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Escolha difícil?

Estamos vivendo uma eleição presidencial muito difícil, de pouquíssimo debate de ideias e muitas mentiras. Muitos dizem que temos uma escolha difícil, mas a maioria dos eleitores já está bem decidido por um dos lados.

Eu escolhi votar em Lula. E a sensação quando vejo comentários de eleitores do candidato Bolsonaro é que vivemos em universos paralelos em que os fatos reais são interpretados de forma completamente diferente e ainda há uma série de fatos inventados principalmente pela campanha bolsonarista.

Eu sei que interpretamos os fatos a partir das nossas crenças, valores, ideologias. Mas o abismo é tão grande que o debate fica impossível.

Isso me preocupa mais do que a própria eleição. Se Lula vencer, teremos um caminho aberto para começar a reconstruir o país, teremos também a garantia da democracia que tem sido constantemente ameaçada por Bolsonaro.

Mas ainda haverá um trabalho enorme. O bolsonarismo produziu algo difícil de desfazer: há um grande número de pessoas que se informa somente pelos canais e redes bolsonaristas. Alimentando não só notícias totalmente falsas como interpretações duvidosas, que não tem respaldo nenhum na realidade.

Bolsonaro conseguiu encher a piscina de ratos, com ideias que não correspondem aos fatos.

Na minha bolha, vejo pessoas desesperadas por tentar restaurar a possibilidade de um diálogo minimamente saudável e razoável. Temos saudade das eleições entre PSDB e PT. Tinha conflito, tinha notícia falsa, tinha acusações. Mas nem de perto na proporção que estamos vendo nessa eleição.

Outra coisa que chama atenção é a violência, que nunca foi a marca das eleições brasileiras. Eleitores do Lula sendo agredidos fisicamente de forma gratuita, bispo sendo ameaçado, igrejas invadidas.

Talvez eu não devesse me surpreender com isso, já que Bolsonaro sempre representou, expressou e incitou violência e barbárie em seus discursos.

Olho para o cenário geral, tentando resgatar a socióloga que ainda habita em mim, tentando entender o que se passa na cabeça das pessoas para apoiar tanta violência, preconceito, racismo, homofobia, destruição, desmatamento. Apoiar população armada, apoiar um sujeito que teve coragem de dizer a uma mulher “só não te estupro porque não quero”, que disse também que a ditadura matou foi pouco.

Um presidente que negou a pandemia e adotou políticas que aumentaram ainda mais o número de mortos. Mas como ele mesmo disse, gente morta não é problema dele, já que não é coveiro.

Eu podia listar tantas atrocidades, mas não cabe neste artigo. O nível é muito baixo.

Tento entender, mas não alcanço. Eu sei que muitos eleitores de Bolsonaro não defendem esses horrores. Mas aceitam em nome de um antipetismo. Ou será que nesse universo paralelo a violência e o desgoverno de Bolsonaro não aparecem?

Dizem que votam contra a corrupção. Nesse universo paralelo, a corrupção de Bolsonaro também não existe? Não vou nem entrar nos escândalos envolvendo sua família. Só lembrar que ele é o único presidente que lançou sigilo de 100 anos sobre os cartões corporativos e o que mais trocou comando da Polícia Federal. Está escondendo o que?

É triste ver uma eleição entregue a falta de debate, é triste ver tanta gente defendendo o indefensável. Não era para ser uma escolha difícil e não é à toa que tantas pessoas de diversos campos apoiando o Lula: direita, centro, esquerda.

Estamos gastando uma energia enorme para combater notícias falsas e abrir espaço para debater projetos. E teremos que seguir fazendo isso. Nos próximos dois meses de governo Bolsonaro e depois.

Precisamos respirar, olhar para o lado e ver que tem muita gente caminhando junto, que hoje somos inclusive maioria. Lula vai vencer e teremos um terreno mais fértil e propício para acabar com tanta mentira, medo e violência. O amor vai vencer o ódio é a ordem do dia. Tem frase feita que cai como uma luva.

A vitória do Lula não resolverá tudo. Mas vai trazer a esperança tão necessária para seguirmos lutando por um país livre de ideias autoritárias, desrespeitosas e violentas.