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Quem compra em Sebo é gente boa!

Ilustrações - Eduarda Nogueira Vieira

O mercado do livro impresso vem sempre enfrentando alguns obstáculos. Frequentemente, circulam notícias de que as pequenas livrarias estariam correndo risco de extinção com o surgimento e monopólio das grandes livrarias, que invadem as cidades (principalmente nos shoppings) com suas filiais, dominam o mercado e a variedade dos livros. Mesmo que a variedade (controlada) às vezes deixe a desejar, estão sempre prontos para fazer o comércio online e realizar pedidos ou entregar na nossa porta. Com tanta conveniência, fica difícil não cair em suas graças. Mas fiquemos atentos! Toda essa comodidade, na verdade, é um árduo trabalho de monopolização de um serviço, domínio este que “engole” o espaço dos pequenos comércios locais.

A cidade de Juiz de Fora possui uma variedade de livrarias, a maioria faz parte dos grandes grupos. Há também as livrarias menores, “autônomas”, que resistem no mar do oligopólio, mas não é delas que quero falar. Quero falar aqui das livrarias de segunda mão. Livro é uma mercadoria avessa ao descarte. Por julgamentos internos ou públicos, jogar um livro fora ou danificá-lo produz desconfortos aos bons sujeitos. Por conta dessa característica, os sebos são negócios que agradam as duas partes: de quem quer se desfazer de um livro e conseguir dormir com a consciência limpa, e os que buscam obras literárias. Seria um jogo em que, aparentemente, todos venceriam, comércio sustentável por si só. Não condeno a compra de livros novos, não me entendam mal, mas realço a beleza de um livro que vem com uma história a mais: a dele próprio.

E é nesse nicho de apreciar histórias paralelas entre literatura e jornada do próprio livro, que me encantei pelos sebos (e confesso que comecei a colecionar dedicatórias de terceiros). Em Juiz de Fora, me deleito com as opções de sebo que são oferecidas. Faço questão de apresentá-los a quem quer que venha me visitar. E além dos acervos de primeira, os sebos ainda apresentam um charme a mais: seus curadores. Aqui me refiro ao Sr. Cláudio, Sr. Walter, Jean e Wellerson.

O senhor Cláudio é responsável pelo belíssimo Sebo Quarup. Um acervo gigantesco e labiríntico. Os livros criam uma decoração por si só! Trazem aconchego e encanto. E o senhor Cláudio – amante de um jazz que coloca como som ambiente – tem uma memória implacável! Sabe de cabeça referências, títulos, sugestões das mais variadas áreas e, pasmem, a localização de cada obra!

No quesito acervo, tenho que ressaltar o “Academia do Livro”, sob curadoria do Sr. Walter. As obras que encontrei nesse sebo vão desde clássicos – como uma edição portuguesa de mais de 100 anos de Dom Quixote- até obras com edições mais novas. Um lugar pequeno e aconchegante, uma joia bem na Avenida Rio Branco, embaixo da Casa d’Itália. Além dos livros, há um vasto acervo de objetos antigos, servindo também um pequeno antiquário.

Outra coisa encantadora que descobri em sebos é a assertividade em recomendar obras. Nesse quesito, devo ressaltar os atendentes da Livraria Dom Pedro II, Jean e Wellerson, na Galeria Mohamed (da Banca do Vasco). Foi preciso um brevíssimo briefing com um dos atendentes para que ele indicasse um livro para presentear meu avô. Se ele acertou? Meu avô anda com o livro embaixo do braço! E não foi só dessa vez, na primeira vez que visitei o sebo, adquiri um dos livros mais especiais que tenho, também por indicação do atendente.

O objetivo aqui não é apenas de divulgação dos locais citados (nenhum deles pagou ou sabe desse texto), o que quero destacar é que ao descrever todos os três, o principal ponto foi a experiência de compra que oferecem. São estabelecimentos que resistem com muita luta e que estão dispostos a propiciar uma forma de consumo de uma maneira diferente da compra rápida, impessoal e cômoda que acabamos nos habituando. Já que a prática do consumo faz parte do nosso cotidiano nas cidades, que seja de uma maneira em que haja troca e interação, pois o que há de mais valioso na natureza humana é esse contato e conexão que fazemos pelos espaços que passamos, vai por mim! Por isso, friso que toda pessoa que gosta de sebo, é gente boa!