Toda cidade tem um Código de Postura. Ou deveria ter. Ou não deveria precisar ter, melhor ainda. Isso não tem nada a ver com suas costas curvadas diante do computador ou o pescoço pressionado pra baixo olhando a tela do celular. Nada de RPG nesse código. RPG é Reeducação Postural Global, mas se fosse o outro até seria uma boa…
No Código de Postura, todo cidadão seria orientado a escolher um personagem para, no Dia do RPG, lotar as mesas de parques, luderias, lanchonetes ou em casa mesmo, jogando e postando #PosturaRPG-JF. Mas não é nada disso, que pena.
Um Código de Postura lida com algumas normas de conduta que servem para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida numa cidade. Também não tem nada a ver com a postura de um artista diante do público, por exemplo, então o Emicida não violou o Código no Lollapalloza quando gritou “Ei, Bolsonaro, vá tomar no cu!”
A pandemia ajuda a entender como deveria funcionar um Código de Posturas. Houve um momento, lá no início de uma pandemia que ainda não acabou, em que a salvação parecia estar em ficar em casa, em isolamento total, e quase todos puderam fazer isso. Os motoboys (e girls) eram os agentes dessa salvação, capazes de manter alimentados os que cumpriam a quarentena.
Isso mostra uma realidade: nem todos puderam se recolher ao isolamento, como seria o ideal. Quem sabe, se fosse possível, e não só no Brasil, um real “fique em casa”, essa pandemia não teria acabado?
Com as ruas mais silenciosas, o barulho era só das motos. Agora, com as ruas cheias, o barulho das motos parece ter crescido e outros tantos desnecessários se misturado a elas. Moto barulhenta requer manutenção e, embora o som alto demais infrinja o Código de Posturas, multar os caras acaba sendo sacanagem, porque ganham mal e saem por aí buzinando em protesto contra os aplicativos.
Quanto às buzinas, essas sim merecem advertência e multa. Nem tanto das motos em protesto, mas dos motoristas sem educação, sobretudo em portas de escolas, exemplos da boa formação. Se o Código fosse aplicado ali daria até pra ouvir as crianças saindo da aula porque o trânsito se comportaria como (deveria se comportar) diante de um hospital.
Deu pra perceber que, quando o Djonga fala “Ei, Bolsonaro, vá tomar no cu!” no palco do Lollapalloza, ele não infringe o Código. Ele fala alto, mas ali o espaço está preparado pro volume do show.
Outra pandemia que parecia ter virado endemia durante a pandemia e que voltou a crescer foi a de cocô de cachorro na rua. Fica parecendo que o dono, imaginando que tá todo mundo em casa, pode deixar a merda no chão que ninguém vai pisar. O pensamento segue assim, se mantendo ao longo dos últimos dois anos. Ou se tornando ainda mais complexo.
Se o Código de Posturas orienta o dono a recolher os dejetos, ele segue a orientação: coloca o cocô na sacolinha e larga a sacolinha no chão. Que humano, que altruísmo, que gentil. Quem pisa tem não apenas a merda no fundo do tênis, mas um pedaço de sacola se arrastando junto.
Assim a cidade se desenvolve, amparada pelo Código de Posturas, gerando qualidade de vida, comodidade, higiene, saúde pública, moralidade e aperfeiçoamento pessoal e social. E jogar papel no chão é importante pra preservar o emprego do varredor de rua, atenção a essa prioridade de interesse público.
Por isso passa longe de romper com as orientações de um Código de Posturas municipais alguém que, no palco do Lollapalloza, faz como o Marcelo D2, na lata, sem dó…