Contexto

Margarida agora conhece “a fazenda, sabe onde ficam as nascentes e as divisas”

Margarida durante café da manhã com pessoas em situação de vulnerabilidade social (Foto: PJF)

A prefeita Margarida Salomão (PT) fez um périplo pelos veículos de comunicação na semana antes do Natal. A proposta era fazer um balanço do seu segundo ano de gestão. Para conseguir falar com o maior número de comunicadores, uma turma foi convidada a se encontrar com ela em seu gabinete na Prefeitura de Juiz de Fora.

E assim, na quinta-feira, 22 de dezembro, às 11h30, O Pharol e o Portal Acessa, representado pelo jornalista Ricardo Ribeiro, foram recebidos pela prefeita e o secretário de Comunicação Pública, Márcio Guerra. Sem atraso, começamos a entrevista antes do horário previsto e com a formalidade de um bate-papo.

Sentada em um dos três sofás que criam um ambiente de sala de estar dentro do gabinete, Margarida nos convidou para ocupar os demais lugares enquanto já discorria sobre sua experiência no Executivo. Feliz com a recente eleição do presidente Lula e na expectativa de uma melhor relação o governo federal, a prefeita estava cansada.

Embora tenha sido secretária do ex-prefeito Tarcísio Delgado na década de 1980 e reitora da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) por dois períodos entre 1998 e 2006, Margarida revelou que nenhuma experiência executiva se parece com o desafio de administrar Juiz de Fora. “Enfrentei muita coisa na Universidade, mas nada é parecido com isso aqui.”

Sim, a prefeita concordou: há um acúmulo de demandas. O crescimento desordenado do município registrado nos últimos anos, com a expansão desenfreada da área urbana, acabou se tornando um complicador para a zeladoria. Isso sem falar na própria história da cidade, marcada pela presença de um rio, o Paraibuna, desde sua fundação.

“Diferentemente de outras cidades do mesmo porte, Juiz de Fora cresce de forma espraiada. Vão criando loteamentos e no outro dia cobram para a Prefeitura levar infraestrutura até lá”, pontuou Margarida. Ela também mencionou as construções nas encostas, no leito do rio e nas proximidades dos córregos.

À pergunta específica sobre os alagamentos dos bairros Santa Luzia e Industrial e as contenções das encostas dos bairros Vitorino Braga e Três Moinhos, a prefeita disse que a solução passa pela “Taxa de Drenagem”. Criada ainda em 2021, a cobrança prevê a destinação de 4% da receita líquida dos serviços de saneamento para tratar e dar destino adequado às águas pluviais.

“Agora, com esses recursos, temos condições de fazer um grande financiamento para resolver essas questões”, explicou Margarida. A operação de crédito deve acontecer agora em 2023. Até a solução definitiva, seguem as intervenções paliativas, como limpeza de bueiros e córregos, remoção de entulhos e cobertura de encostas com lonas.

Ainda falando sobre a infraestrutura urbana e o forte impacto do relevo, das chuvas e do crescimento desordenado da área urbana, a própria Margarida introduziu um dos mais espinhosos temas da sua gestão: o transporte público coletivo. Aliviada pela saída de uma das empresas dos consórcios concessionários dos serviços, ela disse aguardar a conclusão da remodelagem do sistema.

“Estamos promovendo mudanças para otimizar o sistema”, explicou. Em seguida, mencionou uma pareceria com a UFJF que fornece contribuições para a tomada decisões. Sem revelar prazos, disse que melhorias virão. Até lá, prometeu novo subsídio para o setor e o congelamento por mais um ano do preço da passagem.

Sobre o subsídio, Margarida reafirmou que o usuário não pode pagar pelas gratuidades. Pelo modelo atual, a tarifa paga por quem utiliza o sistema é única fonte de recursos responsável por sua manutenção. Ela lembrou que, no passado, os usuários chegaram a pegar pela construção de um viaduto e de um terminal de ônibus.

A pedido do jornalista, a prefeita falou sobre um outro desafio, o da saúde. Na verdade, não avançou muito na questão. Pediu um prazo até anunciar as medidas que vêm sendo gestadas. Antecipou, como tinha feito no pós-eleição, que pretende deixar as carreiras na área de saúde mais atrativas. Para isso, vai mudar os planos de cargos, carreiras e vencimentos.

Mesmo com o adiantar da hora, antes de se levantar, Margarida respondeu sobre possíveis mudanças em seu primeiro escalão. Foi suscinta. “Sou como o treinador da Argentina (Lionel Scaloni), mexo no time no primeiro tempo. Agora não mexo mais.” Sobre Lula na Presidência, disse que aposta na proximidade com deputados que estiveram com ela na Câmara e que agora são ministros.

No caminho até porta, a prefeita foi provocada quanto às férias. “Preciso, sim. Mas não posso sair com tanta chuva e tanta coisa a ser feita nesse período. Mais para frente, descanso uns dias”. Antes de Margarida e Márcio Guerra se lembrarem do Botafogo, tomamos o caminho do elevador. Sem ouvir, mas certos do argumento de que com Tiquinho Soares a sina do Brasil seria outra no Catar, encerramos a entrevista.

Foi a segunda conversa de O Pharol com a prefeita Margarida Salomão. A primeira foi em maio de 2021, perto do aniversário de Juiz de Fora, quando fomos recebidos também no gabinete, mas na mesa de trabalho. Havia muita demanda acumulada, como ainda há, mas parecia faltar tempo para saber lidar com aquilo tudo. E a prefeita tinha pressa.

Foi também em 2021, mais para o final do ano, que o governador Romeu Zema (Novo) assumiu a condição de candidato à reeleição e resolveu andar pelo estado. Em um almoço com jornalistas em Juiz de Fora, falou da sua disposição para buscar um novo mandato. “Agora eu conheço a fazenda, sei onde ficam as nascentes e as divisas. Tô pronto.”

A pressa para evitar a resenha sobre o Botafogo acabou nos furtando uma última questão: e a reeleição? A resposta talvez seja tão certa quanto o eventual sucesso do Tiquinho Soares na Copa do Catar para qualquer botafoguense, mas a pergunta não foi feita. De qualquer forma, uma coisa é certa: Margarida agora conhece “a fazenda, sabe onde ficam as nascentes e as divisas”.