Perto de completar metade da campanha, os candidatos aos governos dos estados e do Distrito Federal já arrecadaram R$ 400 milhões. A maior fatia dos recursos veio do fundo eleitoral. Dividindo os valores arrecadados até agora pelo número de eleitores aptos a votar de cada unidade da federação, é possível constatar uma enorme discrepância no “custo do voto”.
O levantamento dos valores arrecadados pelos candidatos a governador e sua divisão pelo número de eleitores foi realizado por meio de uma parceria entre O Pharol e O Calçadão com base no sistema de divulgação de candidaturas e nos registros eleitorais do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
A disputa no Acre, que tem sete candidatos ao governo, é a que possui a projeção de “custo do voto” mais alta. As campanhas possuem recursos para gastar em média R$ 25 com cada um dos 588.433 eleitores. Considerando que a arrecadação ainda deve aumentar e uma parcela do eleitorado não comparecerá às urnas, o estado caminha para ter um dos votos mais “caro” do país.
Na mesma região Norte, a situação muda completamente, com o menor “custo do voto até agora”. Com R$ 4,5 milhões arrecadados até essa segunda-feira (5) e 6 milhões eleitores, os nove candidatos ao governo do Pará têm recursos para gastar proporcionalmente apenas R$ 0,75 por eleitor.
A discrepância de gastos em uma mesma região geográfica acontece também no Centro-Oeste. O “custo do voto” no Mato Grosso, com quatro candidatos a governador, é R$ 0,77 enquanto no Mato Grosso do Sul, onde oito candidatos disputam o governo, chega a R$ 10,77.
Nos três maiores colégios eleitorais do país – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro -, o “custo do voto” difere na casa dos centavos. Os 10 candidatos paulistas e os 10 mineiros hoje podem gastar até R$ 1,33 e R$ 1,93 por eleitor respectivamente. Os nove concorrentes ao governo fluminense, em média, têm recursos para gastar R$ 1,68 por eleitor.
A discrepância de valores acontece em parte pela ausência de regras claras para distribuição dos recursos do fundo eleitoral. Com isso, quem decide os beneficiários do repasse e sua quantia são os caciques da sigla. Quando quatro grandes partidos, com bancadas expressivas, resolvem se enfrentar em um mesmo estado, os recursos para as campanhas serão vultuosos.
A concentração de poder nas mãos de dirigentes partidários, responsáveis por definir a divisão das verbas, acaba privilegiando quem já tem mandato e para os puxadores de voto. O ideal, segundo o cientista político Jairo Nicolau, da FGV-RJ, seria definir um percentual mínimo a ser definido de forma equânime entre os candidatos.
O fato de cada cidadão poder contribuir com até 10% de seus rendimentos brutos declarados no ano anterior ao pleito também pode implicar em distorções. Isso porque executivos de grandes grupos e agentes do sistema financeiro conseguem financiar sozinhos vários candidatos, enquanto profissionais liberais ou assalariados não podem fazer frente a essas figuras.
Exemplo mais notório foi do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em 2018, quando investiu R$ 54 milhões do próprio bolso em sua campanha à Presidência. Com apenas 1,2% dos votos válidos, o então candidato do MDB gastou sozinho R$ 42 por voto.