Estou em dívida com O PHAROL. E também me sentindo um pouco como Fernando Sabino no início de sua “A última crônica”: sem assunto.
Sim, eles pululam, mas nenhum deles me apraz (e usar os verbos pulular e aprazer é tanto deboche quanto um “já que vou escrever sobre o nada, deixe pelo menos gastar um vocabulário que nunca usei).
Não Assunto N. 1
Poderia analisar a aprovação, pelo Senado, da indicação do Cristiano Zanin para o STF (Supremo Tribunal Federal), mas, se eram favas contadas, analisar o quê? Não deixo de reconhecer o conhecimento jurídico do advogado nem de louvar tudo o que a tese do lawfare representou — e representa — para a história recente do país. Fosse Zanin um personagem de ficção, talvez tivesse sido outro o fim de Joseph K. A verdade, no entanto, é que, no meio jurídico, o que me deixou feliz de fato nos últimos dias foi o retorno do Luis Carlos Valois para o Twitter. É ele, esse juiz de execução penal do Amazonas, que tinha sido injustamente punido pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e banido das redes, quem eu queria ver no STF. E é dele o primeiro tuíte para o futuro novo ministro da Suprema Corte que me apareceu: “Parabéns, @CristianoZanin! Não esqueça a população carcerária! A Lei de Execução Penal é violada diariamente no Brasil e a cannabis é uma planta-remédio”.
Não Assunto N. 2
Poderia comentar o caso do Submarino do Titanic. Pensei em recorrer a “Vinte mil léguas submarinas” para fazê-lo, mas desisti por duas razões. A primeira é que a motivação para a caçada ao veículo aquático real está longe de ser por ele compartilhar da genialidade do Náutilos, o exemplar ficcional, completamente autônomo do meio terrestre e movido somente a eletricidade. Tampouco porque o Titan desaparecido no Atlântico Norte foi confundido com um cetáceo gigante, como o submarino comandado pelo capitão Nemo. O segundo e principal motivo, contudo, é que, embora eu jamais tenha tido a pretensão de ser imune a spoilers que estão por aí desde 1869, nunca li a obra de Júlio Verne.
Não Assunto N. 3
Poderia tecer considerações sobre os dez anos das Jornadas de Junho. Por exemplo, foi também no Twitter que li, da professora e cientista política Lara Mesquita: “Me surpreendi na aula de hoje ao perceber que alunos, que estão no primeiro ano da graduação, não fazem a menor ideia do que foi junho de 2013”. Sinceramente, porém, até compreendo o espanto, só que não compartilho dele. Os estudantes aos quais ela se refere tinham por volta de 7 ou 8 anos na época. Eu, que tinha quase 30, até hoje também não sei.
Não Assunto N. 4
Poderia dizer que tirei meu filho do banho agora há pouco e, enquanto o secava e vestia, ele me contava — com as palavras fartas, mas ainda claudicantes, de um pequeno tagarela de 1 ano e 8 meses — que comeu pão e morango na mesa da escola com a Tia Lalá, a Pipi e o Gael. E sorriu.
Volto a Fernando Sabino. Esta não é minha última crônica, mas queria que fosse pura como esse sorriso.