Contexto

O futuro do jornalismo pelos olhos dos futuros jornalistas

“Apenas se nega a discussão da vida privada”. Essa ressalva encontrada em uma nota veiculada por O Pharol em 9 de abril de 1870, quando o periódico iniciava sua circulação em Juiz de Fora, resume o primeiro ano do novo O Pharol, aceso há exatamente um ano, no dia 31 de maio de 2021.

Nesse último ano, como no final do século XIX, o jornal esteve à disposição “para qualquer escrito relativo ao bem público ou a interesses de qualquer município ou do país em geral”. E foram muitos escritos e outras tantas histórias sempre em respeito aos interesses dos cidadãos do município e do país em geral.

Ao completar seu primeiro ano nesse novo ciclo, O Pharol se volta para o futuro do jornalismo. Seguirá o jornal se negando a discutir a vida privada? (Restará vida privada?) Estará aberto a qualquer escrito mesmo não havendo escrita? Haverá fatos ao alcance da luz?

Para responder essas e outras questões, os jornalistas de O Pharol conversaram com os estudantes de jornalismo do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, da UniAcademia e da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora. O resultado será apresentado abaixo, mas já antecipando, há futuro para o jornalismo.

A primeira questão abordada pelos estudantes logo de saída envolve a certeza quanto às constantes mudanças na forma e nos meios para se comunicar. Quanto a isso, Jéssica Oliveira disse que o melhor é não pensar em algo permanente. “Não vamos parar por aqui. Acho que novas formas de comunicação vão aparecer muito em breve”.

As seguidas e intermináveis transformações no campo da comunicação estão relacionadas com o advento da internet. Esse novo ambiente digital e em constante mutação, na avaliação da maioria dos futuros jornalistas, trouxe possibilidades incríveis e os inevitáveis efeitos colaterais.

Mas antes de entrar no mérito da questão, Isabella Oliveira ponderou quanto à exclusão digital. Sem acesso à internet de qualidade, milhões de pessoas no mundo são privadas das oportunidades e possibilidades informativas do mundo digital. Esse público, segundo ela, quando consegue se informar ainda é pelos meios “tradicionais”: rádio, TV e publicações impressas.

Seguindo com os problemas decorrentes da digitalização da comunicação, Manfrini Lucas considerou o impacto no modo de trabalho dos jornalistas como algo nocivo ao jornalismo. “Hoje as assessorias conseguem enviar imagens de vídeo, áudio, ótimas fotografias. Isso acabou gerando comodismo no fazer do jornalismo”.

A provocação repercutiu entre os demais futuros jornalistas. Para Gabriel Bhering, a impressão que se tem hoje é de que o jornalismo está sendo feito a partir de cópia das informações divulgadas pelas assessorias. “O jornalismo que vai atrás dos fatos, que emociona, ele está acabando”.

Pâmela Nocelli, no entanto, chamou atenção para o fato de as pessoas que presenciam certos acontecimentos terem meios hoje para divulgá-los. “O jornalista não vai estar em todos os lugares o tempo todo. A rotina está mais rápida. A internet democratizou a comunicação”.

O problema, segundo Pedro Moysés, foi a mudança de concepção do jornalismo, que passou a ter uma apelo mais comercial. “As redações estão cada vez mais enxutas. O foco deixou as reportagens e passou a ser o factual porque isso é o que dá cliques. Precisamos recuperar essa coisa de contar histórias bem contadas. Isso leva à reflexão. Precisamos recuperar o jornalismo com preocupação social”.

A precarização do fazer jornalismo atualmente trouxe para a conversa a jornalista de O Pharol, Leticya Bernadete. Para ela, a escassez de profissionais nos jornais e nas TV’s somada à manutenção do modelo de publicação e exibição do período pré-digital acabam levando os jornalistas a recorrerem às informações das assessorias e das redes sociais para darem conta do recado.

A falta de jornalistas nas redações é consequência de outro problema: o modelo de financiamento do jornalismo nas plataformas digitais. Quanto a isso, o estudante João Victor contou sua experiência pessoal sobre a crise do impresso. “Meu pai, em 2001, quando eu nasci, comprou dois jornais (Tribuna de Minas e O Globo) e os lacrou. Só poderia abrir quando fizesse 18 anos. Quando eu os abri, comprei os mesmos exemplares atuais. Descobri que ler jornal no papel é gostoso, mas sei que os jornais não sobrevivem mais só com o papel”.

Sobre o financiamento, Matheus Schettino considerou como problemática a proposta de se cobrar para ler as matérias na internet, mas ponderou ser um desafio disponibilizar informação de qualidade de forma gratuita.

As vantagens de se fazer jornalismo em um ambiente digital foram colocadas na discussão por Graziela Matoso. Na sua avaliação, os jornais digitais trabalham com a instantaneidade da notícia, com a informação chegando cada vez mais rápida. “O site permitir ter infográfico, vídeos, podcast. Isso abre as muitas opções para o público. Isso desperta mais audiência. Isso também possui mais alcance”.

Por outro lado, a estudante voltou com os efeitos colaterais do mundo digital para a conversa com o problema das fake news e das “pessoas que fazem jornalismo sem saber o que estão fazendo”. Manfrini Lucas, por sua vez, chamou atenção para a interferência dos algoritmos ao selecionar o conteúdo a ser disponibilizado.

Em relação às fake news, a jornalista Táscia Souza, de O Pharol, questionou se a divulgação de desinformação não existia antes da internet. Para Jéssica Oliveira o que aconteceu foi que esse fenômeno se potencializou no mundo digital.

Quanto aos algoritmos, Táscia concordou que seu uso pode comprometer a democratização plena da comunicação, além de gerar fenômenos políticos graves. Por outro lado, Pâmela Nocelli lembrou que as chamadas “bolhas” não são prerrogativas da internet. “Os públicos das emissoras TV´s eram distintos. As pessoas devem ter um papel mais ativo ao consumirem informações”.

O papel do consumidor de informações no ambiente digital foi questionado também por Lucas Geia. Ele condenou a falta de ativismo das pessoas. “Seguindo a página de um jornal, consigo saber do conteúdo. Não espero apenas as notificações. Acho que falta isso hoje em dia. Os leitores estão acomodados. As pessoas simplesmente esperam as informações chegarem, por que não aprendem a pesquisar?”


Participaram da conversa com O Pharol:

Ana Resende – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora

Felippe Caiafa – UniAcademia

Gabriel Bhering – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora

Graziela Matoso – UniAcademia

Isabella Oliveira – Centro Universitário Estácio Juiz de Fora

Isabella Sobral – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora

Jéssica Oliveira – Centro Universitário Estácio Juiz de Fora

João Víctor da Silva Calais – Centro Universitário Estácio Juiz de Fora

Letícia Xavier – UniAcademia

Lucas Geia – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora

Luiza Sudré – UniAcademia

Manfrini Lucas – Centro Universitário Estácio Juiz de Fora

Matheus Schettino – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora

Pâmela Nocelli da Costa – Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora

Pedro Moysés – UniAcademia

Jornalistas de O Pharol

Leonardo Costa

Leticya Bernadete

Ricardo Miranda

Táscia Souza