O Hupokhondría nasceu em 3 de março de 2008. Foi gestado por milênios, mas ao mesmo tempo veio num fiat Hupo! O e-mail comunicando a criação do blog começa mineiramente assim: “criei esse trem aqui”. E tava criado, 15 anos atrás.
Era pra ser só um bloguinho, como brincou a Louise uma vez, mas se tornou projeto. Projeto na acepção heideggeriana de ser-aí, no mundo, em movimento. O bloguinho se moveu.
Primeiro, se moveu da plataforma Terra, onde ficou travado umas poucas semanas, pro WordPress. Na mudança, Hipocondria estudou etimologia e ganhou o nome que ostenta hoje. “Tem a ver com hipocondria?”, perguntam alguns. Tem sim, é hipocondria raiz, a que vem de dentro, é hipocondria-aí.
Depois, com o pé no blog, esticou uma perna pro teatro. Quando o Breno pediu “escreve uma peça pra mim”, tinha um pote cheio de rolhas atrás dele no bar e uma ideia plantada de tarde pelo Fredinho (que depois trabalhou no design da carta-programa de A linha 2). Nasceu a cena Rolhas, segunda colocada no Festival de Cenas Curtas em 2012.
Rolhas comporia outro movimento do Hupokhondría, quando se encontrou com outras quatro cenas e se tornou Alguma coisa você tem, primeiro espetáculo do projeto. Ali nasceram também o conceito visual e a marca, espalhada nos cartazes, no Facebook e no Instagram. E depois nos livros.
99 receitas foi o primeiro deles, possibilitado pela Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura. Colecionou uma seleção de textos dos primeiros cinco anos do bloguinho, já chamado pretensiosamente de site, porque dali se pode clicar pra quase tudo o que foi feito até hoje no projeto.
O segundo livro começa bem antes da impressão, quando nasceu o grupo de estudos literários, batizado de Estudos Matemáticos por conta de duas horas de tentativa de uma análise combinatória que deu errado. São módulos que se alteram entre teorias, leituras, exercícios rápidos e um projeto maior de escrita ao final de cada ano ou mais. Dali nasceu a distopia Literalmente e, graças ao entusiasmo da Elena, um cansaço sem fim que levou ao Pôquer a seis, resultado de financiamento coletivo.
O Zedu tinha sempre uma insistência: vamos filmar? E foi feito o filme. Ou foram feitos vários curtas, que não existiriam sem a Mariana e o Caio. Tem tudo disponível no YouTube, até a filmagem de Agnus Dei, uma cena de Canção de Ninar (peça que foi montada pelo T.O.C., não pelo Hupokhondría).
Só que o teatro não parou. No mesmo ano em que A linha 2 se elaborava, a Táscia falou: “Vou montar Educandário São Bernardo, alguém vai ter que dirigir.” O Marcos topou e a peça saiu da gaveta em que morou por cinco anos. Duas peças no mesmo ano, que sufoco… Fruto da escola Grupo Divulgação, sempre apadrinhando e discutindo as montagens.
Quando todo mundo começou a ouvir podcasts pra apaziguar o isolamento social, o Hupokhondría começou a fazer. Saiu catando gente pra ler os textos, depois pra escrever e interpretar e criou três temporadas do Phármakon.
O bloguinho segue com postagens e desenhos semanais, o Instagram com postagens de textos e fotos, os Estudos Matemáticos trabalham uma narrativa enquanto inicia-se um novo ciclo temático. Outras propostas, de retomar projetos de antes ou começar novos, de vez em quando ganham rabiscos. E o Projeto Narrativo Hupokhondría não para, com as pessoas tocando outros trabalhos e vida pessoal. Falta um mecenas.
Nesses 15 anos, errou num ponto. Nasceu pra contar histórias de doenças. Físicas, mentais, sociais, políticas, culturais, todas, desde que doenças. Faz isso, sempre fez, mas pra conseguir isso, lida com afeto, com cura, com o grande remédio das relações humanas.
Cada um que passou ou passa pelo Hupokhondría, seja em ações rápidas ou ocultas, como uma técnica no teatro ou no cinema ou o cuidado da impressão de um livro, ou em participações demoradas e multifacetadas, como a Mariana, dentro e fora da cena, nos estudos e nas escritas… Cada um faz parte destes quinze anos. Listar todo mundo daria outro texto, um textão. Bom seria encontrar todo mundo nesse baile de debutante.
Todos esses mundos contaram histórias com o Hupokhondría e, por isso, fizeram a história do Hupokhondría ser possível. Estamos-aí.