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Está na Câmara o futuro da Educação

(Reprodução: Pink Floyd – The Wall)

A vereadora Cida Oliveira está na Comissão de Educação, Cultura e Turismo da Câmara de Juiz de Fora. Isso tá na matéria que O Pharol publicou esta semana e também em outros canais de informação. O que ninguém falou foi que ela entrou pelo sistema de cotas, o que é uma grande incoerência.

Os outros três componentes da Comissão, homens letrados, renomados por seus estudos pedagógicos, são os vereadores Mello Casal (presidente da Comissão), Julinho Rossignoli e João Wagner. Na falta de referências em artigos científicos das obras reconhecidamente revolucionárias dos três acadêmicos, o texto segue apostando na confiança de que estão ali porque realmente são os mais competentes pras funções que eles sabem que exercerão.

Existe, ainda, outra característica que une os três devotos de Paulo Freire, Piaget e Vygotsky: a farda. Sinal de que receberam educação formal, rígida, intensa e que a disciplina de Artes, no caso do que serviu o exército, teve destaque, sobretudo no acabamento das pinturas de cal. Importa lembrar que Castelo Branco, primeiro militar a comandar a ditadura, era assíduo frequentador de teatro, homem de cultura erudita, o que nos leva a pensar na Carolina de Brás Cubas: bonita, porém coxa.

A dita gestão militar acaba sendo até dura demais com eles, que foram ainda mais com o país. Quando chamada de ditadura militar, a passagem de pouco mais de duas décadas faz parecer que somente milicos empunhavam a batuta. Uma miopia, pois que a quantidade de civis que apoiou o golpe em 1964 e que se manteve no poder ao lado das fardas era enorme. Ditadura civil-militar é mais justo. E nem por isso mais branda.

Ou falar que o governo do Bolsonaro é civil fica incoerente, porque tem mais militar na máquina do que havia na referida ditadura.

Incoerente é também o sargento que é vereador, e nem é só por isso (se chamar de sargento numa Câmara de Vereadores é confundir um pouco as patentes). Ele foi contra as cotas pra negros no concurso público e, estudioso que é da sócio-história de nossa região de passado escravista, sabe que a Zona da Mata nunca foi das mais arianas. Sábio acadêmico que é, deixa a esperança de que ele terá outros lugares pra colocar os negros nas escolas, que não a sala de aula.

Contra negros ele não pode ser, afinal, é brasileiro, então deve ser contra as cotas. E com ele, os demais homens da Comissão embarcam na incoerência de aceitarem uma professora. Pelo menos negaram outras duas, mas usar o sistema de cotas pra deixar uma entrar no meio de emplumadas figuras da reflexão educacional nacional pode prejudicar os planos de tornar Juiz de Fora uma referência pra Finlândia e pro Canadá.

Ao que parece, aos fardados estar à frente de uma Comissão de Educação, Cultura e Turismo é de suma importância pra fazer frente ao governo. Justo seria, ainda mais em se tratando de opositores da esquerda e da inclusão social (que passa pela Educação, pela Cultura e pelo Turismo), mas há uma distinção entre ser oposição ao governo e agir contra a cidade.

Historicamente (e eles, estudiosos que são, conhecem muitos casos), nomes importantes foram opositores a governos em diferentes épocas e nem por suas falas ou por seus atos agiram contra os espaços governados. Fazer oposição a um governo é ter propostas que considera melhores, não apenas dizer não, não e não batendo o pé no chão, fazendo bico e cruzando os braços. Governa-se pro povo, não contra um governante, a oposição deve ser consequência dessa lógica.

Num país sem governo, ficamos sem lógica.

Claro que Casal, Rossignoli e Wagner têm planos fantásticos e conhecimento incontestável sobre Educação, Cultura e Turismo da cidade, é o mínimo que se espera de quem assumiu uma Comissão dessas. Se tiverem alguma dúvida, podem humildemente consultar a Cida, que deixaram por piedade fazer parte da Comissão, e que foi eleita vereadora com apoio dos professores de Juiz de Fora. Laiz Perrut e Tallia Sobral, excluídas da Comissão, também são professoras, convém lembrar aos acadêmicos comissionados.

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