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Doze anos de gratidão

Hoje, 6 de janeiro, Dia de Reis, celebramos 12 anos de gratidão eterna pela vida da minha avó materna entre nós. Doze anos que a cada doce bom que temos a chance de provar, seja em Minas, Portugal, Austrália ou onde mais o amor dessa mulher maravilhosa floresceu, nos sentimos compelidos a comparar: “Tão bom que até parece o que vó fazia!” Há doze anos, noz-moscada passou a ter gosto de vó, pirulito de açúcar em formato de triângulo (sim, daqueles que colam no papel manteiga) virou o melhor doce do mundo e cuca de frutas é iguaria que vale mais do que qualquer presente.

Ah, Vó…A gente achava que sabia, mas não sabia como você é importante para nós. É mesmo quando a gente cresce que o amor amadurece e conseguimos entender o quanto de afeto e amor se investe para criar uma família. E aí a gente começa a se desculpar—os mais corajosos em voz alta; os que ainda estão criando coragem, em pensamento— por cada uma das vezes que fomos injustos com nossos pais, tios, avós… Fazer, de meninos e meninas, homens e mulheres verdadeiramente bons, felizes (na maior parte do tempo…rs) e cientes de seu compromisso com a construção de um mundo mais justo é tarefa hercúlea. Agora sabemos.

Da forma como você gostava, Vó, as Folias de Reis seguem emocionando quem se dispõe a enxergar o quanto trazem de humanidade, de resgate histórico, da força de um povo que insiste em dançar e cantar para sobreviver. Era uma festa preparar, a cada ano, para receber a folia quando você ainda estava por aqui. Muita comida na mesa, presépio lindo esperando a dança dos foliões e o bolo disputadíssimo que trazia surpresas escondidas para os mais sortudos.

Já faz algum tempo que a animação “Viva, a vida é uma festa” se tornou um dos filmes preferidos aqui de casa. Nele acompanhamos a saga do garoto Miguel, que se aventura durante a festa do Dia dos Mortos, no México, em busca de descobrir um segredo de família. E, de forma emocionante, redescobrimos o que já imaginávamos: enquanto alguém vive dentro de nós, ele não morre jamais.

Enquanto nos reunirmos para celebrar a vida de quem uniu tanta gente, abriu as portas para todos que precisavam e para quem nem sabia ainda que viria a precisar, para comemorar quem ainda perfuma nossas vidas muito anos depois de ter regado a última flor, a vida segue firme. Em cada um dos filhos, filhas, netos, bisnetos que encontram nas panelas, no gancho que segura a bala de coco, na chapa da melhor hamburgueria da cidade, nos potinhos repletos de especiarias ou nas receitas amareladas que estão por todos os cantos de todas as casas a chance de buscar uma vida melhor, a senhora segue viva entre nós.

E hoje, 6 de janeiro, Dia da Gratidão, em meio ao caos que está este mundo, onde um simples espirro é capaz de nos deixar amedrontados, quando aprendemos que uma das melhores forma de demonstrar amor por alguém é se manter distante, lembrar nos salva.

E nos leva para o lugar seguro onde vive o afeto, a família, de onde sai o cheiro do pão quente no forno, onde o sofá é mais gostoso, o café mais quente e tempo passa devagar.

Sou grata por ser sua semente. Lutando ainda para florescer, mas feliz pela fortaleza das minhas raízes.