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Uma cotovelada que resultou no VAR

Luis Herique mostra local atingido por Tassotti para Puhl (Foto: Reprodução/Todos os Corações do Mundo)

Bem, a história é um pouco longa, por isso vou dar uns saltos estratégicos. Mas, para você que xingou o VAR, como o companheiro deste O Pharol, Ailton Alves, nesta Copa do Mundo pelo menos uma vez por dia (se não o fez, tá vendo futebol errado, desculpe), é necessário explicar que a criação da ferramenta tem tudo a ver com os Mundiais, como quase toda mudança de regras no futebol. Juro, não é implicância com o companheiro!

O primeiro episódio no qual o futebol despertou para a importante contribuição que o auxílio de vídeo revisão poderia dar para a correção de injustiças no futebol ocorreu em 1994. Na Copa dos Estados Unidos, como sempre fazem, os americanos encheram o campo de câmeras.

Tinha imagem de tudo que é lado e ângulo, fazendo do Mundial um show televisivo que só o estadunidense sabe produzir. Além disso, uma equipe de cinema produzia um filme (notem, quase todas as copas têm um ‘filme oficial’, mas só 1994 teve uma superprodução, com lançamento mundial no ano seguinte). E foi dela a melhor imagem do fato.

Fúria de Luis Henrique

Quartas de final, Itália x Espanha, rivalidade, nervos à flor da pele. Os italianos venciam por 2 a 1 quando, em contra-ataque no fim do jogo, aos 48 do segundo tempo, o meia-atacante espanhol Luis Henrique entrava no segundo pau, tomando a frente do lateral Tassotti e aguardava o cruzamento da direita.

Foi quando Tassotti não teve dúvidas e desferiu uma cotovelada no nariz de Luis Henrique quase na entrada da pequena área. Todo o estádio viu e, com a transmissão, quem prestava atenção no alto da tela também. Mas o árbitro suíço Sándor Puhl, um dos melhores do mundo à época, não. Revolta, melado descendo, o espanhol indignado, mas nada a fazer.

Dias depois, por conta das imagens captadas pela TV e pela equipe de Todos os Corações do Mundo, a Fifa anunciou a primeira suspensão baseada em imagens de sua história. Tassotti foi suspenso por oito jogos por conta da cotovelada, ficaria de fora da final que deu o tetra ao Brasil, mas a partida entre Itália e Espanha manteria seu resultado.

La mano de Henry

Seguiu-se então o curso dos eventos, agora com mais possibilidades de punições com base em imagens, mas sempre faltando o senso de urgência que minimizasse injustiças dentro das partidas. Veio então a fatídica mão no domínio do atacante francês Henry.

Nas eliminatórias para a Copa da África do Sul, em 2009, a França teve que disputar a repescagem contra a República da Irlanda – não confundir com Irlanda do Norte. Após vencerem por 1 a 0 em Dublin, os franceses perderam no tempo normal, pelo mesmo placar, em Saint-Denis. Jogo na prorrogação e, aos 13 minutos, falta cobrada na entrada da área, a bola ia escapando de Henry pela linha de fundo, quando o atacante francês a dominou com a mão esquerda e cruzou rápido para Gallas cabecear para dentro do gol.

Revolta dos irlandeses, mas o árbitro sueco Martin Hanson deu o gol. O próprio Henry chegou a admitir dentro de campo e após a partida que o domínio havia sido ilegal. Claro, as imagens da linha de fundo e da lateral são irrefutáveis. Mas de nada adiantou. França na Copa, Irlanda fora.

A partir deste episódio, a Fifa autorizou o estudo de maneiras de a tecnologia ser inserida dentro dos jogos. A revisão de jogadas pelo vídeo foi aprovada para teste de campo em 2016 pela Fifa, e a Copa da Rússia, em 2018, foi o primeiro Mundial a usar o Video Assistant Referee (VAR).

Se a tecnologia causa muitas vezes revolta nos torcedores mais tradicionais e irá impedir a repetição de um dos gols mais icônicos das Copas, a La Mano de Dios de Maradona, exaltada pelo Ailton, pelo menos a promessa é não se ver mais injustiças como as cometidas com Espanha e Irlanda. Será?