O povo que entende de futebol de verdade, seja por diploma em mesa de bar ou pela escolaridade em memória afetiva, vai chamar o VAR e anular, por impedimento, este texto. Afinal, é o texto de um autor, por isso está errado. Quando se trata de futebol, você, leitor, tem sempre razão. Todos temos.
Comentário (podem ser chamados de estudos? análises? opiniões? chutes?) de diferentes especialistas (estudiosos? analistas? pitaqueiros? artilheiros?) apontam que algumas Copas foram vencidas porque um determinado jogador estava lá e conduziu a equipe. Ninguém ganha uma Copa sozinho, sempre há um coletivo, mas às vezes é preciso de um tocador de tambor ou de um remador mais forte pra tocar o barco.
Em 1970, quando o Brasil conquistou o terceiro título,…
(uma polêmica: as denominações bi, tri, tetra… valem pra título seguidos, por isso o Brasil tem cinco títulos, mas nunca passou do bi, como só a Itália foi, em 1934 e 1938)
… o elenco era de primeira linha. Ainda assim, dizem que sem Pelé esse estrelato não chegaria à taça. Foi ele quem maestrou as jogadas, encantou a torcida e fulminou os adversários. O feito do (dito) tricampeonato destacou os nomes dos jogadores, ainda mais pela TV a cores que chegou às casas das pessoas (ou em preto e branco e simplesmente chegou, grande evento), e o tempo que a seleção levou até outro título (uma geração) aumenta o destaque dos ídolos de então, por isso há a dualidade entre essa força de Pelé e a gana de toda a equipe. Todos estavam lá e têm assinatura no feito, ter um líder não desmerece qualquer um. Se essa história procede ou se faz parte do “Pra frente Brasil”, cabe aos debatedores especialistas em suas áreas fundamentar.
Quanto a 1986 não há dúvidas: Maradona. Ou há, porque não havia VAR e o gol mais discutido da história das Copas não teria acontecido: la mano de Dios. Ele chegou pra ser campeão e foi, superou obstáculos pessoais e mostrou que a equipe poderia vencer cada partida. Esteve onde precisava, no campo todo, o tempo inteiro. Consciente de cada adversário, pronto pra marcar em cada lance decisivo. Se Deus é brasileiro, é porque Ele ainda não viu Dois papas, do Fernando Meirelles.
Nas eliminatórias pra Copa de 1994, o Brasil estava praticamente fora. Havia um clamor por Romário, um constante indisciplinado, e a comissão do técnico Parreira se deparou com um dilema claro: se a gente chama o Romário e perde, a culpa é dele, mas se a gente não chama e tá fora da Copa, a culpa é nossa. Chamou, ele marcou dois gols contra o Uruguai e o clima de festa chegou até a cultura de massa com o grito de “É tetra!” eternizado por Galvão Bueno abraçando Pelé na cabine da Globo, na final da Copa dos EEUU.
Há quem destaque Lothar Matthäus na Alemanha de 1990 ou Zinedine Zidane pra França de 1998, mas sem a intensidade dos três mencionados. Dois dos quais brasileiros, é importante destacar, isso ajuda a entender o futebol brasileiro de hoje.
O que move este texto é a coleção de oitavistas da Copa do Qatar. Das 16 equipes, poucas têm seus grandes nomes, nenhuma tem uma bússola. E por grandes nomes vale mencionar que a imprensa internacional precisa deles, mesmo que sejam mais nomes do que competência ou idoneidade financeira ou política.
O HurriKane inglês foi brisa, a Argentina foi uma mess, a França quase deu uma pena no último jogo, no Brasil o dito craque nem pode jogar mal e o astro de Portugal não tem elenco a conduzir. Outras seleções se equiparam entre as 16 melhores do mundo, nenhuma delas tem um grande maestro, no campo ou fora dele, capaz de mudar o placar. Ou tem: o VAR.
Ia falar do Lula, grande artilheiro que conheceu a Janja num jogo de futebol em que o Chico Buarque bateu um bolão, mas não tem mais espaço, né, editor? Tudo bem, sem política por aqui durante a Copa.