelhas apagarem, começa tudo do zero, procure antes pelas polêmicas, que já estão dando asas às discussões sobre o regulamento. Resta saber quem contratou a equipe jurídica tricolor este ano. Assim seguimos, entre reclamações, regulamentos, carros e pilotos. E emoção, muita emoção. A FIA estava pensando em colocar o VAR pra aferir a legalidade das ultrapassagens…