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A luta continua

A frase do título foi o mote da luta pela independência de Moçambique nos idos de 1975. A Frente pela Libertação de Moçambique tinha esse lema no período da guerra que levou à independência do país. Sem desmerecer o artigo, as duas palavras têm forte representação no cenário internacional desde sempre e difundidas nesse formato inclusive pelo cinema de Jonathan Demme (veja os créditos de O silêncio dos inocentes até o fim e vai entender).

Lutar é um verbo do cotidiano. Em tempos de mais sangue, nos campos de batalha; nos momentos de suor e lágrimas, no dia a dia do chão da fábrica, das assembleias sindicais, das manifestações de rua. A luta se faz nas conversas do cafezinho, nos megafones e nos textos distribuídos em panfletos ou na imprensa. A luta se faz com os colegas de trabalho (os companheiros e camaradas, e os babacas também), com os familiares e cidadãos, com (ou muitas vezes contra, infelizmente) os patrões que preferem lucrar a crescerem juntos.

Clodesmith Riani lutou até os 103 anos. Fez isso em casa, nas ruas, em discussões coletivas e frente a uma ditadura civil-militar. Lutou por si e pelos outros e quem hoje recebe o 13° salário no final do ano (ou com a primeira parcela no meio do ano) deve agradecer a ele. Fez isso quando participava do Comando Geral dos Trabalhadores, em lutas, para o verbo não se perder, que passavam por negociações nacionais e movimentos pontuais, sobretudo em Juiz de Fora, onde viveu e contou muitas histórias.

Ziraldo contou ainda mais histórias, narrador que era do Menino Maluquinho, da Turma do Pererê, do Pasquim e de partes do corpo. Se muitas crianças riam da bunda Dodó, o autor desta coluna entrou na igreja para fazer a primeira comunhão de bermuda para não sufocar o joelho Juvenal. O traço dos movimentos políticos contra a mesma ditadura à qual se opôs Riani são em boa monta das canetas de Ziraldo.

Neste mês, os dois mineiros (um de Rio Casca e outro de Caratinga) pararam de lutar. A luta deles, no entanto, continua. Somente se o que eles fizeram for perdido e esquecido é que efetivamente morrerão.