Se os Titãs afirmam que a televisão me deixou burro, muito burro de mais, Umberto Eco fala que a internet deu voz aos imbecis. O que acontece quando tem mash up?
O colega de trabalho falou que assiste o Big Brother para entender como anda a sociedade. Num primeiro momento, o pensamento é de “que absurdo, aquilo ali não é a sociedade, tem muita gente famosa, vive em outro mundo!”, mas depois caiu a ficha (nem adianta falar que a gíria é demodê quem não reclamou de Big Brother, expressão dos anos 1940).
O famoso que tá lá, no sistema de cotas que muitos deles condenam nas universidades, é aquele que só é conhecido pelos seus. Só que, no caso do sistema de cotas do BBB, o nicho não é de raça, cor, educação pública, mas de seguidores, comentadores, compartilhadores. Quantitativos, não qualitativos.
Grosso modo: o imbecil que a internet permitiu falar o megafone da televisão amplificou.
Nem todo mundo que entra na casa é imbecil, mas o ciberuniverso tem tantos desses que a chance de serem escolhidos é enorme, sobretudo se o critério for numérico. A ausência de livros dá nisso. E lá vão eles para a rede nacional de concessão pública expor o que restringiam aos seu séquito.
Se o resto fosse silêncio seria bom, mas Hamlet estava errado: outros imbecis comentam na internet o que o imbecil da internet falou na televisão.
Que saudade de ligar a televisão de noite para saber que começou a Guerra do Golfo.
Que saudade de acompanhar pela televisão o impeachment do Collor.
Que saudade de poder correr na cozinha e buscar refrigerante no intervalo de Curtindo a vida adoidado toda semana na Sessão da Tarde.
Agora ninguém mais vê Sessão da Tarde na íntegra. Quem pode ver, acompanha notificações no celular, troca mensagens, liga por vídeo, procura resumo antes do final e não consegue mais ficar com o olhar dedicado ao filme o tempo inteiro. Mesmo no cinema isso acontece não é de hoje: não faltam celulares acendendo na sala escura, muita carência envolvida.
Ou pouca diversão. Porque às vezes qualquer um faz qualquer coisa e não importa se der tudo errado, é só por medo ou por insegurança. Tudo isso às vezes só aumenta a angústia e a insatisfação.
Lá nos anos 1980 esse alerta foi dado, cantado e repetido, mas perecia ser diversão gratuita e não solução. A indústria farmacêutica sacou o recado e está se esbaldando nesse tipo de diversão: é solução pra mim!
Diversão é solução sim, mas precisa de reflexão, Benjamin falou isso antes da Segunda Guerra. Alertou. Entender A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica merece mais tempo do que ler algumas imbecilidades. Fácil não é, mas bem mais possível do que ganhar a mega da virada e bastante gente jogou. Vale a aposta.