Já há alguns meses, uma moça e um moço do jornal O Pharol me fizeram o convite para assinar uma coluna. Como não sabia a resposta, não respondi de pronto. O tempo passou e, quando o assunto parecia dado por encerrado, o convite foi refeito. Ainda continuo sem saber a resposta, mas resolvi aceitar.
Não falaram de métrica, não pediram para gravar vídeo; me deixaram à vontade. Deram a um velho homem que se fez letrado a liberdade tão necessária, mas tão pouco cultuada nas academias. Por lá, por andei por longos anos, não se escreve mais por encanto ou desencanto, apenas se produz conhecimento. É o que falam.
Quando o Ronaldo começou a namorar sua esposa, ela morava em Benfica e ele no Santa Luzia. Sua rotina consistia em chegar do trabalho no final da tarde, tomar um banho e sair de bicicleta para ver a moça. Fez assim por dois anos três vezes por semana. Depois do noivado, aumentou para cinco.
Um dia quis saber quando iam se casar. Ele me disse que ainda era cedo. O amor começa tarde! Até hoje fico pensando nos sonhos do Ronaldo a cada ida a Benfica em cima da sua bicicleta. Como ele olhava para o Paraibuna. Se às vezes corria ou se molhava com a chuva. Como aprendeu tanto sobre o tempo.
Minha neta não quer namorar. Os meninos – me confidenciou – gostam de figurinhas. Além do mais, eles correm muito na hora do recreio. Por isso, o que não é pouca coisa, ela quer mudar de escola no próximo ano. Não sei se terá tanta sorte, mas é confortante saber que ela aposta em novos espaços, em novos mundos.
Um dia também quis ir para um novo mundo. Não pensava em ir de bicicleta para encontrar um amor de vida inteira, tampouco queria um lugar sem figurinhas para levar minha neta. Pesquisei num velho mapa um ponto distante e acabei encontrando uma pequena cidade no sul do Chile.
Li muito sobre aquele lugar. O frio, a pesca, o vulcão. Às vezes, quando ficava parado olhando para o nada, pensava naquele mundo que fui criando. Queria fugir para lá sempre que me via obrigado a produzir alguma coisa para publicação com citações, apuds e outros bichos mais. Hoje, parece que estou escrevendo de lá.
