Parece que nada acaba neste país! A crise econômica chegou com a família real… (parênteses pra frase do Twitter: “Toda família é real, exceto as famílias que não existem, tipo a ‘Família Imperial Brasileira’” @conradomoreira).
De volta ao raciocínio de que nada acaba no Brasil: a crise econômica chegou com a família real e ficou, a crise na saúde chegou com Cabral e ficou, a ameaça comunista veio com a Intentona e permanece, a inflação surgiu com o padrão ouro e só se fingiu de morta, o Bolsonaro tá agarrado na presidência e não sai, a pandemia começou na China e não desgruda daqui.
Estudos de História, Economia, Ciência Política, Medicina e Comunicação Digital (perdão, piadinha com o tuíte) explicam de diferentes formas quase tudo acima. O que não impede alguns pitacos sobre duas das infinidades ou infinitudes: a pandemia e o Bolsonaro.
Pela ordem alfabética: Bolsonaro.
Desde que foi convidado a se ausentar do exército que ele tanto ama (a expressão “mulher de malandro”, tão machista quando o objeto, se encaixa no contexto), ele se pendurou no poder público, da vereança (herdada pelo zero-coisa perverso dentro do sistema imperial) à presidência, com décadas de deputância que você, leitor, pagou, mas ele não fez nada. Foi eleito, por conta do tempo em que se pendura na política, também com votos de papel.
Político pendurado na política não falta no Brasil, mas brasileiro parece que gosta. Elegeu um em 2018, mas quase fez isso com outro em 2014. Nesta coçassacocracia, vale lembrar que este ano tem eleição e dificilmente sairemos dessa apatia legislativa, apesar dos remadores no barco do eterno país do futuro (frase muito usada pelo professor Ricardo Vélez, que foi ministro da Educação e fez de tudo pra manter a frase valendo).
O presidente, que deve seu mais alto passo eleitoral à urna eletrônica, chamou embaixadores pra contar, num brienfing (estava assim no slide), que não existe credibilidade na votação eletrônica. E tinha embaixador escutando o que ele estava falando! O que já não aconteceu na Espanha, quando o presidente da Funai foi expulso de uma conferência indígena internacional.
Quem mais se beneficiou com a pandemia foi o Bolsonaro. Não é uma afirmação econômica, porque morreram 670 mil pessoas, o que economizaria em auxílio emergencial. Nem todas essas pessoas precisariam desse tipo de auxílio (nem todas eram da família do Hulk, jogador do Atlético), mas de outros auxílios que ele não ofereceu, como infraestrutura de saúde pelo Brasil afora e, ainda mais importante, informação correta. Ele matou muita gente sem pegar em armas.
Quando um pseudo-militar enfrenta uma guerra estando à frente de uma nação, o que se espera é uma estratégia eficaz. Nada do que ele fez parecia sinalizar que o combate contra o vírus é uma guerra. E o Brasil segue perdendo. Variantes, mortes, médias, internações, nada muda. Só o jeito de muita gente ao falar: “quando a gente tava na pandemia…”. Por um outro lado, o Bolsonaro ganhou. Quando esse discurso deixa de se tornar incômodo, ele ganha.
Como ganhou, durante boa parte da pandemia, com a consciência da oposição, que ficava em casa e desaprendeu a protestar, porque internet é lugar de ninguém, eco de imbecis. A esquerda perdeu as ruas, porque quem sai de carro, que é seguro, é a direita. Agora, na versão flex, é a vez das motos sem capacete. A esquerda é pé no chão, marcha, grita palavra de ordem, faz coro. Sem essa de buzina e berrante. E as panelas foram ficando caras.
Cozinhar ficou caro no Brasil. Das panelas ao que deveria ir nelas, do gás de cozinha ao combustível de quem desloca os alimentos, tudo ficou caro. O povo desaprendido de gritar, fraco pra marchar, teria dificuldade pra escrever nomes. Por isso o medo da urna eletrônica, com menos esforço pode-se acabar com o Bolsonaro e os estigmas do golpe, o que requer um congresso mais progressista. Quem sabe, sem Bolsonaro, surjam ações mais conscientes e acaba a pandemia também?