Resposta clara e objetiva: R$40.
Foi o que aumentou na conta de luz daquela casa com uma televisão nem tão grande e que foi ligada 56 vezes ao longo do mês. Cabia um pessoal na sala pra torcer pelo Brasil e contra a Argentina. Depois contra a França também, mas a favor, só pelo Brasil. Torcer contra não custa nada.
Trocar a televisão não cabia no orçamento, mas o tamanho dava, o coração é que precisava estar cheio pra caber tanta emoção. Um coração de anos de Covid, meses de eleição e semanas de expectativa pela Copa do Qatar. Assim mesmo, com Q e sem U, pra parecer que tá falando gringo.
A outra Copa, a que foi no Brasil, custou mais caro. Teve passagem, ingresso comprado com antecedência, marmita e isopor de cerveja e ainda outras na porta do estádio, porque dentro era ostentação (mas se apertasse, cabia no orçamento). Isso pra ver um empate sem valer nada na terceira rodada da fase de grupos e voltar pra casa com a camisa Copa, Eu Fui.
Daquela vez um jogo só custou muito mais de 40 contos pra cada um, desta vez foi até barato: 40 pra um monte de gente ver. Teve cerveja, torresmo, pastel de angu, refrigerante e pipoca pra molecada, mas isso era dividido pra galera. Os 40 ficaram na conta daquela casa lá e o dono só se ligou quando a conta chegou. Ia se virar, 13° tava aí. E nem ia ter desconto: trabalhando de noite, viu a Copa sem pedir folga, mas cochilou, perdeu uns gols e ganhou uns petelecos dos amigos.
Ia custar bem menos de 40 reais se a Cemig não estivesse sucateada pelo Zema pra ser privatizada no mandato da reeleição, mas pelo menos a luz não falhou no meio do jogo. A internet não ia cair, um vizinho tinha pacote pago no celular do trabalho e mandava o canal do Casimiro pra televisão quando tinha jogo transmitido lá.
O Casimiro foi o grande vencedor da Copa, pode até pegar na taça. Só pode tocar nela quem já foi campeão do mundo e chefe de Estado. O Cazé tá no primeiro grupo. Canal independente com mais audiência que PIG, narrador de primeira e comentaristas que… porra, o Juninho Pernambucano, cara! E as comidas no balcão só não eram melhores que o torresmo que passava pelo sofá lá na casa que pagou 40 reais, com gordura queimando o céu da boca do apressado.
A CBF também ganhou muito com a Copa e antes da Copa, o ir e vir da seleção não teve custo. Um monte de gente confundiu camisa de futebol e Bandeira do Brasil com estandarte político. Na falta do que usar, essas pessoas foram pelo caminho mais fácil, mas não pelo mais barato. Um nacionalismo vendido na Copa de 1970 pela ditadura civil-militar quando o “Pra frente, Brasil” salvou a seleção e enterrou o país. Agora de novo.
Naquela época o custo da Copa era o de uma Tefefunken colorida, luxo desfrutado por uma minoria.
O pessoal que queria a ausência de símbolos de luta desde as marchas de rua de 2013 vestiu a amarelinha, da idônea e impecável CBF, e saiu por aí pedindo impeachment, aplaudindo cortes na Educação e na Saúde, elegendo Bolsonaro e pegando carona em para-brisa de caminhão. Se pra muitos comprar uma camisa original dessas era caro, pra elite golpista desembolsar umas centenas de reais não custava nada.
E o outro lado e o centro e o lado de fora fizeram o movimento de torcer novamente pelo Brasil de verde e amarelo usando camisa da CBF. A Confederação ganhou o tempo todo.
A Copa também não custou o emprego do Tite, que já tinha declarado estar fora depois do mundial, e saiu antes mesmo de os jogadores se ausentarem do gramado. Também não teve custo pro Neymar dar a festinha anti-depressiva na mansão no Alphaville. Pra seleção não custou o posto, porque saiu com cinco títulos e ainda líder quantitativa isolada por, pelo menos, mais quatro anos.
Quem pagou mesmo pela Copa foi aquela casa. R$40. Na ponta do lápis o ano fecha no positivo, mas quando aparece assim na conta, na lata, quarentão, dá um susto.