As últimas seleções brasileiras verdadeiramente identificadas com o torcedor comum foram as de 1982/Copa da Espanha e 1986/México – não por caso dirigidas por Telê Santana. Nesta última, o capitão era Sócrates, que entrava em campo com mensagens políticas (em fitas na cabeça) e, no jogo contra a Espanha, mandou que os companheiros saíssem da posição de cantar o Hino quando a organização da Copa tocou o da Bandeira ao invés do Nacional – em uma demonstração genuína de patriotismo, bem diferente do “último refúgio dos canalhas” de agora.
De lá para cá a distância entre a seleção e o torcedor foi aumentada por personagens e fatos. Em 1990/Itália e 2010/África do Sul o que contavam eram a arrogância e a truculência de Sebastião Lazaroni e Dunga, bem escoltado por Felipe Melo. Em uma entrevista coletiva, perguntado sobre como a seleção brasileira jogaria na estreia, Lazaroni respondeu: “De camisa, calção e chuteira”. Dunga técnico era o mesmo Dunga jogador, que na Copa de 1994, ao levantar a Taça desafiou os jornalistas, com um rancor doentio: “Fotografem, seus traíras”.
O tetra de 1994 foi marcado, a propósito, pelo “voo da muamba”, liderado por Romário e o patriota Zagallo; a de 1998/França, pela convulsão de Ronaldo Fenômeno, confundida desde sempre no imaginário popular por “desígnios da Nike”; a de 2002/Japão e Coréia do Sul, pelo verdadeiro “mercado persa” da Família Scolari; a de 2014/Brasil, pelo 7 a 1, e a de 2018/Rússia, pelo ridículo hábito de Neymar de rolar pela grama.
Agora temos a seleção dos bifes de ouro, que seria apenas brega e falta de bom gosto de meninos mimados e ricos se os jogadores não “representassem” um país com milhões de pessoas passando fome. O episódio é tão escabroso que supera a declaração de um jogador que perdeu a Copa de 2006/Alemanha, sobre “gastar no supermercado num dia o que o torcedor ganha por ano”.
Dentro das quatro linhas, a seleção brasileira ganhou da Sérvia, da Suíça e da Coréia do Sul, e perdeu, com o time reserva, de Camarões – mas isso é apenas e tão somente futebol.