No mês que se inicia nesta quarta-feira (1°), completam-se três anos desde que o primeiro caso de Covid-19 foi detectado no Brasil. No mês que se encerra nesta terça-feira (31), completou-se um ano desde que a vacina contra a doença começou a ser aplicada no país. Meu filho de 1 ano e 3 meses, porém, não se vacinou. Ele e milhões de bebês que ainda esperam sua vez.
Poderia ter sido na última sexta-feira (27), quando eu soube por uma amiga, que soube por um grupo de mães no WhatsApp, em que a primeira soube sabe-se lá como, que bebês sem comorbidades estavam sendo vacinados naquele dia — e naquele dia somente! — no Departamento de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente de Juiz de Fora. Poderia, se eu tivesse chegado lá com ele uma criança antes de se esgotarem as doses. Se eu fosse menos seguidora de regras e, em vez de estar com o pré-cadastro preenchido e os documentos impressos e separados desde novembro, só à espera da convocação oficial, tivesse ligado para lá bem antes, todos os dias, para saber se a vacina era possível, mesmo que na divulgação constasse como público-alvo apenas as crianças com comorbidades. Se eu, jornalista que sou, não confiasse tanto que informação de interesse público é para ser divulgada (o que, nos canais oficiais e no calendário diário de vacinação da Prefeitura, não foi).
Para ser justa, embora essa seja a frustração mais recente, houve piores. Meu filho e outros tantos filhos de outras tantas mães aflitas poderiam ter se vacinado no finzinho de dezembro, quando o Ministério da Saúde enfim autorizou a aplicação da Pfizer Baby para todas as crianças da faixa etária de 6 meses a 4 anos 11 meses e 29 dias, sem exceção. Ou dez dias antes, quando o governo de Minas Gerais adiantou-se e fez o mesmo. Ou em setembro, quando a Anvisa aprovou a utilização da vacina para essa faixa etária. Tudo isso desde que, é óbvio, o governo federal passado não tivesse comprado tão poucas doses, das quais coube uma porção menor ainda, diminuta, ao município. Mas, em resumo, meu filho poderia ter se vacinado antes de ter pegado Covid. Num paradoxo temporal, meu filho provavelmente teria a vacina garantida antes de nascer se, três anos antes de ele chegar a este mundo, alguém como Jair Bolsonaro — que oferecia cloroquina até às emas do Palácio do Alvorada enquanto cidadãos brasileiros na Terra Indígena Yanomami, entre as quais crianças menores que meu filho, morriam (também) da malária contra a qual o remédio foi feito — não tivesse sido eleito presidente do Brasil.
Na primeira quinzena de janeiro, quando meu filho tomou as três vacinas recomendadas para bebês de 15 meses, as últimas da enorme leva desse começo de vida, a pediatra contemplou a beleza da caderneta de vacinação preenchida e comentou: “O álbum da Copa dele está completo”. Só que não está. A expectativa é que a figurinha rara, sem possibilidade de troca, esteja entre as 4,5 milhões compradas pelo governo Lula e entregues ao país há cerca de dez dias.