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Como o episódio com Lilian Ramos fez Itamar antecipar a escolha de seu sucessor

O presidente Itamar Franco ao lado da modelo Lilian Ramos (Foto: Marcelo Carnaval)

Itamar Franco havia começado o ano de 1994, o último de seu governo, pressionado para definir seu sucessor. A reeleição só seria aprovada pelo Congresso três anos mais tarde. Dividido entre dois dos seus ministros – Fernando Henrique (da Fazenda) e Antônio Brito (da Previdência) -, ele tratou da questão pela primeira vez publicamente no carnaval de Juiz de Fora.

Enquanto acompanhava o desfile das escolas de samba juiz-foranas na Avenida Rio Branco, precisamente na terça-feira, 15 de fevereiro de 1994, Itamar revelou aos repórteres que cogitava lançar Fernando Henrique como seus sucessor. Com o Plano Real em curso e com relativo sucesso, a escolha não chegou a ser novidade, mas sua oficialização era esperada para mais tarde.

A antecipação do nome de Fernando Henrique, conforme revelou a jornalista Denise Assis no portal O Cafezinho, fazia parte de uma estratégia para mudar o foco do noticiário após o episódio envolvendo a modelo Lilian Ramos e Itamar na Marques do Sapucaí no dia anterior. Convidada a visitar o camarote presidencial após o desfile da Acadêmicos da Grande Rio, ela acabou sendo fotografada sem calcinha ao lado presidente.

Denise Assis conta que o governador Leonel Brizola havia convidado Itamar para acompanhar os desfiles na Marques do Sapucaí no Rio de Janeiro. Seria o primeiro presidente do país a pisar no sambódromo dez anos após a inauguração da obra de Oscar Niemeyer. Como manda o protocolo, caso o convite fosse aceito, o presidente seria recepcionado no camarote do governador. Naquele ano foi diferente.

Dada a proximidade de Juiz de Fora e com Mauro Durante (ministro da Casa Civil e apaixonado por carnaval) na organização da comitiva, foi solicitado um camarote só para a turma do “pão de queijo”. O inusitado do fato levou um assessor de Brizola a ligar o alerta quanto ao risco de o presidente ficar em camarote “estranho” ao da oficialidade. O recado chegou a Ruth Hargreaves, então chefe de gabinete e amiga de Itamar.

Após uma reunião de pouco mais de três horas, quando todos os riscos foram avaliados, José Aparecido e Mauro Durante, amantes de reuniões e eventos, comemoram o resultado: o presidente iria até a Marques do Sapucaí. O camarote da turma do “pão de queijo” foi disponibilizado próximo ao do PL, que tinha como anfitrião Valdemar Costa Neto. Foi de lá de Lilian Ramos saiu, sem calcinha, para se encontrar com Itamar.

Com o país ainda com a memória recente do impeachment de Fernando Collor, não demorou muito para jornais e revistas apontarem que Itamar agira de “modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”, pré-condição para derrubar mais um presidente. Mineiramente, Itamar disse que não houve “ato libidinoso” e se referiu à modelo como “uma menina adorável” que “pediu desculpas”.

Quando questionado sobre a possibilidade de a foto acarretar um processo de deposição, ele brincou: “Por causa do namoro?” Mesmo com o tom ameno das respostas do presidente, a imprensa seguiu com Lilian Ramos no noticiário. Itamar então decidiu retornar a Juiz de Fora e construir uma estratégia para conter qualquer possibilidade de crise. E assim Fernando Henrique se tornou presidenciável de fato.