Conjuntura

Uber não vai acabar, mas é bom os usuários se prepararem para o ‘dinâmico’

Alta dos combustíveis deve diminuir oferta de viagens por aplicativos (Foto: Leonardo Costa)

O preço da gasolina foi reajustado em 18,8% pela Petrobras com validade a partir da última sexta-feira (11), após a disparada dos preços do petróleo no mercado internacional, em reação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Especialistas do mercado de combustível preveem valores impressionantes nas bombas, com o litro da gasolina chegando a R$ 7,84 na média nacional, enquanto o diesel pode ir de R$ 5,59 para R$ 7.

Em Juiz de Fora, o reajuste chegou às bombas, em muitos casos antes da hora, com impactos pesados. Quem usa transporte por aplicativo sabe como as coisas mudaram, e muito, nas últimas horas. E a tendência é de agravamento. De acordo com Josué do App, presidente da Frente de Apoio Nacional aos Motoristas Autônomos da Zona da Mata (FANMA-ZN), os usuários podem se preparar para o “dinâmico”.

Sua avaliação é bem pragmática. “Acredito que isso vai gerar um desgaste muito grande com o passageiro. Gerar não, aumentar, pois o desgaste já existe. Os passageiros já reclamavam que não achavam carro, que tem um alto índice de cancelamento pelo motorista. Isso é porque o motorista precisa selecionar cada vez mais as suas corridas, porque senão não consegue fazer dinheiro.”

Com o aumento da gasolina na proporção anunciada pela Petrobras, o agravamento é certo, segundo Josué. “O que tem salvado os motoristas de aplicativo é o GNV. Mas não são todos que querem ou podem migrar para o GNV. Então vai haver mais desistências. Com esse aumento de combustível e a desistência cada vez maior de motoristas, vai ter muito ‘dinâmico’ (o preço dinâmico é uma forma de a Uber compensar a alta da demanda por carros)”.

A prática de cancelar e selecionar corridas como forma de manter a profissão rentável acabou gerando punições por parte dos aplicativos. Em setembro de 2021, a Uber baniu cerca de 1.600 trabalhadores de seu sistema pelo que foi classificado pela empresa como o ‘cancelamento excessivo de viagens’.

Ainda assim, o representante dos motoristas de aplicativos não fala no fim da profissão. “Vou ser muito sincero: não acredito no término da profissão como motorista de aplicativo. Ainda quero acreditar que a gente possa estar passando por uma transformação. As plataformas têm que fazer um trabalho. De ontem para hoje tanto a Uber quanto a 99 já soltaram aumentos. Elas começaram mobilizar porque senão vão acabar perdendo mercado”.

De fato, a Uber e a 99 anunciaram reajustes nos preços cobrados e maior repasse do valor das corridas realizadas pelos aplicativos de transportes aos motoristas. A Uber fará um ajuste de 6,5% em suas corridas, deixando-as mais caras temporariamente. O aplicativo também “prometeu um pacote de R$ 100 milhões direcionados a iniciativas para ampliar os ganhos e reduzir os custos dos motoristas”.

Já as corridas da 99 serão reajustadas em 5% por quilômetro rodado no ganho do motorista, sem alteração prevista para os consumidores. De acordo com a empresa, a ação “entrará em vigor já nos próximos dias em todas as 1.600 cidades onde a empresa opera no Brasil”.

Durante a pandemia, a Uber e a 99 promoveram campanhas de incentivo a motoristas, como a revisão de taxas e o oferecimento de pagamentos extras mediante alcance de metas. O aumento de preços generalizado, no entanto, fez com que os gastos dos próprios trabalhadores com seus carros se tornassem cada vez maiores, muitas vezes zerando os ganhos da profissão.

Segundo dados mais recentes do IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses para os combustíveis no Brasil é de cerca de 44%, com o aumento no preço de pneus chegando a 27% e do óleo lubrificante, 19%.