Conjuntura

‘Corridas canceladas’ e preço tiram usuários dos apps e marcam a volta dos táxis

Procura por serviço de táxi aumentou nos últimos meses (Foto: Leonardo Costa)

Quem tem filhos nascidos em meados dos anos de 2010 possivelmente já foi questionado se aquele carro amarelo com um letreiro em cima seria uma espécie de “Uber colorido”. A indagação não deixa de ser cômica, principalmente para aqueles que, no fim dos anos 1980, ouviam Angélica “morrendo de saudade” ir encontrar alguém com o seu hit “Vou de Táxi”.

Mas de fato, após a chegada de aplicativos de transporte, quem costumava chamar um “amarelinho” fazendo sinal nas ruas ou ligando para uma das centrais acabou se rendendo à comodidade e ao baixo preço das corridas em carros que, lá no início, eram invariavelmente bem melhores. E as crianças, que não chegaram andar de táxi, ainda ganhavam balas.

Porém, com os seguidos reajustes dos combustíveis, conforme reportagem publicada por O Pharol, os usuários de transporte por aplicativo viraram vítimas do “preço dinâmico” e dos frequentes “cancelamentos de corridas”. Ao mesmo tempo, para evitar debandada de motoristas, os aplicativos aumentaram o valor das corridas.

Tudo isso tem levado passageiros a retornar ao táxi. De acordo com dados dos aplicativos de táxi, desde meados do ano passado, o crescimento do número de chamadas tem sido registrado de forma constante. De acordo com o Sindicato dos Taxistas de Juiz de Fora (Sinditaxi-JF), o serviço de táxi está absorvendo essa demanda de passageiros descontentes com os aplicativos de transporte.

 “A maioria desses passageiros busca, além do preço, a qualidade e segurança do serviço de táxi, visto que grande parte dos carros particulares que fazem transporte de passageiros através de aplicativos não está conseguindo manter as manutenções em dia, devido ao baixo preço das corridas e as altas taxas cobradas pelas operadoras dos aplicativos”, explica José Moreira, presidente da entidade.

O taxista Jorge Luiz de Oliveira reforça que, além das questões envolvendo a segurança dos passageiros, os preços também interferem na escolha por fazer corridas com os taxistas. “Justamente o que atraiu os passageiros para o transporte por aplicativo é o que os motiva a voltar para o táxi. O preço já não é convidativo mais, é um preço que, na maioria das vezes, é mais caro que o do táxi, mas o atendimento do táxi se mantém o mesmo. Estamos fazendo de tudo pra poder manter o padrão de atendimento.”

Para ele, a regulamentação do transporte por aplicativo contribuiria para manutenção do serviço. Em 2020, a PJF, sob a administração de Antônio Almas, encaminhou à Câmara Municipal o Projeto de Lei 4.418/2020 que visava tal medida, entretanto, o texto foi arquivado pelo Legislativo. “Nós queremos que eles façam a mesma documentação que nós, como prestar conta na delegacia, apresentar certidão negativa de débito da Prefeitura, INSS em dia como autônomo”, afirma Jorge.

Categoria se divide sobre reajuste da tarifa

A recente retomada do serviço de táxi em Juiz de Fora tem causado divisão na categoria. Parte dos taxistas entende que, embora os reajustes constantes dos combustíveis, ainda é possível manter a tarifa e aproveitar a grande procura. Por outro lado, entidades da classe consideram que após cinco anos sem aumento a qualidade e a segurança poderiam ficar comprometidas.

Desde 2021, o preço da gasolina no Brasil vem sofrendo com uma escalada por conta de reajustes consecutivos feitos pela Petrobras. O último deles, em março deste ano, foi de 18,8%, fazendo o litro do combustível saltar acima de R$ 7. Conforme o Sinditaxi-JF, quase 50% do faturamento da categoria é gasto em combustível, afetando diretamente a prestação do serviço.

“Grande parte dos táxis estão trabalhando apenas em um horário”, conta José Moreira. Ainda segundo ele, a maioria dos taxistas está evitando rodar com os carros vazios como forma de economizar combustível. “Quando deslocam com passageiros até um determinado bairro, ficam aguardando outro passageiro para retornar, provocando, em determinados horários, falta de táxis em pontos centrais.”

Ao realizar uma comparação levando em conta os últimos cinco anos, a gasolina subiu 71% em Juiz de Fora. Em abril de 2018, o preço médio era de R$ 4,457. Já o preço do etanol aumentou em 72% – há cinco anos, o litro custava R$ 3,122. (ver gráfico de evolução dos preços).

Enquanto o combustível subiu, a tarifa dos taxistas continua a mesma desde 2017.  Ainda assim, o taxista e colaborador do sindicato, Jorge Luiz de Oliveira, acredita que, mesmo com as dificuldades provocadas pelo aumento nos preços, manter a tarifa é a melhor forma de lidar com uma questão ainda maior: a competitividade com as demais formas de transporte individuais.

“Nós vamos para o quinto ano sem aumento. Está muito difícil, o combustível subiu, mas não só isso, as peças de veículos e até os veículos também. Mas estamos fazendo isso porque é a única forma que temos de combater o clandestino”, argumenta Jorge Luiz, em referência aos transportes por aplicativos ainda não regulamentados em Juiz de Fora.

Por outro lado, o Sindicato dos Taxistas solicitou os cálculos da defasagem do custo do serviço para a Secretaria de Mobilidade Urbana da Prefeitura de Juiz de Fora para discutirem um possível reajuste.

“O último reajuste de tarifa de táxi foi há 5 anos, em 2017. Na época, o valor considerado para o cálculo da tarifa foi de R$ 3,83 o litro de combustível”, diz José Moreira, destacando que, além do combustível, há outros custos operacionais do serviço. “Com a tarifa atual fica impossível manter um serviço com qualidade e segurança.”

Em nota, a Secretaria de Mobilidade Urbana informou que não pretende conceder reajuste para categoria neste ano. “O Sindicato dos Taxistas protocolou uma solicitação de reajuste de tarifa na SMU (Secretaria de Mobilidade Urbana), mas, a Prefeitura não tem nenhuma disposição de fazer o aumento de tarifa nesse momento.”