Sim, o bispo precisa transferir os padres de tempos em tempos entre as paróquias da diocese ou arquidiocese. Trata-se de uma prática comum na Igreja Católica, quase sempre acompanhada de apelos como “ele é o nosso padre”, “ele estava bem aqui”, “ele não pode sair”.
Em Juiz de Fora, no último domingo (22), o arcebispo dom Gil Antônio Moreira divulgou a lista com 33 transferências de padres. Ele explicou que essas mudanças são naturais e inevitáveis. “Elas vão acontecer sempre, não há como um padre ficar perpetuamente em uma paróquia.”
A nota divulgada pela Cúria Metropolitana ainda cita o Código de Direito Canônico, em seu cânon que trata do modo de proceder na transferência de párocos. “Se o bem das almas ou a necessidade ou utilidade da Igreja já exigirem que o pároco seja transferido de sua paróquia, que dirige com eficiência, para outra paróquia ou outro ofício, o bispo proponha-lhe a transferência por escrito e o aconselhe a consentir, por amor a Deus e das almas”.
A instrução “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, publicada em 2020 e redigida pela Congregação para o Clero, órgão colegiado da Cúria Romana responsável por analisar matérias relacionadas a padres e diáconos, também aborda a transferências de párocos.
O documento recupera a abordagem do Concílio Ecumênico Vaticano II sobre a questão ao afirmar que “os párocos na sua paróquia devem poder gozar daquela estabilidade no ofício que exige o bem das almas”. Em seguida, coloca como princípio geral, o pedido de que o pároco seja “nomeado por tempo indeterminado”.
No parágrafo seguinte, no entanto, a instrução prevê a nomeação de párocos por tempo determinado, se assim é estabelecido por decreto da conferência episcopal. Mas há a recomendação de que, “em razão da necessidade que o pároco pode estabelecer uma efetiva e eficaz ligação com a comunidade que lhe foi confiada”, não se estabeleça “um tempo muito breve”.
Por fim, a Congregação para o Clero se dirige aos padres. “Os párocos, mesmo se nomeados por ‘tempo indeterminado’, ou antes de concluir o ‘tempo determinado’, devem ser disponíveis para eventuais transferências a outra paróquia ou a outro ofício”. E conclui: “É bom, de fato, recordar que o pároco está a serviço da paróquia e não o contrário”.
Mas e o padre Pierre? Não tinha a questão da mudança do trânsito durante a “Missa do Impossível”?
O padre Pierre Maurício de Almeida Cantarino, que está à frente da Paróquia de São José, no Bairro Costa Carvalho, há sete anos, será transferido para a Paróquia Santa Rita de Cássia, no Bairro Bonfim. Ele ficou conhecido como idealizador da “Missa do Impossível”, celebrada nas noites das terças-feiras com a presença de milhares de fiéis.
Após o período de pandemia, com as celebrações sem público e transmitidas pelas redes sociais, Pierre retomou as missas presenciais em março deste ano. No caso específico da “Missa do Impossível”, a suspensão do tráfego de veículos na avenida em frente à igreja, como acontecia desde 2014, não foi mais possível.
A situação foi levada aos vereadores Sargento Mello Casal (PTB), João Wagner Antoniol (PSC), Marlon Siqueira (PP) e Vagner de Oliveira (PSB) que estiveram no local no momento da celebração e depois se encontraram com o pároco. Na ocasião, Pierre disse que queria a “ajuda da Prefeitura (de Juiz de Fora) para que possamos dar segurança ao fiel que vem buscar consolo, conforto, palavra amiga”.
Enquanto os vereadores trabalhavam para conseguir comprovar tecnicamente a necessidade de alteração do trânsito próximo à Paróquia de São José, Pierre surpreendeu os fiéis ao anunciar sua transferência para a Paróquia Santa Rita de Cássia. A informação foi confirmada pela Cúria Metropolitana.
O fato de a mudança dos párocos, em especial de Pierre, ter acontecido no momento em que se buscava uma saída para o impasse envolvendo o trânsito no dia da “Missa do Impossível” acabou gerando especulações sobre os reais motivos da transferência. Lembrando que, nas eleições de 2020, Pierre apoiou abertamente o candidato Wilson Rezato (PSB), derrotado no segundo turno por Margarida Salomão (PT).
A Cúria Metropolitana abordou o caso de Pierre no contexto das demais 32 transferências sem nunca mencionar a questão política.
No domingo (22), por meio de nota, o bispo dom Gil Antônio Moreira tratou a mudança de Pierre como decorrente de “motivos pastorais e para maior segurança de todos”. Em seguida, ele se referiu ao padre como “nosso filho espiritual que tem enfrentado dificuldades para o exercício de seu trabalho pastoral” e lhe ofereceu “paternalmente o que a Palavra de Deus ensina: ‘Sê forte e corajoso!'”
Falando especificamente sobre a “Missa do Impossível”, disse esperar que, “na nova paróquia, onde há mais espaço para as multidões que acorrem às celebrações, tanto ele quanto os fiéis tenham melhores condições e mais liberdade para a prática da fé e da caridade.”.
A Prefeitura de Juiz de Fora abordou a questão da alteração do trânsito próximo à Paróquia de São José de forma técnica e não comentou a mudança dos párocos.