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Amar de longe também vale?

Tô devendo. E não só a coluna da semana passada, que, por incapacidade de traduzir em palavras tantas ideias possíveis para esse nosso encontro, acabou não sendo entregue a tempo. A sensação de não ter feito o bastante, em tempo hábil, é recorrente. Na maternidade, no trabalho, nas relações pessoais e profissionais sigo tentando me convencer de que grande parte das expectativas com as quais convivemos são, de fato, inalcançáveis.

Tô devendo tantos encontros com as pessoas que amo que me sinto muitas vezes envergonhada. A gratidão pelos amigos que tenho e que não desistem de mim e me cuidam, mesmo de longe, é imensa. A existência de vocês me conforta, me alivia das dores do mundo, aquece meu coração. Sei que deveria me esforçar mais para que os encontros se concretizem, os abraços, os vinhos, os papos. Mas preciso admitir que ainda não estou dando conta.

Não foi fácil aprender a nos recolher com a chegada da pandemia. E reconheço que retomar a rotina de convivência, pra mim, também não é. Talvez porque nunca tenha sido fácil enfrentar o mundo lá fora. Meu sonho sempre foi ter uma casa pra ficar quietinha dentro dela e, não de forma surpreendente, aos vinte e poucos anos fui a primeira da turma a comprar meu apartamento. Sem viagens ao exterior, sem carro, sem um monte de roupas de marca (talvez nenhuma… rs), mas com a chave do meu apartamento na mão. Nada me fazia tão feliz como abrir a porta de casa e, enfim, ficar quietinha no meu canto.

Eu gosto de gente, principalmente das pequenininhas. Acredito que quando me aposentar de lecionar para gente grande vou aprender como dar aula pra gente pequena. Mas, a cada dia, tenho menos vergonha de assumir que prefiro ficar sozinha. Em silêncio, em casa, de pijama, pronta pra sair em minutos caso chegue uma mensagem ou o telefone toque com alguém precisando de mim. Mas, se não tocar… Ou se eu não sentir a urgência da minha presença… Vou ficar por aqui.

Minha mãe costuma dizer, e sei que é verdade, que se alguém precisar de mim 11h40, às 11h41 tô dentro do carro indo ajudar a resolver. Mas, senão estiverem precisando, peço com carinho a quem me ama: me deixa amar de longe.

Todos os dias quando acordo (não é referência ao Legião Urbana), penso com carinho nos alunos que me inspiram, como o Welbert, que tive a sorte de ouvir essa semana falando sobre sua carreira profissional, e a admiração não cabia no peito ao ver que qualidade de ser humano e profissional tive a chance de ter em sala de aula. Sorrio sozinha ao ler que a Telminha não cansa de ser corajosa e vai, mais uma vez, investir na mulher maravilhosa que ela é e em seu potencial; me aquece o coração ver a Didi crescer e florescer, o Serginho seguir seu espírito nômade e correr esse mundo espalhando a gentileza que é seu cartão de visitas; os olhos ficam marejados em saber que no meio de tanta gente incrível no mundo fui a escolhida para amadrinhar o Pedro, o bebê mais lindo nascido em 2022, provando que esse ano tem jeito. Acompanho cada conquista da família de longe e agradecendo a Deus por ser do mesmo sangue desse povo que faz o possível e impossível para que cada um de nós se sinta pertencente e importante.

Eu amo vocês, eu juro. Quietinha, aqui no meu, canto faço como definiu Lulu com muito mais poesia: “silenciosamente falo com paixão, como quem ouve uma sinfonia.”

Tô devendo, não nego. Mas, hoje vim pedir um favor: me deixa passar no crédito!