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‘Viva nossa JF 173 Anos!’

As aspas do título são para creditar as palavras da minha mãe, Marilene Fernandes Mendes, a Lena do Linhares. Nascida e criada em Juiz de Fora há exatos 70 anos, ela nunca pensou em se mudar, nem quando – ainda bem jovem – passou num concurso para o extinto Banerj. Ela não é da cerveja nem da cachaça, mas conhece bem a botecagem juiz-forana, um clássico que remonta a cultura herdada dos imigrantes alemães, que vieram a partir de meados do século 19 fugidos das guerras napoleônicas. A Lena era o segundo nome mais chamado no Bar da Tia Neném – apelido não tão carinhoso quanto o verdadeiro nome da patrona, Felicidade, a mãe da minha mãe. Ali, Lena aprendeu a engenharia botequeira e onde passou uma boa parte da vida com a barriga pendurada no lado de dentro do balcão. Foram anos de laboratório num outro boteco bastante familiar na cidade: o do Abílio, na rua Fonseca Hermes. “Eu conheci o Seu Abílio quando comecei a trabalhar na Fábrica Malharia Rex, aos 12 anos. Ele sempre vendeu de tudo, e a maioria de nós trabalhava na Fonseca Hermes. Seu Abílio servia lanche para nós que não tínhamos dinheiro para comer fora, e eu sempre pegava banana para lanchar no Colégio PIO XII, onde estudei contabilidade. E combinava o pagamento das bananas no dia em que recebia na fábrica.”

Botecando desde 1969 e bicampeão do Comida di Buteco, o Bar do Abílio segue na ponta da lança boêmia juiz-forana. Fígado com jiló, Puro Sabor, Água na Boca, Tilapiando, Trio da Roça, Trio Caipira e Trio Mineiro (esse a pedido dos clientes), Jiló Frito (e tbm refogado), Lombo acebolado e Carne seca com jiló, além de muito mais… Quem não ainda não se encantou com este timaço de TIRA-GOSTO (petisco, a gente não trabalha) e com as dancinhas do anfitrião que explodem no Instagram? Ele é top! Mas há um Abílio que a cidade aniversariante do dia não conhece; nas palavras de Lena: “o grande pai para todos que trabalhavam na Fonseca Hermes”.

E se é para falar em tradição, não ficam de fora da festa a turma do Futrica, do Ademir, do Totonho, do Bigode. E dá-lhe “juizforanidade” com o torresmo do Loirinho, a pipoca com queijinho do Calçadão, a coxinha da Pipita, o cigarrete do Marechal Center, o café do Mister Shopping, as barbearias do Riachuelo, as brincadeiras com “Ô bem, fica!”, o requeijão, o molho das hamburguerias da Independência, a logo da Lei Murilo Mendes, as peças do Zé Luiz…

Em 1852, Mariano Procópio Ferreira Laje (o maior juiz-forano de todos os tempos!) injetou recursos na construção da Estrada União e Indústria, levando Juiz de Fora para o restante do mundo. Quarto município mais populoso de Minas Gerais, JF por 173 anos tem sido um viva na história e cultura do Brasil.