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A instabilidade na democracia das estações

(Foto: Daniel Costa /Unsplash)

Uma friaca congelou o Brasil nos últimos dias, claro reflexo da instabilidade política do país. Em nações de tradição democrática, o calor vem no verão, o frio no inverno, as flores surgem na primavera e caem no outono. Neste outono tupiniquim Bolsonaro ainda não caiu (se bem que não é flor que se cheire, nunca se sabe quando o anexo colostômico estará com ele).

No verão, mesmo quando ainda era primavera, o calor estava infernal. Provavelmente pelo inquilino no Palácio da Alvorada ser oriundo das regiões enxôfricas. Fato é que as reclamações iam de “nem precisa mesmo de horário de verão, ele chegou sem ser chamado” até “na época do Lula o verão vinha no verão”.

Ainda sem Lula, o inverno chegou mais cedo, o que poderia parecer uma forma de o poder Executivo mostrar sua força de manter o equilíbrio no país. Diante da ausência da palavra “equilíbrio” no vocabulário pós-golpe (o mais perto disso foi a separação entre rosas e azuis, únicos gêneros possíveis na família brasileira), outra alternativa precisa ser buscada. Ela não está longe e traz muita ostentação.

Lula e Janja se casaram. Quer ostentação maior do que se casar com O Cara, como disse o Obama? Ainda mais servindo bebidas superfaturadas pela imprensa, que já superfaturou triplex, sítio e mensalos (o do PT é ão, o do PSDB é inho), sem falar na culpa do presidente. O Bruno Calixto, que é jornalista de verdade, não de propaganda, contou essa história.

Casamento, até de metalúrgico, é lugar de roupa chique. Nem que seja marcada por pizza de suor debaixo do braço. Será que O Cara não pode fazer um friozinho chegar? Pois chegou. Nesse friozinho a lua-de-mel fica mais aconchegante. E pra quem quiser retomar o assunto ostentação sobre a suíte de núpcias, converse com o Paulo Vieira (@PauloVieiraReal) no Twitter.

Depois o recém-casado continua suando a camisa, faça calor ou faça frio, pois é sempre Carnaval no Brasil, de acordo com os Titãs, o que se torna verdade, ou quase, pois estamos na quaresma do novo normal. Outro tuiteiro interessante (que não é tuiteiro de profissão, mas professor, coitado) que pode esclarecer isso é o Luiz Antonio Simas (@simas_luiz). A quaresma acaba no dia de Exu.

Se o inverno fica mais intenso (não vai, a instabilidade segue regendo), mais gente vai ser solidária. Porque no inverno tem campanha do agasalho, doação pra Sopa dos Pobres, preocupação com os moradores de rua. É só esquentar um pouquinho que a consciência para de pesar e eles que procurem trabalho. Onde, cara pálida? Tá lendo jornal não? Ou tá, cheio de manchetes-ostentação.

As notícias de frio (ou de chuva) não precisam vir acompanhadas de aumento nos obituários, já sobrecarregados de trabalho nos últimos anos devido a um vírus e muita inação governamental. Políticas públicas pensando na coletividade, no futuro não apenas imediato e eleitoreiro e na estabilidade do país enquanto nação precisam acontecer e não é de hoje.

O desenvolvimento social passa pela discussão política, que nasce em uma boa educação, em casa e na rua. Quando o educador é respeitado enquanto condutor de diálogos importantes em grupos de estudantes, o pensamento político cresce. É importante, e não é doutrinação, discutir política na sala de aula, ou educa-se pra alienação. E fundamental: na sala de aula, não na sala de casa. Pensar no coletivo requer o coletivo. Estudar em casa é onfalocentrismo e quem olha demais pro próprio umbigo abaixa bastante a cabeça. Se isso ocorre em um país inteiro, a bunda fica exposta pro mundo (como está hoje a do Brasil).

O relacionamento entre educação e política é um trabalho constante, incansável, às vezes movido a tapas e beijos e que não pode se divorciar. Separar educação de política é separar o frio do inverno e o calor do verão. É separar a democracia da construção de um estado democrático de direito. E um golpe é como uma viuvez.

Lula ficou viúvo duas vezes, seguiu vivendo, trabalhando, lutando e amando. Casou-se de novo. Também com o Brasil casou-se duas vezes, agora quer o terceiro matrimônio. Aguardemos a primavera pra saber da lua-de-mel.