Contexto

Lula deixou Minas Gerais sem avançar na aliança com Kalil e sem falar de Zema

Lula foi recepcionado por milhares de pessoas em Juiz de Fora (Foto: Leonardo Costa)

Depois de três dias de muita conversa e mobilização da militância petista em Belo Horizonte, Contagem e Juiz de Fora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou para São Paulo no início da noite dessa quarta-feira (11). Apesar de alguns reveses, a avaliação da visita para as direções nacional e estadual do partido foi positiva.

Avisado na véspera da viagem sobre as implicações da visita na construção da aliança com o ex-prefeito de Belo Horizonte e pré-candidato ao governo de Minas Gerais, Alexandre Kalil (PSD), Lula optou por manter os compromissos agendados no estado. A decisão se mostrou assertiva, mas com o custo político de adiar as definições e seguir sem um palanque mineiro.

Para não fechar as portas ao PSD, o ex-presidente segurou a pré-candidatura do deputado federal Reginaldo Lopes (PT) ao Senado. No evento com a militância em Belo Horizonte, o parlamentar colocou seu nome “à disposição do presidente Lula”. Contra sua indicação, pesa a insistência do PSD em ter o senador e candidato à reeleição, Alexandre Silveira, na chapa.

Na tentativa de entender os meandros do impasse da aliança com o PSD, Lula e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que integrou a comitiva do ex-presidente, reuniram-se com a direção estadual e os deputados do PT na Assembleia e na Câmara dos Deputados. A divisão dos petistas mineiros sobre a questão existe e é grande.

Um grupo formado pelo deputado estadual Virgílio Guimarães, o deputado federal Paulo Guedes e o ex-governador Fernando Pimentel considera a possibilidade de apoio à chapa com Alexandre Silveira. Em outra frente, liderada pelo presidente estadual do partido, deputado estadual Cristiano Silveira, a candidatura Reginaldo Lopes segue como única opção.

Após o encontro com os companheiros, Gleisi Hoffmann, em entrevista à rádio Super, de Belo Horizonte, cobrou espaço na chapa para o PT. “Nós temos muita simpatia pelo Kalil, o presidente Lula quer ficar com ele, mas, obviamente, nós vamos precisar sentar e conversar com o PSD porque não pode ser uma chapa pura, todo mundo do PSD na chapa.”

Quanto a isso, parece haver um consenso entre a direção do PT de Minas e as bancadas parlamentares. O problema é que ninguém no PSD trabalha com a hipótese de abrir mão da disputa de senador. O Portal UOL revelou que a cúpula nacional do partido considera a cadeira no Senado mais importante do que tentar o governo de Minas Gerais, sendo assim mais fácil a desistência de Kalil do que a de Alexandre Silveira.

Interlocutores do próprio Kalil são unânimes em afirmar que a candidatura de Alexandre Silveira ao Senado é inegociável. E não é para menos. O senador, que assumiu após a ida de Antonio Anastasia para TCU (Tribunal de Contas da União), era chefe de gabinete do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sendo responsável pelo gerenciamento das emendas da Casa. Não à toa, vem sendo sondado para líder do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso desde antes de assumir.

Por aqui, deputados e prefeitos do partido não têm do que reclamar quanto aos repasses de recursos. Como não bastasse, Alexandre Silveira também é presidente do PSD mineiro, ou seja, os recursos partidários para a campanha de Kalil e dos deputados passam por suas mãos.

Por tudo isso, o próprio presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, teria sinalizado a Gleisi Hoffmann concordar com a necessidade de espaço para o PT na chapa, mas alertou que dificilmente será pela via do Senado. A possibilidade que passou a ser aventada nos últimos dias é de o presidente da Assembleia de Minas, Agostinho Patrus, abrir mão da condição de pré-candidato a vice.

Os adeptos da ideia consideram ser o único caminho possível caso Kalil considere mesmo imprescindível a aliança com Lula, como afirmou durante sabatina ao Portal UOL. Nesse contexto, Agostinho Patrus teria como prêmio de consolação sua indicação para a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Ser o segundo nome da chapa encabeçada por Kalil nem de longe agrada Reginaldo Lopes e a direção do PT de Minas Gerais. O problema é que, dessa forma, a questão do espaço na chapa colocada por Gleisi Hoffmann estaria sanada.

Por via das dúvidas, Lula e Gleisi Hoffmann anunciaram a intenção de retornar a Minas Gerais e continuar “teimando” com a aliança. Também pela incerteza de estar ou não no mesmo palanque de Kalil no estado, Lula poupou o governador Romeu Zema (Novo) em todos os eventos com a militância. Além de preservar o eleitor governista, sinalizou para o PSD que a ausência de lado na disputa mineira pode ser também um caminho viável.