Contexto

A Petrobras aumenta (e muito) o preço da gasolina. Por que o etanol vai junto?

Paridade com a gasolina, safras e mercado do açúcar afetam o preço do etanol nas bombas (Foto: Divulgação/Unica)

Não faltam explicações para a alta no preço da gasolina, do diesel e do gás veicular (GNV). O reaquecimento da economia mundial, que desacelerou com a recessão provocada pela pandemia de Covid-19, a guerra entre a Rússia (terceira maior produtora de petróleo do mundo) e a Ucrânia, a dificuldade do Brasil para refinar o petróleo bruto, o dólar…

Mas e o etanol? O Brasil é o maior produtor mundial de etanol derivado da cana-de-açúcar. Na última safra, em 2020/2021, foram produzidos 28 bilhões de litros de etanol, combustível que responde por 45% do consumo entre os veículos leves no país.

Ainda assim, todo vez que a Petrobras anuncia um novo aumento, e a Petrobras anuncia um novo aumento sempre, o etanol vai junto.

Isso acontece porque existe uma paridade entre o preço dos dois combustíveis no país. A sucinta análise é do diretor-técnico da Unica (União das Indústrias de Cana-de-açúcar), Antonio de Padua Rodrigues. Para ele, o que acontece é simplesmente uma questão de oferta e demanda.

“Sempre que a gasolina sobe, vai haver espaço para aumento do etanol. E, sempre que a gasolina cai, o produtor de etanol não consegue vender se não baixar o preço também. O consumidor é o grande formador de preço nesse mercado.”

É mais ou menos assim. Quando o preço da gasolina aumenta, o consumidor abastece mais com etanol, que passa a vender mais. E, com a alta demanda pelo etanol, os produtores sobem o preço cobrado para as distribuidoras, que repassam a alta para o consumidor.

Mas não é apenas a alta da gasolina que vai impactar no preço do etanol. Outros fatores, como a entressafra e questões climáticas, também podem interferir no preço dos derivados da cana-de-açúcar.

Segundo a Unica, a última safra sofreu uma queda de mais de 80 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por conta de clima, que teve desde geada a focos de incêndio, reduzindo tanto a oferta de açúcar como a oferta de etanol. Com isso, os preços oscilaram e, em alguns momentos, ficou muito mais favorável à gasolina e, em outros momentos, mais favorável ao etanol.

Ainda tem o fato açúcar. Um terço das usinas no país é dedicado exclusivamente à produção de etanol, segundo Antonio de Padua Rodrigues. O restante tem a capacidade de produzir tanto etanol quanto açúcar, conforme decisão do empresário. É por isso que a cotação do açúcar também influencia a decisão do produtor de processar mais ou menos cana para produção do etanol.

Quando a cotação internacional do açúcar é maior que a do etanol, o percentual de cana-de-açúcar destinado ao etanol cai, e aumenta a fatia para o açúcar. No caso da safra 2020/2021, por exemplo, o mix de produção destinado ao açúcar subiu de 35% para 46%.

De uma forma geral, entre 2011 e 2022, o preço real do etanol subiu 36,49% no Brasil, descontado o valor da inflação no período, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Em termos percentuais, o combustível derivado da cana-de-açúcar aumentou mais que o preço da gasolina, que é derivado do petróleo e cujo barril é negociado em dólar. No período, a gasolina, descontando o valor da inflação, foi reajustada em 20,58%.

Etanol ou gasolina? A regra dos 70% funciona mesmo?

Quando o dono de um carro flex vai abastecer, ele já conhece aquela regrinha da diferença dos custos. Se o etanol estiver custando até 70% do custo da gasolina, ele vale mais a pena. Caso contrário, abastece com gasolina. Mas aí vem a dúvida: todos os motores respeitam essa regrinha dos 70%?

Claro que não. Os avanços tecnológicos e com a eletrônica embarcada nos carros com motores flex, o consumo do etanol e da gasolina foi se aproximando e essa proporção pode ser menor ou chegar até 75%. Atualmente, esses casos variam e uma nova conta mais precisa pode ser utilizada, considerando o consumo de cada veículo com seu condutor principal com etanol e gasolina.

“Não existe mais essa eficiência de 70% como todo mundo fala, tem carros que tem eficiência de 76%, tem carro menos de 70%, tem a forma de dirigir. Então, o consumidor ao longo do tempo aprendeu a fazer essa conta e perceber claramente o que acontece”, explica Antonio de Padua Rodrigues.