Primeiro foi a Prefeitura de Juiz de Fora e depois o Governo de Minas. Sim, não é mais obrigatório o uso de máscaras de proteção contra a Covid-19 em locais abertos. As administrações municipal e estadual resolveram flexibilizar a medida em decorrência do avanço da vacinação, no caso de Juiz de Fora, acima de 85% do público-alvo.
Mas como o município registrou no mês de fevereiro o maior número de mortes por Covid-19 desde junho de 2021, fica a questão: seria agora o momento certo para “baixar a guarda”? A vacinação nas cidades vizinhas também já alcançou patamares satisfatórios? Afinal, Juiz de Fora é um polo regional?
Para o médico infectologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora, Rodrigo Daniel de Souza, uma coisa precisa ficar bem clara: “A flexibilização é apenas deixar de obrigar, não é incentivar abandonar o uso”. Todos podem optar por manter o uso, especialmente aqueles com risco maior de contrair a forma mais grave da doença. “Esses devem manter o uso, o distanciamento e evitar aglomerações”.
Em relação ao elevado número de mortes registradas em fevereiro, o infectologista explica que as mortes por Covid-19 são indicadores tardios da doença. “Primeiro aumenta o número de casos, depois o número de internações e, por fim, o número de mortes”. Nesse sentido, os óbitos refletem os efeitos de fatos ocorridos há um ou dois meses.
Na sua avaliação, a flexibilização deve ser guiada pelo número de casos novos e, sobretudo, pelo número de internações, que é um indicador sem muita interferência de outros fatores. Em sua conta no Twitter, Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin (EUA), também recomenda outros critérios para se flexibilizar o uso de máscaras além do avanço da vacinação.
“Não sou contra a flexibilização, desde que seja feita da maneira correta, usando os indicadores corretos e na hora correta”, avalia Garrett. Para ela, em muitos casos, o uso da máscara, de fato, não é necessário, como em lugares abertos onde não há interação com outras pessoas. Mas, mesmo ao ar livre, se houver aglomeração, a máscara passar a ser essencial.
A epidemiologista chama a atenção em suas redes sociais também para o fato de a decisão pela não obrigatoriedade do uso de máscaras não ter sido tomada em nível nacional. O risco, nesse caso, envolveria o estágio da doença nas proximidades das cidades onde há flexibilização.
“As bordas são porosas. Não tem como isolar uma cidade ou um estado que tem 90% de vacinação, afinal pessoas de outros estados vão continuar visitando esses lugares”, explica Garrett. No caso de Juiz de Fora, de acordo com a Secretaria de Saúde de Minas Gerais, tanto na macrorregião quanto na regional de saúde e na microrregião, a cobertura vacinal é superior a 85%.
Uso de máscaras em escolas diminuiu casos de Covid-19 em 23%
Um estudo sobre a incidência de Covid-19 em alunos revelou que a exigência de máscaras resultou em 23% menos casos do que nas escolas que não exigiram. A pesquisa foi realizada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, em parceria com o Departamento de Saúde do Arkansas.
Os pesquisadores analisaram os números oficiais de casos de Covid-19 em escolas de 233 distritos do estado do Arkansas por aproximadamente sete semanas, entre agosto e outubro de 2021. O uso de máscaras não era exigido em metade dos distritos. Outra parte havia exigência em situações específicas. Em apenas um terço dos distritos o item de proteção era obrigatório.
Os dados confirmam que os distritos com exigência da máscara tiveram uma incidência 23% menor de Covid-19 entre funcionários e estudantes em comparação com locais sem requisitos universais de máscaras. Os resultados levaram em consideração ainda as taxas de vacinação de funcionários e alunos. Não foram consideradas outras medidas de prevenção adotadas pelas escolas, como, por exemplo, a ventilação das salas de aula e os padrões de distanciamento entre os alunos.
“As máscaras continuam sendo uma parte importante de uma abordagem multicomponente para prevenir a Covid-19 em ambientes de ensino fundamental e médio, especialmente em comunidades com altos níveis da doença”, escreveram os autores do estudo divulgado na terça-feira (8).