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Conjuntura

O descrédito dos moradores de Santa Luzia quanto a uma solução para os alagamentos

Alagamento do último dia 24 de janeiro foi o segundo em menos de 40 dias em Santa Luzia (Foto: Reprodução/Redes Sociais).

Num espaço de 38 dias, entre 17 de dezembro do ano passado e 24 de janeiro deste ano, dois grandes alagamentos assolaram as ruas do bairro Santa Luzia, deixando um rastro de sujeira e indignação. A crescente concentração de chuvas e o incessante processo de impermeabilização do solo ao longo da bacia hidrográfica do córrego Ipiranga acenderam o alerta vermelho entre os moradores.

Desde a manhã dessa segunda-feira (30), a associação de moradores do bairro, com apoio e empenho dos comerciantes e prestadores de serviços da região, iniciou a coleta de assinaturas para um abaixo-assinado pedindo uma solução urgente para evitar o transbordamento do córrego e o alagamento das ruas. O documento será encaminhado à Prefeitura de Juiz de Fora e à Câmara Municipal.

Ary Raposo e Victor Nascimento Costa, que integram a diretoria da associação, disseram desconhecer o projeto apontado pela prefeita Margarida Salomão (PT) como uma solução definitiva para o problema. Orçada em R$ 187 milhões, a proposta prevê o alargamento e aprofundamento da calha do córrego, com o início das intervenções na parte próxima ao deságue no rio Paraibuna.

“Nos chamaram (a associação) lá para compor a Mesa de Diálogo, mas depois da primeira reunião ninguém nunca mais falou nada. Então, não conhecemos o projeto, não fomos ouvidos”, criticou Ary Raposo durante entrevista à Rádio Alô na manhã dessa segunda-feira (30). Ele disse que agora vai cobrar dos vereadores uma discussão detalhada do projeto para saber de sua viabilidade técnica e financeira.

Desde o anúncio da proposta de o município contrair um financiamento de U$ 80 milhões (R$ 420 milhões) para realizar “grandes obras” de drenagem, a associação de moradores de Santa Luzia iniciou uma série de conversas com geógrafos e engenheiros para tentar entender qual a melhor solução. Segundo Ary Raposo, como o problema não é novo, “muita gente conhece e pode ajudar”.

Das muitas conversas realizadas até agora, os representantes da associação consideram que o maior avanço foi compreender a necessidade de se olhar para além do córrego Ipiranga. “Quando você descobre que estamos falando de chuvas que caem na (Avenida) Deusdedith Salgado, lá no Salvaterra ou no Aeroporto, aí a gente descobre que a solução não pode estar só aqui embaixo”, explicou Victor Costa.

Foi a partir daí que os representantes dos moradores passaram a defender a criação de bacias de contenção para reduzir a velocidade e o volume da enxurrada, além da desobstrução de pontos específicos do córrego. Para Ary Raposo, essas intervenções podem ser feitas no curto prazo, com resultados imediatos. “Precisamos de uma solução definitiva, mas precisamos também de uma solução alternativa mais rápida.”

O maior receio dos moradores e dos comerciantes envolve os transtornos inerentes a toda grande obra. “A Prefeitura está fazendo uma obra no bairro (implantação do coletor tronco de esgoto) que tinha previsão de acabar em um mês e estamos já indo para o sétimo mês. Isso mudou toda a dinâmica da região porque quase todo acesso à zona Sul de Juiz de Fora passa pelo Santa Luzia”, lamentou Victor Costa.

O maior problema, segundo ele, é pensar que essa situação pode se repetir numa escala muito maior, caso a opção seja mesmo remodelar toda a calha do córrego. “Toda obra traz transtorno. Agora, é preciso falar com as pessoas com antecedência para que elas programem suas vidas. Não pode é começar uma obra sem saber se ela vai acabar e quando vai acabar.”

Outro lado

Por meio de nota, a Prefeitura de Juiz de Fora informou que “a discussão foi feita dentro das cinco reuniões da Mesa de Diálogo e Negociação de Conflitos sobre os alagamentos em Santa Luzia, todas realizadas durante o ano passado”. O Executivo não comentou o atraso na obra de implantação do coletor tronco de esgoto no bairro.