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Sobre as dores do crescimento…

(Foto:Kotagauni Srinivas/Unsplash)

Ah, que saudades que dá de quando as dores do crescimento só doíam nos ossos. De uns bons anos para cá, a dor é muito mais em cima. Esquenta a cabeça e aperta o peito.

Começo esse texto imaginando um balão vermelho bem cheio, disposto a voar, com disposição para chegar pra “lá de Marrakesh” e sendo seguro por um barbante sem cor, rígido e sem graça que o lembra que nem todo vento é convite para uma aventura.

Quantos de nós, que já passaram da fase posso tudo e mais um pouco, experienciada na adolescência, se viram chamados às pressas para assumir a postura que se espera de um adulto: deixar os sonhos para a hora do sono e priorizar os compromissos em detrimento dos devaneios que nos tomam de assalto nessas voltas que o mundo dá.

E quando falo de liberdade penso desde o desejo de voltar a colocar a música no último volume enquanto dançamos livres pela casa, matando as saudades de quem já fomos,  até nos perder brincando de nos imaginarmos vivendo outra vidas. E se eu tivesse tomado outro caminho naquela terça-feira? Se não fingisse que não entendi? E se tivesse embarcado naquele ônibus? Recusado a proposta de emprego? Pensando menos que duas vezes antes de tomar uma decisão? Ter dito sim, no lugar de não posso? É uma experiência revolucionária que pode nos dizer muito mais sobre nossos reais desejos e medos do que gostaríamos.

A vida de adulto, meu amigo, não é para os fracos. E quando me refiro a adultos, não digo gente velha não, viu povo dos “vinte e poucos”. Falo de quem assume o compromisso de viver de acordo com as responsabilidades que assume e não foge das pedreiras que chegam junto com o direito de ser o responsável por suas escolhas.

A gente não fazia ideia né? Quando vejo meu filho de dez anos louco para assumir as rédeas da própria vida, a vontade que dá é contar a verdade para ele. Mas, deixa o tempo ensinar. Crescer é bom, libertador, fortalece … mas dói.

Doí abrir mão. De ser leve, de não ter medo da febre do filho que sobe na madrugada; da nossa cabeça que não para de doer; da recessão que acaba com os empregos; das contas que se acumulam sobre a mesa; de ter que arcar com as consequências de calar tudo que se quer dizer; de encarar o novo e abrir mão do velho.

Ainda não tinha parado seriamente para pensar no peso das nossas decisões até que me vi pensando nessa figura do balão e dimensionei o peso que carregamos por conta das decisões que tomamos. Nosso barbante segue firme. Segurando os desejos, os sonhos, aquela atitude irresponsavelmente apaixonante que nos faz gastar horas admirando nossos ídolos que morreram jovens demais.  Nos satisfazemos assistindo o voo do outro.

Pode ser que tenha que ser mesmo assim.

Ou pode ser que não.

Por via das dúvidas, sigo mantendo o balão cheio de gás e apreciando a brisa faceira que não se intimida com barbantes.