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Você quer mesmo ser mãe?

(Foto: Andrae Ricketts/Unsplash)

Vamos falar sobre maternidade compulsória e sobrecarga materna?

Ser mãe deveria ser uma escolha. Mas nem todas têm acesso a métodos anticoncepcionais e educação sexual: pilares básicos do planejamento familiar. E se um método falha (nenhum é 100% seguro), não podemos escolher outro caminho a não ser a maternidade.

Existe também a ideia de que toda mulher nasceu para ser mãe. Culturalmente é nosso destino, missão, vocação natural. Quem não quer ter filhos sofre uma pressão enorme. E muitas acabam acreditando que ser mãe é a única ordem possível, bela e natural das coisas.

Mas ser mãe na nossa sociedade não é fácil. A maioria vive sobrecarga de tarefas domésticas e maior responsabilidade pelo cuidado das crianças, desde cuidados básicos até o cuidado emocional, com a educação, com o lazer.

Cinquenta por cento das mulheres são demitidas após a licença maternidade. Ser mãe diminui as chances no mercado de trabalho.

Muitas precisam lidar com o abandono paterno, cuidando sozinhas das crianças.

É preciso lidar com a gestação, parto e puerpério, enfrentando todo um sistema para ser minimamente respeitada.

É preciso lidar com julgamento e cobranças. Conciliar trabalho, vida social e afetiva e maternidade. Dar conta de tudo e terminar o dia linda e cheirosa.

E falamos tanto da importância de uma maternidade mais leve, livre de culpa e cobranças, mas a verdade é que isso é um baita privilégio. A maioria está preocupada em como garantir o feijão no prato.

Dividir verdadeiramente a responsabilidade e cuidados com um parceiro/a é exceção.

Se a estrutura social fosse outra, com oportunidades e direitos iguais, creches e apoio para criação dos filhos, a maternidade poderia ser mais leve.

Não estou dizendo que temos que desistir de ser mãe. Para mim pessoalmente isso jamais seria uma realidade. Eu quis muito ser mãe. Muitas de nós queremos muito.

Precisamos lutar por mudanças para que a maternidade não seja fonte de exaustão. Precisamos lutar pela saúde física, financeira, mental e emocional das mães e de suas crianças.

O que estou dizendo é que mesmo na sociedade mais justa e igualitária do mundo, há mulheres que não querem ser mães e elas precisam ter esse direito. E que numa sociedade como a nossa, as mulheres têm muitos motivos para pensar mil vezes antes de fazer essa escolha.

Ser mãe é incrível e potente, mas é muita luta também. Não é à toa que muitas mulheres só entendem o feminismo após a maternidade.

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