A vida é um eterno perde e ganha: num dia a gente perde, no outro a gente apanha. Com esse ensinamento do Marcelo D2 pode-se pensar tanta coisa, inclusive o futebol. E numa Copa do Mundo, talvez com uma exceção, todo mundo perde. “Talvez” porque até quem leva a Copa pra casa pode ter perdido na fase de grupos.
A dúvida é qual o maior sofrimento: perder três vezes na fase de grupos, perder duas seguidas no mata-mata (semifinal e ficar em quarto lugar depois) ou perder na final. A certeza é que dói, mas que levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima é essencial.
Entram 32 times no campeonato, disputando 64 partidas, com 48 delas podendo terminar em empate, um paliativo pra muitas equipes no clima inicial de tensão. Quantas não desejariam, hoje, passado o confronto, ter empatado? E quantas não celebraram o empate inacreditável diante de alguma grande seleção?
Melhor ainda é celebrar vitória, como a do Marrocos sobre a Espanha, a Fúria, nas oitavas, a da Arábia Saudita sobre a sempre inexplicável (quando ganha ou quando perde) Argentina, ou a do Japão sobre a Alemanha, uma das maiores campeãs do mundo.
A Alemanha é um bom exemplo do saber perder. No retrospecto recente, aprendeu com as derrotas. Foi vice-campeã mundial diante do Brasil em 2002. Levantou a cabeça e foi jogar em casa em 2006: perdeu de novo, antes até, nas semifinais da competição, e foi disputar o terceiro lugar. Era hora de chutar lata, tocar gaita na rua e pedir um trocado, mas seguiu se preparando e foi… terceiro lugar de novo na África do Sul. Oh, vida! Oh, céus! Oh, azar…
Em 2014, no Brasil, no Mineirão, a Seleção Alemã encontrou a Seleção Brasileira que levou a taça em 2002 e foi logo marcando 5×0 pra se vingar. No primeiro tempo. O técnico Joachim Löw pediu para a Alemanha colocar o pé no freio depois do intervalo e o placar registrou 7×1. Ou, sendo o país sede o primeiro na ordem das anotações: 1×7. Dali pra taça contra a Argentina foi um pulo. E a torcida brasileira, geralmente anti-hermanos, ficou com uma pedra no caminho.
Porém, toda pedra no caminho você pode retirar e numa flor que tem espinhos você pode se arranhar. No caso da Alemanha, ficou fácil chutar o cachorro morto. Depois de deixar Klose como o maior artilheiro das Copas, não fez mais nada, inclusive em 2022.
Jair Bolsonaro nunca tinha perdido até 2022. Talvez num insólito passado militar, em que um prédio se materializou na frente dele e o deixou todo quebrado, ele nunca tinha caído. Naquele momento, contado com primor no podcast Retrato Narrado (que mostra tantos outros momentos importantes da vida do Mito), ele poderia ter desistido, mas não. Sacudiu a poeira, ajeitou uma gambiarra e todo amarrado deu o último salto de que precisava pra conseguir a formação.
Dali em diante só arregimentou sucessos. Conquistou votos no quartel que queria queimar e foi vereador, fez campanhas pelo soldo e foi alçado deputado, de deputância em deputância conseguiu manter-se empregado e ainda ajudar a família.
Foi em 2016 2018 que deu o golpe de sorte, ou deu o grande placar de 1×7 sobre o Brasil: elegeu-se presidente. Diante do que muitos achavam impossível, não apenas foi eleito, mas ficou, firme e forte, imbrochável, quatro anos no poder. E pela primeira vez na vida, depois do resultado das urnas do segundo turno em 2022, Jair Bolsonaro chorou.
Jair chorou, pelo menos publicamente, somente esta semana. Jair, não chore! Levante a cabeça, sacuda a poeira e siga porque sua jornada não acabou. Perder pro Brasil que também elegeu Lula em 2002 não fez a Alemanha se acovardar. E você pode ser tudo, menos covarde. Teve muita coragem em sua trajetória. Por isso, enfrente seus adversários, olhos nos olhos de cada juiz, de cada advogado, de cada testemunha e diga todas as verdades em que acredita. E que assim você viva uma longa vida de reflexão a cada dia. Na prisão.
P.S.: Que a Alemanha volte a ser um grande time. Que todos os times que perderam sejam grandes, assim o futebol fica grande. Bolsonaro nunca será grande e fez o Brasil pequeno. Que o Brasil volte a ser grande.